Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Janelas se vingam

          A casa estava totalmente selada e escura. Passava de meia-noite e todos hospedes estavam dormindo, pelo menos era isso que pensava o rico empresário João Carlos. O dia que já chegava seria cheio para todos, eles iriam comemorar o aniversário de 82 anos da mãe do empresário – não que ela se importava, desde que o Dr. João Carlos propôs a festa, ela se recusara dizendo que não queria festejar com um bando de interesseiros.
        Ouviu-se um barulho estranho vindo da cozinha, passos, Dr. João Carlos que já era velho e nunca foi de acorda a noite, continuo dormindo, então quem desceu para verificar o que ocorria foi um dos funcionários mais antigos da casa cujo nome era Adamastor. Adamastor desceu todas as escadarias como sempre fazia, célere, ele era um homem de 32 anos de idade, robusto. Quando Adamastor se aproximou da cozinha e adentrou na porta nada viu, apenas sentiu o gosto de morte que lhe tomou a boca... Segundos após estava morto, mas não antes de soltar o grito de toda alma que desencarna.
         A escadaria era toda feita de mármore de branco importado com detalhes em ouro nas laterais, tudo que o dinheiro permitia tinha naquela casa. A mansão era tão rica que o quarto da empregada tinha o tamanho da suíte presidencial do Copacabana Palace Hotel. E agora toda aquela escada jazia com uma trilha rubra feita de sangue... Sabe-se lá de quem.
         Pela primeira vez em 10 anos algo conseguira tirar o dono da casa do sono profundo que tinha graças aos remédios que tomava para a depressão, depressão essa que adquiri-la depois da morte traumática do pai que caiu da janela do quarto ao lado, quebrando o pescoço e morrendo em plena luz do dia – essa foi a história que fora contada a imprensa, o resto passa de lenda dizia o Dr. Carlos.
       O homem que já estava com 98 quilos, mais pesado do que deveria para seu tamanho, levantou tonto e atrapalhado da sua grande cama confeccionada em pau-brasil... Colocou os óculos que estavam sobre o criado-mudo de peroba e saiu ligando as luzes dos corredores, chamando a todos os hospedes.
        Vinte minutos depois estavam todos reunidos na sala, mostrando cara de perplexidade defronte aquele corredor de sangue... Alguns mostravam cara de sono outros não, mas estavam todos assustados com a pergunta que imperava entre os rostos e foi o convidado, para a comemoração, chamado Luís, de sobrenome desconhecido entre os demais que perguntou.
      - Onde estão os corpos? Disse com uma voz pálida e sombria, ninguém sabia se aquela era sua voz normal, na verdade não sabiam nada sobre ele, ele fora amigo do pai do Dr. Carlos, nenhum dos que estavam ali o conhecia intimamente.
       - Não devemos nos preocupar com corpos, mas sim com quem é o assassino. Ele pode está entre nós.
         Todos sabiam da possibilidade do assassino ser um deles, entretanto ninguém queria demonstrar insegurança, todos queriam evitar que a suspeita recaísse sobre eles. Não era segredo para ninguém que a senhora Adriana, mãe do doutor não tinha amizade nem com o próprio filho, se alguém alguma vez gostou dela foi o marido que jazia morto.
            Depois de dois minutos de um gélido silêncio, o anfitrião tomou coragem e resolveu dar inicio aos procedimentos, iria ele mesmo descobrir o assassino, mas, para isso viu que precisava dos corpos. Não dava para chamar a policia, aquela mansão fora construída no meio de uma mata fechada, seu acesso só poderia ser feita pelo ar, e estava uma tempestade do lado fora.     
A chuva silvava ferozmente sobre aquelas telhas antigas, construídas sobre pernas de escravos, diziam os empregados mais antigos que ainda se podia escutar o lamento dos negros durante os dias quentes. Enquanto do lado de fora a noite gritava, dentro da mansão era o silêncio que torturava.
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Decerto achar corpos em um casarão daquele tamanho não seria tarefa fácil, talvez se separassem... Mas ninguém estava disposto a se separar e ficar no mesmo grupo do assassino, então acordaram todos em um único grupo formado por todas aquelas 20 pessoas, conferir cômodo a cômodo até verificarem tudo.
- Primeiro vamos ao porão, se eu fosse algum assassino seria o primeiro lugar que pensaria para esconder corpos. Levantar a possibilidade de ser assassino não era uma coisa boa a se fazer naquele momento.
- Bom... Apesar porão ter sido fechado logo após a morte do meu pai, ele pode ter conseguido abri-lo. Levantou a hipótese o proprietário da mansão, e agora o responsável por achar o corpo da própria mãe.
