Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

“SOFRO DE NINFOMANIA E SOU FIEL”.

A ninfomania é uma doença mais comum do que as mulheres imaginam (Foto: Shutterstock)

A publicitária Renata*, 24 anos, sempre gostou muito de sexo. Só descobriu que seu interesse era excessivo quando o namorado se mudou para o exterior. Ela sentia tanta falta de transar que não conseguia trabalhar, se masturbava cinco vezes ao dia e pensava em traí-lo. Ninfomaníaca, Renata precisou de terapia e remédios psiquiátricos para se controlar. Hoje, sabe lidar coma questão e não pensa em trair. Mas admite que, se pudesse, faria sexo todos os dias


Sempre fui bastante interessada por sexo. Era precoce em relação às meninas da minha idade. Aos 12 anos, já adorava ler contos eróticos pela internet. Minhas amigas sequer entendiam do que eu estava falando quando tentava conversar sobre masturbação. Ainda assim, minha primeira vez demorou um pouco para acontecer. Comecei a namorar aos 14 anos, mas só fui perder a virgindade com ele aos 17. Passamos quase um ano tentando transar, mas doía, era desconfortável. Quando finalmente conseguimos, foi incrível. Gozei muito. E rapidamente nos acostumamos a ter uma frequência sexual boa, de pelo menos três vezes por semana. Era comum que eu saísse da escola ao meio-dia e fosse direto para a casa do meu namorado, para transar. Depois, voltava para a escola. Ficamos nesse ritmo por quase um ano, até que ele teve que se mudar para Minas Gerais com a família. Ainda tentamos manter a relação à distância, mas acabou não dando certo. Eu não tinha paciência e nem maturidade para sustentar um namoro assim.
Logo que terminamos, percebi que sentia muita falta de sexo.Mas eu estava no primeiro ano da faculdade, conhecendo muitas pessoas e, com a vida dinâmica de solteira, consegui manter praticamente a mesma frequência sexual da época do namoro. Transava pelo menos três vezes por semana e cheguei a sair com cinco caras diferentes ao mesmo tempo. Até hoje, não sei como administrava tanta gente, sem que uns soubessem dos outros. Fiquei solteira por quase três anos e não faço ideia de quantos parceiros tive nesta época. Um dos caras com quem eu ficava me levava a casas de swing e eu me divertia horrores. A gente ficava das 10h da noite às 6h da manhã por lá e eu ia trabalhar direto depois. Meu recorde foram oito transas, com parceiros diferentes, numa mesma noite. Nem me sentia cansada. Sempre abri mão de uma noite de sono por uma bela noite de sexo. Achava que minha vida sexual era bastante agitada, mas nunca pensei que isso fosse um problema ou um distúrbio. Minhas amigas não eram como eu, mas achava que elas eram reprimidas, envergonhadas. E eu, despachada, sem amarras ou moralismo. Quanto mais transava, mais disposta ficava.
Essa farra acabou no dia em que vi meu namorado pela primeira vez, em um restaurante. Temos a mesma profissão e eu já admirava o trabalho dele como publicitário. Quando nos conhecemos, por amigos em comum, nos apaixonamos na hora e começamos a namorar imediatamente. Foi avassalador. Nos dávamos muito bem, dentro e fora da cama. O sexo era excepcional. Mas, aos seis meses de namoro, por motivos profissionais, ele precisou ir embora para Londres. Que sina a minha de ter namorados distantes! Mas estávamos muito apaixonados e resolvemos manter o namoro. Até poderíamos ter tentado combinar algo como um relacionamento aberto, mas nosso desejo não era esse. Também não sabíamos quanto tempo ele ficaria longe e, achando que o afastamento seria breve, decidimos continuar juntos.
Em seis meses de distância, enlouqueci. Nas primeiras semanas, sentia muita vontade de transar e não tinha como me saciar. Comecei a me masturbar, uma, duas, três... até cerca de cinco vezes por dia e não adiantava. Tentei fazer sexo por telefone e webcam, mas ainda assim não melhorava. Com o passar do tempo, comecei realmente a perder o controle. Eu acordava pensando em sexo, ia trabalhar pensando em sexo e dormia pensando em sexo. Via uma caneta na mesa do escritório e imaginava obscenidades. Cheguei a me masturbar no banheiro da empresa. Era um desejo compulsivo, e estava impossível de me concentrar em qualquer coisa. Ao final do terceiro mês, eu comecei a ter um forte mal-estar físico, sentia ondas de calor, tinha vontade de urinar, mas não saía nada quando eu ia ao banheiro, minha cabeça doía muito. Já nem percebia que era tudo culpa de um absurdo tesão reprimido. A situação foi piorando até o ponto em que eu não conseguia mais dormir. Virava para um lado, para o outro, faltava alguma coisa e eu não fechava os olhos.

NO CONSULTÓRIO

 Resolvi consultar minha ginecologista. Expliquei a história toda e tudo o que ela me sugeria como solução, eu já tinha tentado: vibrador, vídeo, masturbação de todas as maneiras. Nada funcionava. Diante disso, ela resolveu me encaminhar para uma psicóloga. Achando que a questão era física e não psicológica, comecei a terapia. Meu namorado acompanhava tudo remotamente de Londres, desesperado com a possibilidade de que eu o traísse. Confesso que pensava muito nisso, mas me segurava por amor. Quando ele começou a ver meu desespero, chegou a dizer que se eu precisasse transar com alguém, que eu fosse e não contasse para ele. Eu sofria demais. Mas sei que, se ele soubesse que eu tinha transado com outro homem, ficaria muito chateado. Estava muito apaixonada e não fazia sentido magoá-lo. Então, bloqueei todos os amigos com potencial para se transformar em um caso extraconjugal.


