Manipuladores de sentimentos
Li esse artigo maravilhoso do Autor Ivan Martins na Revista Época e decidi dividir com você.Leia e confira!
Já ouvi muita gente chamar os outros de manipuladores, mas raras vezes
escutei uma explicação que justificasse a queixa. Em geral, pessoas
magoadas acusam de manipulador qualquer um que as desaponte, homem ou
mulher. Não foi o caso desta vez. Eu conversava com uma amiga que está
furiosa com um sujeito. A história dela, apresentada com lógica
rigorosa, me ajudou a entender a questão sob o ponto de vista de quem
foi manipulada. Fez sentido.
O caso é simples: ela está apaixonada por um cara com quem saiu algumas vezes. Sabia que ele era galinha e começou sem expectativas. Diversão e sexo, só. Mas o sujeito é atraente, bom de cama, e faz com que ela ria e se divirta. O sentimento cresceu. Sobretudo, diz ela, por causa do que ele dizia: “nunca foi tão gostoso transar com alguém”, “estou me apaixonando”, “finalmente achei alguém com quem consigo conversar” e outras coisas do mesmo naipe. As defesas dela baixaram e ela começou a achar que rolaria um romance de verdade. Então, de uma hora para outra, o sujeito começou a se esquivar.
Uns dias antes de conversamos, ela o havia chamado para sair. Ele disse que não poderia, porque estava com um problema na família. No dia seguinte, ela soube que ele fora a uma festa. Havia mentido, portanto. Nada mais chato e banal do que isso – mas aí entra a lógica dura da amiga advogada. Por que ele faz isso? Por que mente para ir a uma festa sem ela? Por que dá a impressão de estar apaixonado quando seus atos subsequentes desmentem isso?
A resposta dela é simples: ele mente para manipular os sentimentos dela
e controlá-la. Mente para que ela faça o que ele quer que faça. Mente
para tê-la a disposição dele. É uma questão de poder.O caso é simples: ela está apaixonada por um cara com quem saiu algumas vezes. Sabia que ele era galinha e começou sem expectativas. Diversão e sexo, só. Mas o sujeito é atraente, bom de cama, e faz com que ela ria e se divirta. O sentimento cresceu. Sobretudo, diz ela, por causa do que ele dizia: “nunca foi tão gostoso transar com alguém”, “estou me apaixonando”, “finalmente achei alguém com quem consigo conversar” e outras coisas do mesmo naipe. As defesas dela baixaram e ela começou a achar que rolaria um romance de verdade. Então, de uma hora para outra, o sujeito começou a se esquivar.
Uns dias antes de conversamos, ela o havia chamado para sair. Ele disse que não poderia, porque estava com um problema na família. No dia seguinte, ela soube que ele fora a uma festa. Havia mentido, portanto. Nada mais chato e banal do que isso – mas aí entra a lógica dura da amiga advogada. Por que ele faz isso? Por que mente para ir a uma festa sem ela? Por que dá a impressão de estar apaixonado quando seus atos subsequentes desmentem isso?
Se ele dissesse que iria a uma festa sozinho, abriria a porta para que ela fizesse o mesmo. Sendo ela uma mulher bonita e independente, poderia arrumar outra companhia. Quando ele mente, tenta garantir que, enquanto vai à festa, ela não fará nada equivalente, que ponha em risco a exclusividade dele. Está mentindo para não correr o risco de dividi-la ou perdê-la – sem abrir mão de nada. Se ele ficasse com ela, também se garantiria, mas teria de abrir mão de pegar outra mulher na festa. Para não pagar o preço da escolha, ele mente.
Vale o mesmo, diz ela, para as declarações cheias de sentimentos. Fazem com que ela se envolva e não saia com outros. Se ele dissesse que era apenas sexo, seria mais um cara. Abriria espaço para que ela fosse atrás de coisa mais intensa ou duradoura. Se ele diz que está apaixonado, inibe a iniciativa dela. Está ali um cara bacana, que gosta dela. Por que sair com outros?
