Mel era uma jovem comum. De olhos, boca, jeito, corpo e riso comuns. Estranho mesmo seria o que lhe ocorreria naquele fim de tarde de maio. Ela atravessou, caminhou, esteve, foi aos mesmos lugares de sempre, definitivamente nada era anormal. A jovem comeu, bebeu, brincou, leu, estudou, escreveu tudo do jeito que tinha que ser. Em casa ouviu, falou, sentiu, provocou, chorou e sorriu, sim, outra vez, de novo igual. E ao fazer a primeira ligação do dia, a hora vespertina fez a moça olhar os raios de sol despedindo-se tímidos da janela de seu quarto, do outro lado da linha deveria estar Arthur, seu namorado, mas vem à vida e seu amante o acaso e convida graciosamente a doce menina a quebrar a própria e santa rotina, ou seja, a monotonia nossa de cada dia.
No
caminho não foi. No táxi também não, mas sabe, nessas horas o coração
da seu jeito para se fazer notar. Ao chegar no prédio do rapaz, subiu
pelas escadas, a sorte dela era Arthur morava no primeiro andar.
Bateu
uma. Duas. Três vezes. Sussurrou, chamou, berrou o seu nome, no entanto
o moço não veio dessa vez. E no terceiro ato de completo desespero que
nesses instantes dominam a nossa mente, rompeu a porta dentro caindo de
cara no chão, foi quando a luz se ascendeu e com ela a pequena multidão:
-Surpresa! - Sem jeito, sem graça, Arthur correu e a levantou feliz por tê-la ali diante de si. E em meio a todos confessou:
-Amor, esperei seu aniversário para fazer nele o meu pedido. Quer casar comigo? -Mel não pensou duas vezes:
-Não!
-a sala emudeceu, os semblantes tornaram-se cerrados, Arthur perplexo,
tentando entender onde havia errado. Porém Mel a todos e a ele elucidou:
-Lamento Arthur, é mais forte do que eu, não posso me casar se
primeiro não me acostumar com a rotina que isto possa me causar. Com o
aquilo que ainda não domino, entendo ou pratico. Admito, é estranho,
entretanto essa ainda sou eu, e se foi.
Às
vezes de tanto precisarmos acostumar com o que os olhos alcançam e
nossas mãos envolvem, esquecemo-nos do delírio mais nobre dessa
plenitude que intitulamos de vivência: O melhor da vida vai além de
existir. E lembrar-se que viver faz parte dessa surpresa, e que para ser
habitada intensamente e de modo exaustivo, merece que se arrisque nela.
Viva a vida, não se tranque nela.
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