Ela abriu a porta jogando as chaves sobre o criado mudo como quem
se livrava de um peso. Jogou-se na velha cadeira e logo que suas mãos
repousaram sobre o velho tecido outra vez volveu a memória a ele. Foi
impressionante rememorar vendo o dia em que chegou ofegante com a mesma nos
braços num tempo que ainda não havia elevadores no prédio. Seu rosto
tinha vontade, satisfação e contentamento pelo dever cumprido de ter lhe dado
algo que sabia ser tão importante para ela, e pensou:" _Como podem
ser as pessoas!"
Por um segundo refletiu sobre a discussão que tiveram pelo mesmo
assunto não duas, três e sim diversas vezes. E sentiu-se cansada. Porque faz
parte da condição humana, cansar-se depois de tantas tentativas pela exaustão
do mesmo agente sempre conduzido ao nada. E viu o quanto o tiro desta vez tinha
acertado em cheio o alvo dos seus sentimentos. Notou-se decepcionada, não com a
circunstância, dado a isso era bem tolerante, entretanto por ter
demandando tanta energia ao que estava tão aclarado como o sol de uma razão
perdida e sem alicerces.
Viu que ninguém muda. Ninguém evolui. O ser humano e sua visceral
inclinação para o egoísmo estão predisposto em seus genes. Tola percebeu fora
ela. E quando o telefone tocou a primeira vez reconhecendo o número, o desgosto
era tamanho que torceu a face para o lado jogando o objeto em cima da cama do
pequeno apartamento. Fosse lá o que ainda precisasse ser dito, uma coisa tinha
certeza, para ela não fazia mais a menor diferença. Era um tempo que não
desejava mais perder haja vista que os preciosos já não mais poderiam ser
resgatados.
Suspirou, ergue-se e foi para o banho. Fez seu macarrão
instantâneo de costume acompanhado do moletom com a marca de tomate que não
conseguira remover, juntou os pés ao corpo ligando a televisão e na terceira
garfada, a Campainha tocou. Apressou-se pensando na amiga que viria para
contar as novidades de seu noivado,no entanto,não era.Para seu espanto,era um
menino com o buquê de rosas brancas em simbolismo de paz.Assinou o cartão, deu
a gorjeta pelo sorriso do garoto, e ao olhar as flores,não deixou de ponderar
outra vez:"_Como podem ser as pessoas!"
Foi durante a madrugada que o telefone fixo tocou insistentemente
e então a intimou a atender e era sua mãe avisando que o fato se dera numa esquina
perto de sua casa, quando ele atravessou o sinal e pelo infeliz acaso um ônibus
colidiu ao seu veículo ceifando- lhe a vida.
Arrumou-se e fez seu papel. Lá esteve, ouvindo, consolando,
e ao se despedir no derradeiro Adeus o olhou na face inerte e pálida e
nada proferiu, talvez porque não havia o que se dito,e o que importava já
fora ou se perdera ou quem sabe jamais fez diferença para ele.
Em pé jazia seu espírito contemplando em petição que ela dissesse
qualquer palavra, contudo, o último vocábulo foi:silêncio.
Dos seus olhos quanto dos deles uma única semelhança proferida em
seus pensamentos foi:
_Como podem ser as pessoas!
E se foram, cada um para seus destinos. Por
intolerância,medo,não sei.As pessoas cansam e disto agora eu sei.
Danka Maia
Até Galera!
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