Descobri-me tarde. Percebia-me de longe como um timoneiro
com sua luneta olhando terra á vista. Era como estar ali e não estar. Fazia
questão de tantas coisas e de outras simplesmente deixava ir. Nessa descoberta,
agora, acho que me equivoquei tanto. A partida de Hugo mudou meu olhar sobre a
vida. No primeiro momento parecia que havia morrido com meu casamento, ou
melhor, o fracasso dele. Afinal de contas, eu passei seis longos anos da minha
vida projetando a cerimônia mais marcante, para ver tudo ruir em
quatro penosos meses.
Eu convivi com esse cara piamente por oito anos.
Dividi minha trajetória com ele, aliás, de tanto conviver acabei embolando a
minha vida na dele, ao ponto de não saber onde eu começava e ele terminava.
Caramba, eu amava esse ser! È, nossa, eu amava esse ser?
Não sei se na etapa em que me encontro, depois de
pensar em degolar a sua cabeça, arrebentar seu carro, cuspir na cara da minha
linda “melhor amiga” e destruir nosso ninho de amor desenhado meticulosamente por aquela arquiteta que só faltou me cobrar os olhos da cara ,eu ainda tenha fôlego
para sentir qualquer coisa pelo Hugo. Foi tanta cacetada que é inevitável:
Estou anestesiada! Sinto-me anestesiada. Mas me sinto não em paz, não seria a
palavra correta, talvez mais segura. O encontrar-me depois de tanto tempo fez
com que aflorasse em meu ser um pouco mais de firmeza diante da sinceridade da
minha alma tão esquecida, abandonada por mim mesmo. Fico há recordar quanto
tempo investi no meu corpo para me sentir bela, bem e estonteante para o
namorado, noivo, marido e é impossível não me culpar por ter abandonado tanto
minha alma desse modo vil, torpe e até mesmo cruel, às vezes fazemos muito
isso. Cultuamos tudo, menos a própria essência, o amor próprio. Sustentamos a
ferro e fogo o amor ao outro, a relação e esquecemo-nos do principal que sem
se amar o ser humano peca pela sua própria natureza. Confesso, se eu ouvisse ou
lesse algo desse tipo meses atrás seria uma daquelas pessoas hipócritas que
dizem colocar a família acima de tudo, mas na verdade estão afundadas pelo
imenso vazio do esquecimento que enterraram suas almas. Ninguém pode fazer o
outro feliz sem estar não na busca da felicidade, todavia vivendo-a intensamente
não nas entrelinhas, mas nas entranhas. “Conjugamos o subjuntivo: ‘Quando eu
crescer, casar, tiver filhos, netos serei feliz” Quando vamos parar de por a
felicidade como um sentimento que só vive no futuro quando ela sempre esteve ao
alcance das mãos. Uma vez na faculdade li um livro uma frase que me revoltou na
época, no entanto, me marcou, talvez hoje eu saiba o porquê: “ As
pessoas mais felizes do mundo vão para casa no fim do dia com suas roupas
fedendo.”
Sem extremismos, todavia há sua verdade como disse
anteriormente na nobre citação. Agora eu busco acima de tudo esses fragmentos
de mim que se perderam no caminho por onde passei. E junto a mim levo a pá,
pois terei muitas pessoas inventadas por mim para justificar um riso
falsificado para disfarçar a falta de luz
constante que meu eu se tornou nessa jornada.
Sobre Hugo digo: Passou. Demorou entender, alcançar,
perceber, ou seja, qual for o verbo que melhor couber nessa frase, o
importante, o crucial é que aceitei, tomei como verdade o fato de que não foi a
traição que acabou com meu casamento ou com o nosso sentimento, simplesmente
porque nunca existiram, pois eu não estava lá. Eu não existia. Somente essas
personalidades que fui envolvendo dentro do peito para viver e correr atrás
dessa felicidade futurística e tão utópica que o mundo faz a gente crer. Agora
quanto a mim, hoje digo: Estou aqui. Amanhã... É como as reticências que usei,
deixo o destino escrever, pois preciso
descer para caminhar até a padaria, há muita vida e vidas por lá, e certamente
eu acharei um bocadinho de felicidade se me permitir encontrar e eu quero me
permitir mais do que nunca.
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