Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

O GENERAL por Danka Maia


 



Essa foi uma das histórias mais emocionantes que ouvi alguém contar e relembrando-a em meus devaneios decidi conta-la ao modo Danka Maia.


  Dora nascera para Antero assim como o sol para o mar.

Ela uma típica mocinha de 15 anos em 1939 e ele um jovem com 19 anos que servia a marinha por amor e devoção,amor maior somente a Dora.


O casamento foi breve,naquele tempo não havia muito o que esperar,afinal de contas estourara a segunda guerra mundial e o  Brasil participou diretamente, enviando para a Itália (região de Monte Cassino) os pracinhas da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma importante vitória ao lado dos Aliados. Entre eles estaria Antero Borges Filho. Casados há pouco mais de três meses os jovens se despedem no porto do Rio de Janeiro.

Mas exatos dois meses e sete dias depois a moça recebeu em sua casa a carta que mudaria a sua vida,a sua fé a sua alma.
O Sargento Borges falecera em combate,receberia as honras de um combatente de guerra.
Disse Paul Valéry: A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em benefício de outros que se conhecem mas não se massacram.
Muitas,milhares de guerras começaram quando só guerra ceifou alguém que pessoas amavam,verdadeiras guerras a de tentar sobreviver quando a razão deixou de existir.
E foi exatamente o que Dora passou a vivenciar.Viúva,dilacerada,descobrira que estava grávida,mas nada podia explicar a aprendiz de auxiliar de almoxarife a razão de tudo aquilo,era evangélica,praticante,exemplo,e sua alma revolvia o mesmo questionamento:


_Deus por quê?


Dora olhava para os céus no entanto,ninguém descia,ninguém surgia para da-la no mínimo uma explicação.
Para piorar sua situação a marinha não reconheceu o direito de sua pensão como viúva pois haviam se casado a menos de seis meses e a jovem sentiu-se sozinha a largada no mundo.
Dos céus só  pássaros e por mais belos nenhum deles poderia sanar suas preocupações,revolta e dor.
Durante 52 anos Dora combateu veementemente a existência de um Deus,dizia batendo contra o peito:


_Eu sou a prova de que Ele não existe!- E a todos propagava seu opróbrio.

Até que um dia atravessando as ruas do centro do Rio de Janeiro,enquanto esperava o sinal abrir um mendigo aproximou-se dela dizendo:


_Antunes Borges Filho!


Sobressaltada em escutar aquele nome depois de tanto tempo,uma vez que a filha daquele amor,Maria Rosa,assim como os netos,Marcos Paulo e Mariana evitavam ao máximo,pois sabiam o quão doloroso era aquele assunto.Dora,agora uma senhora de 67 anos parou,fitou o morador de rua e replicou:


_O que foi que o senhor falou?


O maltrapilho aproximou-se com cuidado e repetiu imponente:


_Antunes Borges Filho.Seu marido não é?


_Foi.-rebateu lançando o olhar ao chão ainda repleto de muita dor.


_Dona,sei que tem muitas razões para não crer no que tenho a lhe falar mas Deus manda lhe avisar que apanhe esses papeis pelos que tem batalhado seus direitos volte ao quartel e Ele mostrará que você nunca esteve sozinha.

O sinal abriu,Dora cerrou o punho com a papeleta e rompeu para sua casa.Perguntava a si como aquele morador de rua poderia saber tantas particularidades de sua vida? Como sabia o nome de Antero? Como sabia das papeletas? Aquela era a quinta vez no mês que tentara ser recebida pelo comandante para tentar reaver o caso em benefício agora de uma aposentadoria para ela,abrira mão de todos processos que abriu por aqueles longos e tortuosos 52 anos.

Falou com a filha,os netos,todos ouviram atentamente mas permitiram a decisão final coubesse a ela,Dora.

A noite nunca foi tão longa,densa e silenciosa.

Pela manhã tomou seu café,apanhou as papeletas e foi ao quartel pela sexta vez,pensou que não tinha nada a perder mesmo,o mais precioso jamais voltaria.E seguiu.

Ao chegar na guarita de pronto um soldado lhe bateu continência e a saudou:


_Bom dia senhora!- Dora o cumprimentou porém se surpreendeu pela continência e simpatia.Nos dias anteriores aquele mesmo soldado não permitira se quer ouvi-la.

Prosseguiu sua caminhada até a recepção. Cada militar que passava por ela lhe batia continência,por algum instante achou até engraçado depois sentia na pele um novo contexto em sua história.
Dora foi conduzida por repartições,bem tratada,com direito a cafezinho e mais continências.

Por fim a convidaram para falar com o Comandante,que bateu continência e a saudou com riso fácil.

Foi uma conversa dura mas proveitosa.Dora receberia todos aqueles anos,a aposentadoria e o pedido de desculpas pela desonra que fora subjugada.

Ela estava radiante! E começou a pensar no mendigo,no que ele dissera,e a também escrever um novo recomeço com Deus com um pedido de perdão profundo quando um cabo ofegante veio correndo atrás dela já fora do domínio do Quartel:


_Senhora! Senhora!


Um momento de dúvida lhe passou no pensamento.


_Sim meu jovem.-Respondeu solícita.


_Desculpe vir assim atrás da senhora mas é importante.


_Sim meu filho,diga!- Ficando mais apreensiva.


_È que meu superior pediu para lhe perguntar de qual base é aquele General que veio lhe acompanhando?


Dora parou e replicou confusa com a indagação:


_General? 


_Sim senhora,veio com a senhora,estava na grua bati continência para Ele,assim como todos no quartel.Não teve quem não visse,estava com a senhora,atrás de seu ombro direito.Só não conseguimos identificar de onde era seu comando,suas vestes eram tão brancas e suas medalhas ao mérito tão reluzentes.Sem dúvidas trata-se de um grande General!


Com os olhos marejados,Dora lembrou-se da última frase do morador de rua:Você nunca estará sozinha!- Olhou para o jovem e visivelmente emocionada objetou ao moço:


_Sim,Ele é um General.Diga ao seu comandante que é o Maior de todos.O General dos generais.


_Mas senhora...- E saiu caminhando plena de que seu maior erro foi esquecer que Deus pode sim permitir que venhamos a perder amores e amores,mas Ele jamais permitirá que a dor seja maior que aquela que possamos suportar e nunca nos deixará sozinhos.Lembre-se: Quando estiver ruim,e no fio de esperança a vida lhe bater continência saiba há O Maior dos Generais guerreando por você!






 












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Um comentário:

  1. Lindíssimo o conto. Tantas vezes esquecemos d'ELE e ELE nunca se esquece de nós. Um abraço e uma boa semana

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