A mentira neste caso é uma forma de manipulação, diz ela. Permite se aproveitar do outro sem doar nada e sem correr riscos. Acaba sendo uma maneira de obter poder sobre a outra pessoa, abusando dos sentimentos e da expectativa romântica dela. É, basicamente, uma sacanagem.
Eu concordo inteiramente. Por trás de toda mentira existe uma tentativa de se proteger – ou ganhar alguma espécie de vantagem. Mesmo quando a gente mente para “proteger o outro”, está, quase sempre, tentando se proteger da reação do outro, que pode nos magoar e nos excluir da vida dele. Quem mente tem algo a perder.
Mas, ao contrário da minha amiga, não acho que o sujeito mente apenas por ser malandro e fraco de caráter. Acho que as pessoas mentem, principalmente, porque foram ensinadas a mentir. Sobretudo os homens. As mulheres são capazes de seduzir cruzando as pernas e abrindo outro botão da blusa. É relativamente fácil para elas. Mas o contrário não é tão simples.
Para seduzir as mulheres, os homens precisam de algum tipo de conversa que toque os sentimentos ou a imaginação feminina. Em 90% dos casos, não basta ser bonito. É preciso ser envolvente. Como se faz isso? Sugerindo algo mais do que apenas sexo, por exemplo. Deixando entrever a possibilidade de paixão e envolvimento. Insinuando, ou dizendo claramente, que aquilo é mais do que apenas safadeza. Algumas mulheres precisam disso para se entregar.Outras simplesmente gostam de ouvir. Enfim, funciona com a maioria – por isso é um comportamento tão repetido.
Por que o sujeito continua dizendo coisas apaixonadas depois de transar com a moça, eu, francamente, não entendo, mas pode ser explicado pela lógica da minha amiga: ele quer manter controle. Teme perdê-la se ficar claro que aquilo é somente desejo. Ou se ela souber que é apenas uma entre outras com quem ele sai. Para se proteger da possibilidade de ser rejeitado ou virar mais um na agenda dela, o cara mente. Está maximizando as possibilidades sexuais e afetivas dele, em detrimento das dela.
Há uma terceira explicação para esse tipo de comportamento, que não exclui as outras. Os homens, como qualquer ser humano, querem desesperadamente ser amados. Dizem o que for necessário para tirar a calcinha de uma mulher, e continuarão a dizer depois, se isso provocar afeto e admiração. Somos todos, como espécie, tão carentes e tão inseguros, tão descaradamente frágeis, que não nos custa mentir para obter um grão a mais de amor, para nos assegurar um pouco mais de atenção e de desvelo, para que não nos deixem sozinhos, entregues aos nosso terrível vazio. Se o mentiroso disser que mente por amor, é verdade. Uma verdade perversa e egoísta, mas, ainda assim, verdade. Mente para ser amado.
Para que esta coluna não vire outro capítulo na disputa inútil entre homens e mulheres, deixemos claro: as mulheres também manipulam. A mesma amiga que tão lucidamente critica o comportamento do amante, me contava, tempos atrás, às gargalhadas, como escapara do bafômetro oferecendo a vista do seu decote ao guarda de trânsito que parara seu carro na saída de uma festa. Isso é manipulação, e acontece o tempo todo. As mulheres usam o corpo para embasbacar e submeter os homens. Quantas vezes você já viu uma mulher bonita flertando com todo mundo a meio metro do namorado ou do marido, na cena mais clássica de provocação desde Adão e Eva? O corpo e o poder de sedução das mulheres fazem por elas o mesmo que o comportamento mentiroso dos homens tenta assegurar para eles – mantém o outro cativo, sob ameaça de perder ou ser trocado. É manipulação e jogo de poder com outras armas. Algumas mulheres praticam esse jogo, outras não. Acontece o mesmo com os homens. Não somos todos mentirosos, embora sejamos frágeis e carentes, sem exceção.
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