ETERNAMENTE EXCITADA

 Minha rotina ficou inviável: passava os dias excitada sabe-se lá com o quê. Minha calcinha vivia molhada e acabei desenvolvendo uma candidíase por estar sempre úmida. Via paus e xoxotas por todo lado, tudo me remetia a putaria. Eu não podia assistir a uma cena de novela ou ver as costas nuas de um ator, que já ficava enlouquecida. Tinha dores de cabeça, minhas costas viviam tensas. Era como se tivesse um vício e uma forte abstinência da droga. Na terapia, contava para a psicóloga tudo o que eu pensava. Começamos a tentar condicionar meus pensamentos. Ela me pediu para imaginar as coisas mais estapafúrdias quando eu tivesse ideias sexuais. Se eu pensava em sexo, imediatamente me concentrava para lembrar de um pasto, por exemplo. Algo nada erótico, que me desligasse dessa sensação de excitação. O problema é que não funcionou. No auge do desespero, tentei pensar em cocô. E isso me lembrou de bumbum, que eu já comecei a associar com imagens eróticas. Diante da falha na terapia, a psicóloga disse que meu caso demandaria remédio, algum calmante inibidor de libido, e que eu deveria consultar um psiquiatra. Iniciei uma bateria de exames neurológicos e ginecológicos. Fiz tomografia, vulvoscopia e testes hormonais, até que encontramos um problema. Um os hormônios, estrogênio, que ajuda a regular a libido feminina, estava em concentração muito acima do normal no meu sangue.

O DIAGNÓSTICO

O diagnóstico foi uma doença vulgarmente conhecida por ninfomania. O psiquiatra me perguntou se eu tinha previsão de quando veria meu namorado ou se eu poderia transar com outra pessoa. Diante da minha negativa, ele receitou um calmante tarja preta, que eu comecei a tomar sempre que a loucura do tesão se apoderava de mim. Só que tinha que ser uma dose muito moderada porque além de inibir a libido, o remédio poderia me deprimir.

Quando contei para o meu namorado tudo aquilo que estava passando, sua primeira reação foi de se achar sortudo. Os homens costumam ter essa ideia. Mas, infelizmente, não é assim. A ninfomania é uma compulsão, que me provoca sensações muito ruins e que precisa ser controlada. Segurei a onda como remédio por mais um tempo até que meu namorado me deu a linda notícia de que estava voltando. Quando isso finalmente aconteceu – depois de seis meses de distância – quase que não deu conta do meu fôlego. E eu, depois de tanta repressão, não conseguia ter orgasmos. Três tentativas depois, tudo se normalizou. Todos os sintomas de estresse, dores de cabeça e musculares, insônia, falta de concentração sumiram. Minha ginecologista me disse: “Renata, você gosta da coisa, realmente gosta e não pode ficar sem fazer”. É uma sensação maluca, um tesão eterno.
A volta do meu namorado foi ótima, mas não eliminou o problema definitivamente. Tive fases de querer transar todos os dias, duas ou três vezes, para ficar minimamente tranquila. E é óbvio que isso é impossível, meu namorado e eu trabalhamos, ele é quase 20 anos mais velho e fica difícil acompanhar o ritmo. Já tivemos brigas e quase terminamos porque eu queria muito sexo e ele não estava tão a fim. Por um dia ou dois, eu até me segurava, tentava entender o cansaço e o ritmo dele, mas em dados momento, surtava, não conseguia olhar na cara dele, de tanta raiva por estarmos transando “pouco”. Chegava a explodir, questionava, grosseiramente, porque a gente namorava, se ele não dava conta de mim. Dizia coisas pesadas. Sei o quanto esse tipo de conversa deve ser difícil para um homem. Querendo ou não, vivemos em uma sociedade machista que pressupõe que o homem seja sempre aquele que procura pelo sexo. E ele, fazendo o máximo, não era o suficiente para mim...
Hoje, quatro anos depois, com muita conversa e concessões de ambos, conseguimos manter um ritmo de transas razoável para os dois. Há um ano, ele está morando no Rio de Janeiro. Mas temos nos visto toda semana e tem sido suficiente para não me dar loucura. Tenho evitado o calmante, porque ele acaba afetando a minha disposição para outras coisas. Não há remédio específico para baixar a libido. Aliás, há muito poucos estudos sobre o tema. Eu mesma tenho sido objeto de pesquisa da sexóloga Regina Navarro Lins. Ela me disse que, embora pareça raro, o problema é comum. Só que as mulheres não sabem que tem e não falam, porque têm medo de parecer vulgar. Sorte que eu sempre tive uma relação de muito diálogo como meu namorado, então, para mim, foi mais tranquilo. Mas sei que não é fácil para a maioria, que dá vergonha dizer para o marido ou namorado, depois da relação sexual terminar, que você não está 100% ou que quer de novo.
Estamos pensando em morar juntos quando ele voltar do Rio. Hoje, temos uma relação mais tranquila, sem desconfianças. Se sinto muita vontade, aviso para ele. Já aconteceu umas duas vezes de eu estar bem desesperada para transar, ligar, ele pegar um avião e, em uma hora, estar na porta da minha casa. Você acha que eu vou trair um homem desses? Não faço mais terapia, mas tenho feito, sozinha, um trabalho psicológico muito forte. Sou capaz de me concentrar, de controlar meu estresse quando estou sem sexo, muito mais do que antes. Consigo manter um relacionamento e ser fiel. Ter descoberto que sofro de ninfomania e buscado ajuda foi fundamental para os meus planos de futuro. Acho que tentar se entender é algo que todas as mulheres deveriam fazer. Se você sente uma vontade excessiva de sexo, não se reprima. E se, ainda assim, esta vontade atrapalhar sua vida, procure ajuda médica.

Fonte: Marie Claire
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