Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

"Encontrei meu grande amor quando fui comprar um iPad"


Focada na carreira, a gerente comercial Marcella*, 42, nunca havia se casado e já tinha desistido de ter filhos quando conheceu o marido, Tom*, durante um curso de inglês nos Estados Unidos. O destino os uniu da forma mais inesperada e hoje eles são pais de Alice*, de dois meses


"Foi uma celebração simples, mas linda, na mesma montanha onde nos apaixonamos." (Foto: Think Stock)

Aos 40 anos, eu já tinha desistido do amor. Nunca sonhei em casar na igreja e, a essa altura da vida, nem passava mais pela minha cabeça usar vestido branco, imagina! Filho eu ainda desejava, mas achava que no máximo rolaria uma produção independente. A verdade é que sempre gostei muito de trabalhar e coloquei a carreira em primeiro lugar. Foi preciso me deslocar da energia workaholic em que eu vivia para que outras vibrações pudessem entrar.

Tudo começou quando decidi fazer um curso de inglês fora do paíspara me tornar fluente. Meu trabalho demandava esse conhecimento. Percebi que os cursos que tinha feito no Brasil não davam mais conta. Resolvi juntar minhas férias atrasadas – três meses – e passar uma temporada no exterior. A negociação com meus chefes foi difícil porque tínhamos metas ambiciosas para atingir. Ficar tanto tempo afastada pesaria nesse resultado para o grupo todo. Esperei por um ano e meio a empresa decidir o momento ideal para eu sair, mas ele nunca chegava. Um dia, cansada da pressão, decidi impor meu limite. Era começo de 2012. Estava disposta a pedir demissão, mas meus chefes acabaram me dando a licença e combinamos que, quando voltasse, ficaria por mais dois anos. Fechado.
Depois de conversar com amigos, eliminei Londres e Nova York da lista. Na primeira, ficaria na casa de uma amiga brasileira e só falaria português. Na segunda, cairia na balada e não estudaria coisa nenhuma. Decidi ir para Denver, no Colorado.
Cheguei na cidade num domingo, 22 de abril de 2012. Na segunda-feira comecei as aulas de inglês e deixei programados para o fim da viagem cinco dias de férias em Miami com uma amiga. Tinha tudo planejado. Na primeira semana, ia conhecer a cidade e passear. Depois, comprar meus eletrônicos – eu tinha uma listinha da Apple. Eis que, na quarta-feira, três dias depois da minha chegada, acordei com a idéia fixa de ir à loja e comprar de uma vez meu iPad, meu iPhone, o Apple TV. Fui. Sempre penso neste momento: se não tivesse tido um faniquito e deixado de ir às compras no fim de semana, a história teria sido outra.
Assim que o vendedor veio me atender, percebeu que eu estava patinando no inglês e, atencioso, chamou uma vendedora que falava português. Era uma brasileira, Márcia. Entre configurar os programas e jogar conversa fora com ela, fiquei na loja uma hora e meia. Tivemos uma afinidade imediata e, antes de eu ir embora, ela perguntou: ‘Posso te apresentar uma pessoa?’. Fiquei com o pé atrás e soltei: ‘Por quê? Ele está encalhado como eu?’. Até então, eu só tinha tido casinhos e um namoro, aos 30 anos, que durou apenas três. O amor, na verdade, nunca tinha acontecido pra mim.
Márcia riu e disse que não, ele não era encalhado. Tratava-se do enteado dela, solteiro, sim, e um cara muito gente fina. Americano, mas parecido comigo. Ele poderia me mostrar as famosas montanhas do Colorado. Fiquei desconfiada... a troco do que o cara faria turismo comigo? Ela acabou me convencendo dizendo que, no mínimo, seríamos bons amigos. Dei meu e-mail. Márcia mandou uma mensagem nos apresentando e saiu de campo. Tom e eu ficamos conversando por e-mail e, dias depois, saímos para jantar.
Tom foi me buscar na casa onde eu estava hospedada e, quando saiu do carro, abriu um sorriso que há muito tempo eu não via! Olhei para aqueles olhos azuis e pensei: ‘meu Deus, isso vai ser um problema! Não posso perder o foco do que vim fazer nesse país’. Foi uma empatia instantânea e durante o jantar, ele dizia que achava lindo meu sotaque macarrônico. Depois de dois ou três encontros – sempre como amigos, não tinha rolado nada – ele me convidou para ir numa festa de uns conhecidos nas montanhas. Os americanos são mais devagar que os brasileiros na paquera, pelo menos os mais tradicionais, de cidade pequena como Tom, que nasceu na Filadélfia, mas mora em Denver há 18 anos. Então, me levar para conhecer os amigos foi um sinal de que estava realmente interessado em mim. A viagem foi uma delícia, nos demos muito bem o tempo todo e lá ficamos juntos pela primeira vez.
Tom tinha sugerido de acamparmos, mas estava muito frio e acabamos indo para um hotel. Na recepção, ele pediu um quarto só, mas nos EUA, todos os quartos têm duas camas de casal, então levei numa boa. Botei meu pijama feioso, sentei numa das camas ele na outra e ficamos horas conversando. Aí ele disse que estava com frio e que precisava se aquecer... quando vi, ele já tinha pulado para a minha cama e estávamos nos beijando. Parecia que já tínhamos nos beijados mil vezes antes, porque o encaixe foi perfeito, assim como a primeira transa. Que noite maravilhosa!
Continuamos juntos depois. As semanas foram passando e viajamos para conhecer as outras montanhas do estado. Acampávamos, dormíamos no truck dele. Fazíamos amor e tomávamos café na beira de um riacho, parecia um sonho. Mas, durante a semana, como ele estava trabalhando muito, nos encontrávamos pouco, uma ou duas vezes por semana. E, apesar dos momentos incríveis que passávamos juntos, o jeito reservado dele nunca me deu segurança o bastante para sonhar com um futuro para aquela história de amor.
