Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

A Despedida Por Danka Maia





 
O conto de hoje, aconteceu comigo Danka Maia, não o caracterizo como terror ou suspense, mas de fato  onde só no sobrenatural podemos talvez encontrarmos algum tipo de respaldo. Todo mundo tem aquele tio que mais gosta, eu tive três, infelizmente  todos já não estão entre nós.Com cada um deles vivi algo especial,porém um deles foi uma relação mais intensa,uma amizade que foi além da vida. Meu tio Jorge, era uma pessoa que a primeira vista parecia de trato difícil, muito enérgico, bravo, cheio de atitudes, contudo tinha um coração  do tamanho do mundo. Engraçado que quando criança tinha um certo receio com ele,talvez por causa desse jeito explosivo e intempestivo que lhe era tão peculiar.
 O tempo vem, o tempo vai, e meu pai e ele eram muito amigos, trabalhavam juntos, e quando tive que enfrentar uma das fases mais complexas de minha vida que foi a separação dos meus pais, o tio Jorge foi de  uma presença marcante em minha vida e a partir dali foi que nossos laços se estreitaram.Recordo que naquela tempestade  no seio de nossa família, minha mãe com depressão sem conseguir notar eu ou minha irmã, meu pai  querendo viver a vida dele, meu tio apareceu e fez toda diferença do mundo. Eu trabalhava com meu pai também, tinha meus  treze ou catorze anos, fazia as cobranças, serviço de banco e coisas do escritório da oficina mecânica dele.A minha rotina era após a  escola,pela manhã, ir para o trabalho  até as cinco horas.Voltava sozinha, as vezes  papai me trazia, mas com aquela confusão isso foi deixado de lado,tínhamos nos afastado, um abismo se abrira entre mim e ele.Quando havia carona de alguém conhecido  recebia ordem para vir até o centro da minha cidade, outras passei a voltar de ônibus,mas meu tio vendo tudo aquilo tomou para si aquela responsabilidade,passou a me levar para casa.Da oficina até minha casa havia dois trajetos, um que durava cinco outro que levava quinze minutos de carro.Meu tio escolhia o de quinze minutos,no início não alcançara o motivo recordo de indagar sempre:
_Tio, por que não vamos pelo asfalto?
_Fica quieta menina, sei o que estou fazendo. - rebatia ele.
Nós dois discutíamos muito, chegava ser engraçado. Com o tempo fui notando que ele via que estava só,sem ninguém para me observar, na adolescência, fase complicada para todo mundo apesar de deleitosa,aqueles  quinze minutos, tio Jorge dedicava a mim,instigava assuntos e me abria com ele.Me dava conselhos,brigava por outras coisas, elogiava  algumas,porém naquela  roda gigante que  minha vida estava, no fim sempre dizia:
 _Haja o que houver, seu pai sempre será seu pai e sua mãe sempre será sua mãe.Não importa, aprenda uma coisa, uma das coisas mais árduas que aprendemos quando crescemos  é que pai e mãe  não são os heróis que imaginávamos ,são seres humanos como qualquer outro.Erram e acertam, é fato.- Até hoje repito isso e foi ele quem me ensinou.
 Foram quase três anos que meu tio assumiu para si uma responsabilidade que não era dele,mas por amor a mim o fez.E o fez muito bem.O amor de alguém não pode ser medido,entretanto,são nos detalhes que podemos alcançar até onde esse sentimento pode ir por você.
A vida passou. Nos distanciamos, nos víamos porém passou a ser raro.Ele me mandava beijo e abraço pelos meus primos e eu os mesmo por eles.
Até que meu tio adoeceu e eu também.Agora não dava para ele vir ou eu ir,e meu tio faleceu.Tenho um ritual comigo, não vou ao enterro de ninguém,prefiro ter na memória a última lembrança da pessoa bem comigo e  tinha muitas com o tio Jorge.As tentativas desastrosas de me ensinar  a dirigir seu caminhão, tocar  seu berrante e a sua sanfona.Contudo,fiquei com aquela coisa dentro de mim de que não pude me despedir dele.
Na madrugada que completava o sétimo dia do falecimento dele tive um sonho que me marcou na alma. Peguei  um ônibus para Sampaio Correa, um distrito de Saquarema, onde passei minha infância e a maioria dos meus parentes moraram e outros que ainda moram.
Neste ônibus, fui eu ,minha mãe, minha tia(esposa do tio Jorge) para nos encontrarmos com a família na praça de Sampaio,seria um encontro de familiar, o outro ônibus vinha de Niterói ,era a informação que tinha.Mas do veículo desceram somente meus familiares que já haviam partido para a outra vida.Meus avós,minha tia-avó,meu outro tio querido e o tio Jorge.Todos se abraçaram,todos exceto eu e meu tio, nós somente nos olhávamos,parecia que só eu e ele sabíamos que eu era do veículo da parte dos vivos e ele dos falecidos.Minha tia sua esposa,o abraçou e o perguntou:
_Jorge,onde você estava? Vamos voltar para casa.- Tia Fátima narrou limpando os olhos meu tio nada falou.Até que se aproximou de mim,recordo claramente que meus olhos rolavam lágrimas ,como agora enquanto escrevo e lembro,porque foi algo muito forte e no olhar do meu tio as lágrimas do mesmo modo predominavam.Então ele sorriu  e falou:
_Vim para me despedir de você menina.- Era na maior parte do tempo como ele se referia as pessoas." ô Menino,ô Menina!" .
Abaixei a cabeça e as lágrimas brotavam aos montes. Meu tio levantou meu queixo e disse:
_Sei que nós não tivemos a oportunidade de nos despedirmos. Tanto eu ou você estávamos com problemas. Mas pedi essa chance e me deram. - E pela última vez nos abraçamos. Queria me controlar, todavia não conseguia.
_Olha, - disse meu tio.- Quero que continue.Siga em frente,quero que vá em frente e quero que saiba que sempre amei muito você,não como um tio emprestado(porque era tia Fátima quem era irmã de minha mãe),porém como um pai.-Limpou os olhos tentando ser o sempre Jorge Tróia,forte, bravo e amigo.
E se afastou o ônibus já buzinava para que entrasse e voltasse a "Niterói outra vez." e volvi ao meu e voltei para Saquarema. Sabe, nem sempre a vida vai te dar condições de compreender certos eventos, mas se puder, nem que seja após este plano vai encontrar um meio de dar respostas para alguns episódios. Ela nos deu o direito de nos despedir porque sabia que na hora marcada para a partida dele isso não seria possível para ambos. No entanto, compreendia a importância que esse momento tinha para cada um de nós.
Estou seguindo desde então, até chegar o instante em que o que foi despedida se torne um novo reencontro. Sei que um dia eu voltarei a ver, falar, abraçar, brigar,sorrir e principalmente estar com meu Tio Tróia.

Fim...
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