Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

O LADO GORDO DO SER (por Danka Maia)

  
 imagem google


Antes de tudo quero dizer: ­_Sou gorda e muito!
 
        As vezes inevitavelmente  me pego observando como o mundo me vê e como vê as pessoas que como eu são gordas, obesas, rechonchudas, cheinhas, acima do peso ou mórbidos, a questão é que não importa a alcunha, o fato é que ser GORDO incomoda de modo abissal a sociedade que nos cerca. Logicamente não serei irresponsável em promover qualquer tipo de
 apologia a obesidade, do tipo:
        Seja gordo, morra comendo e feliz!
        Logo eu? Não combina,não mesmo! O que quero dividir com meus leitores é a marginalidade emocional que se faz em torno do gordo principalmente, pois qualquer um que não se encaixa, e agora roubarei a frase que nos cercou nos últimos dias:
"       Não está no padrão Fifa!", aqui direi: "Não está no padrão da sociedade" então não serve, não presta,tem que estar com algo "errado".Pois bem,a maioria das pessoas, e sinceramente falando nos meus cá com os meus botões ouso falar todos, porque não tem jeito se tratando do gordo rola uma pressão abissal.Uma vez uma professora numa conversa, e ela era do tipo muito francamente disse o seguinte:
        -Danka,você não se cansa de sempre ser o ponto de referência? Porque todo mundo estando num ponto de ônibus, ou algo do tipo, haverá se ali houver um gordo mencionar:
        _Está vendo aquele gordinho ali? A pessoa que procura é a sexta da esquerda para direita.
        Respondi seguramente:
        -Por mim tudo bem, todo mundo precisa ser alguma coisa para alguém, até para um idiota que não sabe se expressar.
        Desde muito cedo tive que lidar com duas coisas em minha vida: o fato de ter facilidade em aprender as coisas e a outra de ser GORDA. E era algo que já começava dentro da minha casa, a pobre da mamãe vivia me propondo dietas e afins porque as pessoas cobravam dela o fato de que o meu peso  incomoda-las, nessa época eu ainda não sabia que tinha o problema de saúde que me faz ser obesa.
         Mas já era uma guerra que travava, porque de todo coração digo, jamais em tempo algum ser a gordinha do colégio, da rua, do grupo, da multidão me incomodou. Sempre soube que teria que me impor e exigir o respeito a que tenho direito e que todos seja de qual minoria pertença, também tem que fazer valer.
        Outra coisa que me irrita são as brincadeiras que na verdade são verdadeiras desqualificações humanas de tão bizarras e esdrúxulas. Basta haver a oportunidade de ridicularizar alguém, principalmente entre mulheres, para  mencionar:
        _Tomara que morra gorda!
        Gente,peraí! Não importa o teor da brincadeira, você já ouviu ou viu alguém desejar num lance desse (brincadeira) tomara que morra narigudo? Anão? Por que tem que ser gordo? A imagem da distorção de valores já incutiu de maneira tão veemente na cabeça das pessoas que até os próprios gordinhos riem disso.
        Não tem graça! Não é legal! E não estou afirmando que é bullying porque tudo hoje em dia é bullying, estou somente expondo até que ponto jazem os padrões de nossa dita perfeita sociedade, só isso, nada mais.
        Para as pessoas que não sabem, não entendem o que é ser gordo no sentido de ter ou não um problema de saúde por trás dessa condição quero esclarecer umas coisas:
        * Ser gordo não é comportamento, orientação, defeito, relaxamento, indisciplina, ou é assim porque quer e ponto!
        *O gordo parte do princípio que o corpo dele não te incomoda e se tiver que incomodar será somente o dele. (O que seria uma lógica coerente).
         Muito bem, olha como são as coisas. Na minha formatura, houve uma engraçadinha que teve a brilhante ideia de me desqualificar por eu ser a primeira da turma com as maiores notas e venenosamente falar ao mundo:
        _Querida, assim você vai tomar conta da foto toda!
        Lá fui eu de novo...
        _Amada, não adianta eu sair da frente e ir para trás por causa do tamanho do meu corpo, pois ainda vai prevalecer a parte dele que mais aprecio e que me trouxe a ser a primeira da foto, meu cérebro!
        Eu jamais deixei de viver ou ser quem sou por causa do meu peso. Escutava e escuto pessoas que falam:
        _Nossa, eu admiro a sua autoconfiança, eu não tenho coragem de fazer nada por ser assim.
        Fico pensando...Assim como Deus? Gordo, baixo, alto, ora narigudo!
        Isso é um absurdo!
        Alguém aqui sabe o que há dentro de alguém? Estando acima do peso ou não? Eu sou tão sincera que acho sim que as pessoas tem o direito de não gostar, quer ser preconceituoso que seja, contudo, isso não dá o direito de me julgar, me ridicularizar, de me dizer o que posso ou não fazer. E falo isto em nome daqueles que se identificam nessa situação.
        Entendam um fato: Ninguém tem o direito de dizer ao outro o que ele pode ou não ser. Bem como, onde ou não pode chegar em virtude daquilo que ele é. Sabe por quê? Quando fiz meu mapeamento genético e descobri o problema hormonal grave que tenho, a médica foi enfática quando me  narrou que no meu DNA, na cadeia genética precisa, que agora não recordo, que eu teria esse problema logo, sempre seria gorda, melhor, nasci para ser gorda. Eu posso e devo melhorar minha situação, fato. Assim como todos por questões de saúde devem, mas a opção tem que ser de quem tem o peso a mais e não sua, minha ou da sociedade. Portanto, se respeite, se imponha, faça valer o seu direito de ser o que quiser e quem estiver incomodado como reza a premissa:
        "Os incomodados que se mudem."
        Não gosta de gordos, vá para lua, que aliás passa pelo mesmo problema da maioria dos gordinhos, o eterno efeito sanfona, ora crescente, ora minguante e por fim CHEIA!
        De novo ressalto, cada um tem o direito de ser o que quer, o dever de procurar melhorar, mas principalmente NÃO TER VERGONHA DAQUILO QUE SE É!
        Eu sou Danka Maia, gorda, buscando melhorias, e ponto.
         Bora ser feliz!

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