Emma Sayle nasceu em uma tradicional família britânica, estudou no mesmo colégio e fez parte da equipe de remo da duquesa de Cambridge. Na última década, construiu um império milionário, capaz de provocar inveja (e um belo constrangimento) na realeza. Em suas festas, as fantasias eróticas femininas são prioridade. Aos 36 anos, casada e grávida, a empresária abriu as portas de um de seus eventos secretos exclusivamente para Marie Claire
Ferraris e Jaguares blindados formavam fila para ser estacionados na entrada da mansão, em uma praia no litoral sul da Inglaterra. Homens com ternos caríssimos e mulheres com vestidos de grife conversavam baixinho, enquanto bebericavam champanhe e degustavam ostras frescas. No terraço, os convidados apreciavam o pôr do sol e a vista para um jardim espetacular.
Enquanto isso, Emma Sayle, loira de corpo escultural (apesar da barriguinha saliente de 5 meses de gravidez) e anfitriã da noite, circulava pelo salão principal com um vestido verde esvoaçante e um escarpin nude – o sapato que as britânicas aprenderam a amar depois que Kate Middleton o instituiu como item-chave para looks de noite. A duquesa de Cambridge, aliás, é uma velha conhecida de Emma. Ambas estudaram na Downe House, uma das escolas particulares mais exclusivas do Reino Unido (estudar lá custa cerca de R$ 120 mil por ano).
Com sua empresa, a Killing Kittens (gíria inglesa que diz que, “cada vez que alguém se masturba, Deus mata um gatinho”), ela construiu um império milionário nos últimos oito anos. Funcionando como uma rede social privê na internet, a Killing Kittens tem hoje 400 mil membros no mundo todo. Recentemente, Emma escreveu um livro de memórias, Behind the Mask (“Por Trás da Máscara”, Harper Collins, 288 págs.), sobre sua vida e as baladas picantes.
Na mansão em que aconteceu uma dessas festas a que Marie Claire teve acesso exclusivo, três dos 17 quartos foram transformados em “ala das brincadeiras”. A equipe coordenada por Emma decorou os ambientes com cortinas pesadas para evitar qualquer flagra do lado de fora, velas e camas enormes, sem edredons nem travesseiros. Nos criados-mudos, havia travessas lotadas com camisinhas e lubrificantes. E todas as portas ficavam abertas.
“Precisamos checar se alguém está usando drogas ou filmando com o celular. Também queremos que as convidadas se sintam seguras”, disse Jordie, uma das funcionárias da Killing Kittens. Nas primeiras horas, os participantes tinham de usar máscara, para que todos ficassem mais à vontade.
Os 60 convidados da noite, com idades entre 20 e 50 anos, pareciam ricos e autoconfiantes – do jeito que as pessoas que dirigem Ferraris podem ser. Os homens eram elegantes e as mulheres, magras e atraentes. As regras do clube são rígidas: apenas casais e mulheres solteiras são aceitos como membros e, nas festas, os homens só podem participar se forem convidados por elas.
Luana*, uma loira solteira, alegre e linda explicou que adora as orgias de Emma por não terem os cenários obscuros e ameaçadores que geralmente têm presença masculina dominante. “Já saí correndo de uma orgia depois de ver uma garota amarrada em um porão e outra transando em um quarto cheio de homens agressivos”, recordou.
Kelly*, uma morena voluptuosa de 33 anos, que usava um vestido verde decotadíssimo, optou por ir sozinha à festa – ela é casada e mãe de dois filhos. “Esta é uma noite em que posso me dedicar a mim. Trouxe na bolsa um macacão que tem a parte de trás aberta para mais tarde. Não gosto de ser vista nua.”
Às 22h30, parecia haver um frisson no ar. A conversa ficou mais alta, os copos esvaziaram. Na orgia de Emma, as pessoas ficam, aos poucos, cada vez mais “táteis” – as mulheres colocam as mãos na cintura umas das outras enquanto conversam, outras paqueram os desconhecidos no salão. Casais começam a se dirigir para o andar de cima, para a “ala das brincadeiras”.
Antes de a balada começar, Emma explicou que “a ação” teria início às 11h da noite. Foi exatamente o que aconteceu. Pontualmente, as pessoas começaram a se beijar e a tirar a roupa. Muitas das mulheres escolheram usar lingerie da grife inglesa Agent Provocateur. Outras ficavam pelos cantos só olhando.
Um homem mais velho se esqueceu de tirar as meias e isso provocou um ataque de riso de duas mulheres. Por volta da meia-noite, Emma resolveu ir embora e deixar a organização da balada nas mãos de sua experiente equipe. Esse tipo de decisão é rara, já que ela sempre manteve pulso firme e total controle de seus negócios. A exceção tinha motivo: como está grávida, Emma sentia o sono bater.
A anfitriã de 36 anos tem a pele tão bronzeada que parece mais velha – consequência das longas noitadas, mas também da prática de esportes ao ar livre. Na Inglaterra, a dona da Killing Kittens é uma espécie de celebridade e já foi convidada para dar entrevistas na TV. Em grande parte, essa fama se deve ao fato de Emma ter sido colega de escola de Kate Middleton.
