Baseada em fatos reais.
Jair era daqueles que contava dias, horas, minutos e segundos para dar de cara com a sexta-feira, confirmação disto era o seu apelido no escritório de contabilidade: Doutor Sexta-feira.
Bastava chegar o fim de semana, que lá ia o Jair e seu ritual. Sábado de manhã acordava cedinho, ia a padaria tomar aquele combinado de café com leite e um pão com manteiga na chapa, conversar com seu Zequinha da Banca onde já comprava seu jornal pois odiava ler pela internet.Dizia que perdia seu encanto. Talvez a verdade fosse que de tanto usar a grande rede durante o dia inteiro no escritório pegar naquele jornal ou seja papel, fosse algum tipo de escapatória da dura rotina.
_Ponho na conta? - Indagou seu Zequinha.
_Pendura como sempre, início de mês trago o seu faz-me rir!- disse despedindo-se do amigo de anos.
Indo em direção a seu apartamento, onde tomaria seu café da manhã com Isaura sua esposa há quase quinze anos. Era um casamento bom, não perfeito, apenas bom.
_Naurinha, acabando aqui vou lá para praia.- Referindo-se a Copacabana, uma três quadras de onde residia.
_Olha amor, - rogou a esposa.- Tome cuidado com essa onda de pivetes que então apinhados na Avenida Oceânica. Pelo amor de Deus, você é muito desligado!
_Pode deixar minha rainha que seu rei sabe se cuidar. - E quando a confessou isso não estava em modo figurado, estava mesmo em modo literal. Jair passou a levar consigo um canivete afiadissímo que ganhara do pai quando pequeno, era do tipo que reagiria caso o fato lhe ocorresse.
E lá foi ele. Passeando mas apreensivo, atento a tudo, afinal sua carteira jazia em seu bolso de trás da bermuda. E foi então que um sujeito alto,magro, negro, com olhar sisudo, sem camisa e descalço veio contra Jair de modo que se trombaram.Imediatamente o contador colocou a mão onde guardava a carteira e constatando que a mesma desaparecera tratou de sacar o canivete e gritar:
_Ô negão! Ô você ai! - O rapaz parou e o olhou sem nada compreender.
Jair enfiou o canivete no nariz do rapaz e nervoso esbravejava:
_Passa a carteira! Passa a carteira anda!
O rapaz entregou sem esboçar nenhuma reação e Jair a pôs no bolso e saiu xingando rua a fora.
Contou aos amigos do bar, todos riram e brindaram do feito heróico de Jair. ao chegar em casa, narrou tudo a Isaura que apavorada respondeu:
_Você ficou louco de vez homem! Ficou é?
_Estou bem amor, botei o negão safado para correr!- argumentou todo orgulhoso de si.
_Jair!- berrou Isaura imponente.
_O que Naurinha? - sem entender a reação dela.
_Você assaltou um homem na rua, sua carteira está aqui!- jogando contra o peito dele.- Tentei avisa-lo mas já tinha descido.
Moral da história? O preconceito nos torna refém do medo e acaba nos tornando preconceituosos tanto ou mais que ele em si.
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