Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Eduardo Assad: "É impossível dizer quando a seca acabará"

Bebeu água? Tá com sede ?  Parece que vai continuar...Confira a Entrevista de Eduardo Assad a Revista Época.

O pesquisador da Embrapa, especialista em clima, diz que a duração da estiagem é imprevisível. E que é preciso recuperar a floresta além de fazer obras de engenharia

CALOR E ÁGUA O pesquisador Eduardo Assad em sua casa, em Campinas. “Coitada da nossa Petrobras. O Monteiro Lobato deve estar irritado lá no céu” (Foto: Rogério Cassimiro/ÉPOCA)


Existem explicações científicas para a estiagem histórica que atinge o Sudeste. Mas nenhum cientista arrisca dizer quando ela acabará. Para Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do Brasil, a secura nos reservatórios é uma combinação de ciclos naturais, do aquecimento global causado pelo homem e ainda da destruição da Mata Atlântica nas regiões dos rios e mananciais. Assad critica a as opiniões heterodoxas do ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo. E diz que, além de obras de engenharia, é preciso recuperar as florestas para fazer a água brotar de novo.
 
ÉPOCA – Por que estamos passando por essa seca inédita?

 ​Eduardo Assad –
São dois fenômenos independentes. Primeiro, há uma variação no clima da Terra provocada por um ciclo natural no Oceano Pacífico e no Atlântico. O oceano passa por fases em que está retirando energia da atmosfera e absorvendo-a em suas águas profundas. Isso tem impacto em todo o planeta. No Brasil, reduz a frequência e a força das frentes frias que vêm do Polo Sul para o Sudeste e gerariam as chuvas que alimentariam as represas. Estamos passando por uma fase dessas. Além disso, existe outro fenômeno. É uma zona de alta pressão que se forma sobre o Atlântico e impede a entrada das frentes frias. Elas só vão até o Paraná e não chegam a São Paulo. É o que se chama de bloqueio atmosférico. Essa é uma condição normal no inverno. Mas em 2013 o bloqueio não se dispersou depois do inverno. Impediu a entrada de frentes frias no verão e durou até outubro de 2014. Depois, as chuvas começaram a se normalizar. Mas outro bloqueio se formou no meio de dezembro de 2014 e só está se dispersando agora, no fim de janeiro. Isso já tinha sido observado antes, mas não com essa intensidade. Tem a ver com alteração nas temperaturas dos oceanos, que estão mais quentes. É possível que tenhamos eventos de baixa pressão como esses com mais frequência nas próximas décadas.


ÉPOCA – Pode haver outro bloqueio no próximo verão?

 Assad –
Os modelos de meteorologia não permitem fazer essas previsões. Se você me perguntar se o bloqueio vai voltar depois do inverno deste ano ou só daqui a uma década, não tenho como dizer. É impossível dizer quanto tempo vai durar essa seca.


ÉPOCA – A estiagem faz parte de algum ciclo natural?

 Assad –
Existe um debate no meio científico entre um grupo que defende estarmos dentro de um padrão e outro que afirma que o padrão está mudando. O primeiro grupo considera que o clima varia, mas que essa variação ocorre dentro de uma mesma média ao longo do tempo, chamada séries estacionárias. A partir daí, estudam as séries históricas, conhecem as máximas e as mínimas, e podem avaliar o que esperar na hora de planejar uma barragem ou uma hidrelétrica. Só que essas séries históricas não estão mais valendo. As mudanças climáticas estão alterando todos os padrões. Não adianta mais olhar para os valores históricos e imaginar que continuarão a se repetir no futuro. Fizemos um estudo em Campinas (São Paulo) que mostra isso. Desde 1800, a média anual de chuva oscila. Em alguns anos chove mais, em outros menos. Mas a média ficava em torno de 1.600 milímetros por ano. Nas últimas décadas, essa média tem se deslocado. Entre 2010 e 2014, ficou em 1.200 milímetros por ano. Em 2014, choveu 900 milímetros. A última vez que a média anual ficou acima de 1.600 milímetros foi em 1980. Isso significa que a faixa considerada normal está mudando. Provavelmente por causa das mudanças climáticas.


ÉPOCA – As previsões do IPCC (Painel de Ciência do Clima da ONU) e do painel de clima do Brasil – e o senhor faz parte de ambos – indicavam um aumento nas chuvas para a Região
Sudeste. Por que isso não está ocorrendo?


 Assad – O que está acontecendo estava previsto nos estudos sintetizados pelo IPCC. O IPCC preconizou que fenômenos extremos vão ocorrer com mais frequência. E eles estão ocorrendo. Em alguns casos, são secas fora do normal. Em outros, chuvas mais intensas do que o usual. Nas últimas décadas, houve uma redução nas médias de chuva ao longo do ano, pela oscilação cíclica no Pacífico. Mas a tendência é o total anual voltar a crescer ao longo do século. O que não exclui anos de seca. Além disso, existe outro fenômeno, que é o das chuvas isoladas. Mesmo num ano que chove menos, o temporal pode ser mais intenso. Na Região Sudeste, a previsão é de intensificação dos padrões de chuva de 5% a 10% até 2020. Isso significa que, se uma chuva extraordinária era de 100 milímetros em 24 horas, passará a ser de 110 milímetros. Já em 2070, a previsão é para chuvas de 15% a 20% mais fortes. No fim do século, de 25% a 30%.


