Costumava ir com a minha mãe cortar um pinheirinho para o Natal, e
depois apanhar musgo para fazer o presépio. Inevitavelmente voltava destas
aventuras com a roupa um pouco molhada e com as mãos impregnadas de terra e
resina. Mas com o meu sorriso de criança bem aberto.
Seguia-se a colocação da árvore no sítio mais bem escolhido. As
luzes, as fitas de Natal com muitas cores, bolas e sinos brilhantes, uma
estrela de papelão colorido.
Depois, espalhava o musgo pelo chão, juntava os pedaços num puzzle
perfeito. Precisava de um manto verde extenso, o espaço parecia ser sempre
curto para colocar todos os participantes do presépio. A cabana onde colocava o
berço, com uma estrutura improvisada cada ano, e coberta com os pedaços de musgo
mais bonito. Aos Reis Magos, juntavam-se o pastor, com as suas ovelhas brancas,
o pescador ao lado de uma ponte... e se existia uma ponte, era preciso retirar
um pedaço de musgo para transformar um simples plástico azul ou um velho
espelho num rio. Ao fundo, o castelo, que estava num monte, também ele
construído com o que existia à mão, e coberto por musgo, mantendo o efeito. A
ligar estas personagens, umas mais improváveis que outras, um caminho de neve,
inventado com produtos da despensa lá de casa.
As prendas aconchegavam-se ao lado da árvore. Sentia uma imensa
curiosidade infantil que me levava a pegar nas prendas, sentir o formato,
abaná-las. Tentava perceber o que se escondia dentro do papel de fantasia, mas
nunca abria as prendas antes do tempo. Gostava da antecipação, deste pequeno
jogo de adivinhação.
Lembro-me bem deste pequeno combate que travava com a minha
curiosidade, com a vontade de descobrir o mistério. E do cheiro a terra
molhada, não o cheiro a terra molhada do verão, a terra molhada que vinha
agarrado ao musgo e o cheiro a pinhal que ficava na minha sala. Tudo isso dava
mais brilho ao conjunto.
Lembro-me do aroma dos fritos de abóbora, a minha missão em
criança era a de adoçá-los com canela e açúcar, que misturava
meticulosamente, procurando a dose certa de cada um. E lembro-me do cheiro do
café, que ainda não podia provar. Anos depois, apenas gostava daquele
café com os doces de Natal.
São estas recordações que ainda me fazem gostar tanto do Natal,
ainda que já use menos fitas e que o meu presépio seja agora mais pequeno. Mas
só os acessórios de Natal diminuíram. Continuo a enfeitar o cantinho da minha
sala - agora no meu apartamento da cidade - com o mesmo sorriso de antes, com a
mesma ansiedade para ligar as luzes e vê-las a piscar, a mostrar que o Natal
vem aí. Continuo a misturar a canela com o açúcar...
É talvez a lembrança da Felicidade pura de quando somos crianças.
Mas também a Felicidade que ainda consigo ver nos adultos nesta altura.
É uma altura em que as pessoas são mais solidárias, mais
disponíveis para estar um pouco com os outros. Dizem alguns que nesta altura
todos fazem num mês o que deviam fazer durante todo o ano, e que é uma época de
consumismo. Sim, isso também é verdade, mas ainda vejo o espírito verdadeiro de
Natal em algumas pessoas. Ainda existem pessoas que sabem que um abraço, um
sorriso, uma mão, um ombro, uma palavra simpática, valem infinitamente mais que
um presente embrulhado. E é isso que faz o Natal e é por isso que gosto
genuinamente desta altura do ano.
E em cada noite de Natal, mesmo agora já crescida, consigo por um
momento lembrar-me daquela criança loira, sentada no chão, a olhar para as
luzes de Natal a piscar, simplesmente e apenas feliz.
Deixo aqui o meu simples desejo de Natal: que nos lembremos de
como uma pequena luzinha nos pode fazer felizes, nem que seja apenas por uma
noite.
Foto: Google |
Desejo a todos os colegas do Beco de Ideias e a todos os nossos
leitores um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de criatividade e sonhos
realizados!
(Regressarei em Janeiro! :) )
Isa,
ResponderExcluirSei o quanto gostas do Natal desde a primeira vez que nos encontrámos e senti o teu entusiasmo por esta época. São bonitas lembranças que nos ofereces e há magia em cada momento que partilhas.
Há consumismo, pois sim, mas há em alguns, como há em ti, aquele brilho no olhar que diz o verdadeiro sentido desta celebração.
Feliz Natal para ti e um grande abraço!
Dulce
PS: Já estamos impacientes de te reencontrar aqui em Janeiro!
Beijinho!
Obrigada, Dulce! Adoro mesmo o Natal e ter amigas como tu apenas faz momentos como este mais especiais! :) Beijinhos
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