Eu ainda falava por telefone com a Márcia, a madrasta e nosso cupido, e ela me aconselhava a não pressionar, não perguntar. Me acalmava dizendo que os americanos têm outro ritmo. Então fui levando aquele romance sem pensar no que ia dar até 20 dias antes de eu voltar para o Brasil, quando ele me levou para conhecer a mãe dele. Fomos a um brunch na casa dela, passamos o domingo quase todo juntos. Aquilo me encheu de coragem para conversar sobre nós. Não cheguei a ser direta, mas perguntei se ele pensava em formar uma família, ter filhos – aos 39 anos, ele também nunca havia se casado. Ele disse que até pensava, mas que estava passando por uma fase difícil na empresa e não poderia, por exemplo, me bancar nos EUA. Aquilo foi um balde de água fria pra mim... eu só pensava ‘não acredito que isso vai acabar assim, esse romance tão intenso, esse amor tão de verdade.’
Exatamente uma semana antes de ir para Miami, ou seja, no fim da minha temporada nos EUA, eu completaria 40 anos. Tom me surpreendeu com um convite para irmos comemorar juntos meu aniversário num lugar no Novo México chamado Ojo Caliente. É um spa de água termais maravilhoso. Ele reservou um quarto pra gente passar quatro dias – fomos numa sexta e voltamos na segunda. Até cabulei minhas duas últimas aulas de inglês para ficar só com ele!
No sábado, noite do meu aniversário, fiz uma massagem relaxante e depois fui tomar um banho porque íamos sair para jantar. Quando saí do banheiro, ainda reclamando porque o óleo de massagem tinha impregnado no meu cabelo, dei de cara com Tom sentado numa poltroninha, olhando para a mesa onde havia um cartão e uma caixinha. Gelei. Quando peguei o cartão, lá estava o pedido: ‘Will you marry me?’ [Quer se casar comigo?]. Depois de tudo o que tinha rolado nos últimos dias – e que, mais tarde, descobri que era para que a surpresa fosse maior ainda – eu não consegui nem responder, só chorava. E ele ficou nervoso, perguntando ‘Yes or no? Yes or no?’. Falei sim, claro. No fundo, sentia que a gente ia dar um jeito de continuar o relacionamento, mas não tínhamos conversado sobre a logística da coisa. E eu não esperava nunca um pedido de casamento. Mas naquela noite tão feliz nem quisemos entrar na conversa de quem iria para onde e como seria a vida na prática. Só começamos a falar disso no dia seguinte, pela manhã.
Tom é um cara tímido, dono de um negócio próprio. Eu sabia que ele não se adaptaria a uma metrópole como São Paulo. Além disso, demorei tanto tempo para deixar um relacionamento entrar na minha vida dessa maneira, que não perderia aquilo de forma alguma. Logo que voltamos, embarquei para Miami sem ele. Fui encontrar a minha amiga, como combinado, e queria pensar um pouco. Minha vida virou de cabeça para baixo em três meses, tudo para o que sempre me dediquei ia ficar para trás. Eu tinha que ver por onde e como começar.
Voltando para o Brasil, no dia 11 de julho – justo quando eu completava 11 anos de empresa – sentei para conversar com meus chefes. Foi difícil, eles estavam contando com a minha volta para conseguir atingir o faturamento no final do ano. Tinha me comprometido a ficar mais dois anos na firma, mas esse era um assunto maior, pessoal. Era o amor na minha vida. Pedi demissão, mas aceitei ficar até dezembro. Mesmo com a vinda do Tom ao Brasil, em setembro, para conhecer minha família, não parei de trabalhar. Foi corrido, mas consegui levá-lo para conhecer o Rio. Atingi a meta da empresa e, no dia 16 de dezembro, embarquei de volta e de vez para Denver. Vendi tudo o que eu tinha, aluguei meu apartamento e cheguei na minha nova vida com duas malas. E muita vontade de ser feliz.
Dia 15 de fevereiro, casamos no civil para dar entrada no Green Card. A cerimônia religiosa foi dia 7 de julho. Toda a minha família – que ficou um pouco assustada com a novidade tão repentina e sentida com a minha mudança de país – estava ao meu lado, assim como outros 18 amigos brasileiros. Foi uma celebração simples, mas linda, na mesma montanha onde nos apaixonamos. Fui procurar trabalho e arrumei um emprego como vendedora em uma empresa americana.
Dois meses depois, sentamos para falar sobre filhos. Parece rápido demais, mas com a minha idade, não dava para deixar para depois a decisão. Queríamos ou não? Tom pensou em deixar para o ano seguinte, mas aí eu estaria com 42 anos – tinha feito 41 dias antes do nosso casamento. Seria mais perigoso? Mais difícil? Cheguei até a procurar uma clínica de fertilização, tal era a minha certeza de que iríamos precisar. Mas nem foi preciso. Na primeira tentativa eu engravidei naturalmente. Descobrimos em outubro, quando já estava com dois meses e uma semana. No dia 25 de maio de 2014 nasceu a Alice, nossa menininha.
Hoje, minha família roubou o posto que já foi da minha carreira no passado. Minhas prioridades mudaram, quero qualidade de vida, prezo os momentos com a minha filha e meu marido. Não vou ficar parada, porque não acostumaria depois de tantos anos trabalhando até 14 horas por dia. Mas agora sonho em abrir um negócio próprio para poder fazer meus horários e levar minha bebê comigo"


Revista: Marie Claire
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