Por ser um pouco mais velha que a duquesa, ela diz que as duas não tiveram contato nessa fase. No entanto, o caminho de ambas se cruzou novamente em 2007, durante o período em que Kate estava separada do príncipe William. Nessa época, ela entrou para a Sisterhood, grupo esportivo só de mulheres que disputava campeonatos de remo para arrecadar dinheiro para caridade, do qual Emma fazia parte.
Juntas, as duas começaram a treinar para uma travessia do Canal da Mancha. Mas Kate desistiu da missão quando os paparazzi começaram a aparecer e jornais noticiaram que a possível rainha da Inglaterra estava andando com uma organizadora de orgias (elas foram fotografadas juntas diversas vezes).
Oficialmente, Kate saiu da Sisterhood por motivos de segurança, mas será que o palácio recomendou que se afastasse de Emma? “Não sei responder essa pergunta. Kate deixou o grupo quando reatou o namoro com William”, diz a empresária. “Ela é um amor de garota e nos demos bem logo de cara. Mas vivíamos realidades muito diferentes. Hoje não somos próximas, faz anos que não a vejo. Tenho seu celular na agenda, mas provavelmente o número mudou.”
Filha de um coronel da guarda britânica e de uma socialite, Emma teve uma criação aristocrática e desde criança viajou o mundo. Conta que foi uma “típica pirralha rebelde”. Quando o pai militar foi transferido para o Kuwait, Emma, na época com 18 anos, foi o estopim de um incidente diplomático ao ser pega transando com um soldado norte-americano no telhado da embaixada dos Estados Unidos. Quando morava em Berlim, aproveitou a queda do muro para guardar pedaços da estrutura e vendeu aos amigos ao voltar para a Inglaterra.
Aos 20 anos, passou a trabalhar em uma empresa de relações públicas que tinha clientes que organizavam festas para adultos. Isso foi na década de 1990, quando "Sex and the City" fazia sucesso e o prazer feminino virou tema de conversa em mesas de bar. Emma adorava as baladas, mas se incomodava com o fato de os eventos serem comandados por homens, para homens, com o desejo masculino em primeiro plano. Assim, lançou a Killing Kittens.
No começo, os pais morreram de vergonha, mas pararam de se incomodar quando viram que seu negócio ia de vento em popa. “O que me impulsiona é o fato de permitirmos às mulheres serem donas de sua sexualidade”, diz. Não há dúvidas de que a oportunidade de ganhar muito dinheiro também conta – as associadas pagam cerca de R$ 380 por ano para fazer parte da rede, mais aproximadamente R$ 425 se quiserem incluir seus parceiros.
Apesar de falar muito no poder feminino, Emma não se considera feminista. Afirma detestar mulheres que reclamam de homens que abrem a porta do carro ou puxam a cadeira no restaurante para que se sentem. “Somos completamente diferentes dos homens. Não quero ser igual a um, penso diferente deles. Acho que as mulheres deveriam ser mais femininas.”
Para uma pessoa que organiza orgias, a empresária chega a ser conservadora em relação a relacionamentos. “Digo para as minhas amigas que têm problemas com os homens: façam com que se sintam necessários. Não é difícil fazê-los agir como queremos. Basta deixá-los pensar que a ideia foi deles.”
Com o sucesso das festas, a empresa de Emma agora tem dois investidores externos e vários funcionários em tempo integral. Tudo para organizar seis festas da Killing Kittens por mês no Reino Unido. Está prestes a inaugurar uma filial em Los Angeles e tem planos de abrir outras na própria Inglaterra nos próximos meses.
As ambições de Emma parecem não ter fim. Ela quer que o nome da Killing Kittens se popularize para poder lançar uma linha de brinquedos sexuais. Para isso, tem se reunido com pesquisadores para desenvolver produtos afrodisíacos. Também pensa em criar um aplicativo no estilo do Tinder, que mostre aos membros quando outros participantes da Kittens estão por perto. E ainda há seu livro, "Behind the Mask", que ela sonha que se torne um best-seller como "Cinquenta Tons de Cinza", da escritora inglesa E. L. James.
Apesar de não ter a pretensão de ganhar um prêmio de literatura como o Pulitzer, a história autobiográfica é interessante e traz uma questão central (e que ela está cansada de ouvir): por que uma moça bem nascida como Emma tem um trabalho desse? A resposta é simples: ela viu uma oportunidade de negócio e decidiu investir. “Faço isso há oito anos e sempre recebi críticas.
Não me ofendo mais, pois é a minha empresa que estão julgando, não a mim”, analisa. “Não levo nada para o lado pessoal.” A empresária rejeita com convicção a ideia de que sua atividade seja escusa. “Acho muito mais sujo quando vou a uma casa noturna e alguém passa a mão em mim. Isso é muito pior do que o que acontece nas minhas festas, onde as mulheres estão no comando.”
Sobre o bebê que espera, diz que não se preocupa com o momento em que terá de explicar-lhe como criou sua fortuna. “Daqui a dez anos, a sociedade será tão mais liberal que as orgias deixarão de ser tabu. Da mesma maneira que lidamos com o fato de que nossos pais fumavam maconha nos anos 1960.”
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