ÉPOCA – Por que o Sistema Cantareira, que abastece São Paulo, está secando?

 Assad –
Isso é o produto de um conjunto de erros. Primeiro, o aumento de temperaturas associado ao aquecimento global gera mais evaporação nos reservatórios. Para piorar, a região sofreu com a destruição da vegetação natural. O município de Bragança Paulista, na área da Cantareira, só tem 11% da cobertura florestal. A água bate no solo, escorre e evapora. Não infiltra para alimentar represas e nascentes. Um estudo inédito feito pela Embrapa Informática Agropecuária e pelo GVAgro, da Fundação GetulioVargas, mediu a destruição. A bacia do Sistema Cantareira tem 8.170 quilômetros de rios em 12 municípios. O Código Florestal determina a proteção de uma faixa de vegetação na borda de córregos e nascentes. Aplicando o Código na Cantareira, descobrimos um deficit de mais de 32.000 hectares de vegetação protegida por lei. Isso tudo foi desmatado de forma irregular. Estou falando só da mata ciliar, da margem dos cursos de água. Nem estou incluindo a vegetação de topo de morro, que é protegida por lei porque preserva nascentes e evita erosão do solo e também foi desmatada. Se a vegetação estivesse lá hoje, não faltaria tanta água. Será preciso replantar usando vegetação da Mata Atlântica, e não eucalipto. Em Extrema, na região da Cantareira, onde há vegetação nas nascentes, a água já voltou a fluir com as chuvas. Pouco, mas voltou. Recuperar a floresta é tão importante para nossa segurança hídrica quanto as obras de interligação de reservatórios ou de estações de tratamento. Isso não é novidade. A cidade de Nova York, nos EUA, comprou áreas montanhosas na região dos mananciais. Pagou para os fazendeiros reflorestarem e preservarem. Hoje tem segurança no abastecimento.

"Aí vem o Aldo Rebelo e nega
o aquecimento global. Só falta chamar o Cacique Cobra Coral"
 
ÉPOCA – O desmatamento da Amazônia pode ter relação com a estiagem no Sudeste?

 Assad –
As pessoas costumam exagerar um pouco nas associações. É verdade que a Floresta Amazônica gera umidade, que alimenta as chuvas no Norte e no Centro-Oeste. Que parte dessa umidade viaja pela atmosfera e também ajuda a alimentar as chuvas no Sudeste. Mas dizer que o desmatamento na Amazônia já foi capaz de reduzir esse fluxo de umidade a ponto de causar estiagem em São Paulo é uma hipótese que ainda precisa ser comprovada. Se a Floresta Amazônica perdesse a capacidade de gerar umidade e chuva, a área mais afetada seria a própria Região Norte. E hoje as chuvas lá estão normais.


ÉPOCA – O que podemos fazer?

 Assad –
Precisamos evitar que os oceanos e a atmosfera continuem aquecendo. Precisamos parar de jogar no ar os gases responsáveis pelas mudanças climáticas. Aí vem o Aldo Rebelo, ministro de Ciência e Tecnologia, e nega o aquecimento global. O ministro questiona a ciência feita há décadas pelos principais centros de pesquisa do mundo e do Brasil. Depois disso, a quem recorrer? Só falta chamar o Cacique Cobra Coral (fundação esotérica paulista que diz usar poderes místicos para fazer secar ou chover).


ÉPOCA – Alguns defendem que o Brasil ganharia se tivesse metas unilaterais de cortes nas emissões e apostasse em seu potencial de energia limpa, com mais usinas solares e eólicas. Faz sentido?

 
Assad – Temos aqui no Brasil um tesouro de estoque de carbono. Se você fizer isso sem negociar internacionalmente, vai perder essa riqueza, como entregamos nosso ouro no século XVII. Agora, temos uma capacidade imensa de reduzir as emissões de carbono ou mesmo tirar parte do excedente na atmosfera usando a preservação e o reflorestamento na Amazônia e adotando técnicas modernas na agricultura. O desenvolvimento dessas técnicas pediria investimento de apenas R$ 50 milhões por ano. Além disso, nosso novo Código Florestal exige a revegetação das áreas de proteção permanente (margens dos rios e topos de morros) desmatadas irregularmente. São 25 milhões de hectares a ser replantados para captar carbono da atmosfera e ainda proteger nascentes. Não é discurso de ambientalista. É engenharia ambiental. Não quero saber se vai salvar o macaco ou a capivara. Só estou argumentando que a biodiversidade ajudará a manter a função hídrica da floresta. E abrirá um imenso negócio florestal e ambiental. Quanto às usinas eólicas e solares, só não vê quem não quer. Incentivar termoelétricas só apoia o chamado petrolão. Coitada da nossa Petrobras. Monteiro Lobato deve estar irritadíssimo lá no céu.
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