Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Felicidade Crônica por Danka Maia




  



Ela era a mulher mais feliz da casa,da rua,da cidade, do país e sim, também do mundo. Amália perdera os pais num acidente de carro aos sete anos, os avós aos quinze, e ao vinte dois o único amor com quem se casou e teve os gêmeos Guilhermo e Antunes.Ela era gorda, baixa, pele manchada e de cabelos muito crespos e desbotados. Tinha um busto imenso,pernas arqueadas,era professora, ganhava pouco, não dava quase para nada.
No trabalho, riam dela,pais,mestres e alunos.Pareciam insulto,mas Amália ria de tudo sempre chupando uma bala.
A vida passou para ela como quem passa aos olhos de um presidiário, sol quadrado, feio, um descaso.Porém, o crime dela era ser feliz apesar de tantas perdas lastimáveis,irreparáveis e dores insuportáveis.
Ninguém a nunca a visitava,nem mesmo os filhos depois de crescidos e que diziam a ela amar.
Amar Amália, que mal há?
Ela jamais chorava,narrava que água das tais foram levadas com os móveis da última enxurrada que acabou com sua casa, mas não com seu lar.Não se importava, dava os ombros,ria e dizia:
_Há forças em meus braços? Então bora lá!
E vida foi passando.
E quanto a mesma a dava razões para ser infeliz por competência,Amália simplesmente sorria ignorando tudo e todos, andando só com a sua consciência.
Um dia depois da última tragédia, um dos filhos morrera com a mulher e os dois netos numa viagem, a vizinha decidiu ir visita-la.
Estava visivelmente abatida,mas aquele sorriso, aquele teimoso riso,estava lá.
_Como você consegue mulher?- perguntou a vizinha com a mão no queixo.
Amália sentou-se na cadeira de balanço e começou a dissertar:
_Conta-se uma história que um dia uma senhora apaixonou-se por um homem, que na verdade era um encanto, a terra só vinha de dez em dez anos.Durante toda a vida da mulher, ela só o viu cinco vezes.Cinco vezes em cinquenta anos.Morreu e ao chegar as portas do céu, alguém a indagou:"_Foste feliz na Terra?",ela abriu um riso lindo e profundo e redarguiu:"_Sim,eu fui feliz e  fui fiel."
A vizinha parou  refletindo e depois de alguns minutos e um gole no café que acabara de fazer retrucou:
_Você é a tal mulher, e o homem a felicidade?
Amália sorriu e serena respondeu:
_Sim,de sorte ela sou eu.E sim a felicidade em minha vida pode ser este homem, mas no meu caso nem cinco vezes se quer a vi.
_E se morreres hoje,dirás que foi feliz e fiel a esta felicidade?
_Sim.- objetou firme.
_Por que Amália?- a vizinha interrogou.- _Tudo que a vida te fez foi sofrer e a felicidade nunca te visitou!
_É verdade, eu sei.- confessou.- Mas esse é o segredo da felicidade,se for fiel a ela, ainda que nunca a veja,mesmo que como um amante que te abandona,te ignora,a tua fidelidade de busca-la, fará de ti pessoa alegre ou como eu, a mulher mais feliz do mundo.
_Por que?
_Porque nunca cri que depois de tantas perdas ainda poderia ser infeliz.
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