Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

A Menina Que Não Tinha Saudade






Apesar de ter um dos meus livros com o mesmo título,essa cronica é inédita!


Aprecie Sem Moderação!




 Mina vivia pelas ruas causando alarme nos vizinhos e o que causava espanto era que além de muito ágil parecia não ter muitos sentimentos. Alguma coisa na vida daquela menina a transformara ou simplesmente não permitira que  desabrochasse para o mar dos emoções.Por duas vezes haviam a levado para uma Instituição de menores,mas  fugia, e no outro dia lá estava Mina,a menina que não tinha saudade.
Morava debaixo da ponte com avó, o que ninguém sabia era que os pequenos furtos de alimentos ou roupas que a garota cometia, tinha naquela avó a ultima morada da guria.No entanto,a vida tem sim essas mazelas, apontamos o dedo indicador como juízes,afinal, ofertar os demais sempre carece maior esforço, na verdade um pouco,somente um pouco de intenção. A vida da mocinha resumia-se ao comer o almoço e já traçar como arrumar o jantar, não havia espaço para emoções,cria que eram poções que a gente pode esperar.
Na vizinhança observando jazia Clemente, bancário aposentado, cabelos grisalhos, óculos fundo de garrafa, sempre barba por fazer, um poeta não assumido, um amante de causas impossíveis, toda vez que o destino cruzou o caminho senil coma menina, era isto que Mina representava para ele, uma causa não perdida, mas esquecida, daquelas milhões que a humanidade não quer se ocupar.
_Essa menina não presta!
_Pivete!
_Safada!
_Ladra!
Todos diziam, todos não, havia  um que nada discorria, a via com olhos especiais.Sim,porque é necessário ver de outra vertente o nó cego que a vida dá.E enfim houve  um dia que Mina foi a casa dele para furtar e Clemente que já a esperava deixou uma mesa farta e a convidou para sentar.
_O senhor vai me prender?
_Não.
_Vai me matar?
_Não.
_Vai me estuprar?
_Também não.
_Vai fazer o que?
_Eu vou te escutar.
A garota abaixou a cabeça, ninguém jamais a contara que o que  falava era digno de se ouvir.Pensou consigo:"_Esse velho doido,vou sumir daqui."
_Olhe moço,não perca seu tempo comigo.Sou alvoroço,nasci com o pé torto,estragado, eu não chego lá.
_Depende. - rebateu Clemente.
_De que?
_De onde for o seu lá.O meu era aqui,-mostrando a sua casa, a foto das filhas e da esposa já falecida.-E eu cheguei,então ,você também pode chegar.
_Posso não, todo mundo fala que sou coisa ruim.
_A questão não é o que te falam, e sim, se você escuta. O mundo pode  falar severas coisas de mim,mas eu estou aqui,e o que eu sou,só eu sei,ninguém mais,e nisto que se deve acreditar.
_O senhor sabe o que é saudade?- ela indagou como súplica.
_Sim, vivo nela e dela sou. Você não?
_Nem sei o que ela é doutor.
_Venha comigo. - Disse o moço a puxando dorso da mão.-Pode ver aquele lindo beija-flor ali em cima daquele muro? Alinhe seu corpo aqui na minha sombra, está vendo?
_Sim, estou vendo!- explodindo de alegria. -Ele é azul-escuro brilhante  e ...- o pássaro voou.
_Já foi o segundo! Passou o instante! - arrematou o homem.
A menina pôs os olhos em Clemente sem esconder a frustração e desencanto da precoce partida da ave.
_Se foi... - concluiu.
_Saudade é isto, filha.
_O que?
_Este segundo que acabou de passar. A Saudade nunca passa, é sempre esse segundo presente perdido de que algo ou alguém que amamos que acabou de esvair cá entre os dedos. -mostrando-lhe a mão.-Mas toda vez que ela roí,volta-se no tempo.- volvendo o corpo dela para o muro.-Fecha-se os olhos,expurga as dores,sai rancores,perdões e o que era prisão vira liberdade, e o que era tristeza vira alegria, e o que era maldade-agora tocando nela.- Torna-se bom por natureza.
_Por quê?
_Porque a saudade é mais refinada das purezas.
_Eu quero ter saudade.
_Para lembrar-se do beija-flor ou sentir dentro de si o toque da intensidade?
A menina só falou:
_Para deixar de ser maldade.
Clemente se comoveu com as palavras e a expressão decidida no semblante da menina.
_Você tem pai ou mãe?
_Só avó.
_Nem irmão?
_Cairão no mundo,sei deles não.
_E você gostaria de ter o que para sentir saudade?
_Alguém feito o senhor já bastava.
_E o que tenho de especial?- quis saber o velho Clemente.
_Me fez sentir que sou gente, que posso ser normal.
Ele a abraçou contra o peito,afanou seus cabelos ensebados.Assumiu que lhe daria trato,cuidou de sua avó e Mina adotou.As pessoas o paravam na rua, a pergunta era sempre a mesma.
_Clemente, não tem medo homem do que essa menina pode te fazer?
Ele ria, coçava a cabeça. Porque  é preciso ter paciência com a ignorância, e mais uma vez se permitia esclarecer:
_Vida faz mal a morte?
_De certo.
_Então é de mal que irei morrer, e saiba você, que é Mina quem vai me oferecer.
_Essa menina não tem jeito, e você já homem de idade!-berrava o moço.
_Numa coisa tem razão, eu tenho idade.Mas quanto o jeito,esse deu o seu,esvaneceu e assumiu a menina que não tinha saudades.
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