Seguiram todos de maneira desordenada e ainda silenciosa a parte mais oculta da casa. A entrada para o porão era feita de cedro adornado por peças antigas de metal enferrujadas e por uma maçaneta em forma da cabeça de um leão feita de bronze. Não foi tão difícil adentrar um único empurrão de um dos convivas mandou a porta para longe...              O porão era cheio de velharias, tinha algemas, objetos de tortura, velhas canetas tinteira do inicio do século XX, estranhos objetos aos que ali estavam que eram ainda mais antigos, possivelmente de 1700, e ainda estavam sendo servidos a traças e outros insetos vorazes, dezenas de livros amarelos vilipendiados pelo tempo. Tinha de tudo que era antigo um pouco naquele porão, mas ninguém estava interessado em nada do que se encontrava ali, exceto um senhor de uns 70 anos de idade que se locomovia de forma precária que pegou de uma prateleira antiga uma moeda dourada da época de reinado e colocou no bolso.
- Aqui não tem corpos, chega, vamos a outro lugar.
Os convidados pareciam já cansados de tanta procura, estavam apenas no primeiro cômodo.
- O segundo lugar mais conveniente para se esconder um corpo nesta mansão é o sótão.
        Todos se dirigiram para o sótão desta vez sobrepondo com suas vozes o tom da chuva que caí do lado de fora.
           Mais uma vez adentraram em um cômodo escuro sem janelas e cheio de velharias, a única diferença entre o sótão e o porão era o cheiro, não um cheiro de morte, de sangue,  o sótão cheirava a ervas, mais especificamente cheirava vetiver, planta nada comum para a região.
         Novamente não era ali que estavam depositados os corpos da mãe do Dr. Carlos e do seu empregado.
            - Calma, estamos apenas no segundo cômodo, não vamos perder as esperanças.  Disse-lhes tentando acalmar os ânimos, todos pareciam suspeitar de todos.
            - Mas não há mais nenhum outro lugar aqui para se esconder corpos! Disse outro conviva, jovem e com cara de assustado.
            - Há sim – respondeu o proprietário – existem passagens secretas entre os quartos, estão na sala.
            Depois de mover um livro de Victor Hugo, antigo e já sem capa uma passagem surgiu através da lareira daquela sala recheada de lustres de cristais e de pinturas renascentistas.
            - Isso sim é uma passagem secreta. Disse impressionado um dos acompanhantes daquela missão estranha de busca de corpos.
            Aquela passagem centenária tinha sido criada pelo bisavô de Carlos que tinha medos que esquecera a história, só sabiam que tinha sido criada por ele por causa dos temores, nada mais.
            A passagem tinha paredes feitas de pedra-sabão lisa, nessas paredes a cada dez metros haviam dependurado em uma lacuna, archotes feitos de bronze que anos não tinham foto para aquecer os seus metais. Todos os corredores da passagem iam de encontro a uma sala maior no centro da passagem, onde havia uma poltrona, provavelmente colocada lá pelo pai de Carlos, uma escrivaninha simples com uma caneta tinteiro ainda sobre ela, e uma fotografia amarelada.
            - Carlos quem são esses da fotografia?
            - Meu pai e, e, e... Respondeu Carlos. 
            Depois de analisar bem aquela fotografia ele resolveu responder.
            - Não conheço quem é essa que está do lado do meu pai, deve ser alguma amiga.
            - E que amiga... Respondeu aquele mesmo homem que fizera a pergunta.
           Em outros tempos ele sairia dali com um pouco de sangue a menos, mas Dr. João Carlos estava com a mente muito ocupada para sentir o sarcasmo documentado, ou para pensar na possível traição do pai... Ele não estava se importando com nada, não era hora.
            O velho que estava passando despercebido desde a visita ao porão, falou com uma voz macia e falha.
            - Acho que já é hora de olharmos o quarto do nosso anfitrião.
        A face de todos se tornou soturna e séria, bem possível Dr. Carlos, cujo temperamento era conhecido até por aqueles que não o conheciam, se sentiria ofendido com a proposição. O velho sugerindo tal coisa estava praticamente sugerindo possivelmente a culpa do anfitrião...
            - Vamos ao quarto de minha mãe... Como não pensamos isso, não fomos ao quarto dos mortos.  Todos perceberam que foi uma intenção de tirá-los a possibilidade de ir ao quarto dele, seja lá qual fosse a razão.
        Ninguém estava com disposição de fazer qualquer outra sugestão, então seguiram primeiro ao quarto da mãe morta. O quarto estava todo limpo, não havia marcas de sangue ou qualquer resquício de assassinato no local. Tudo estava limpo e cheiroso. Diante de mais um quarto vazio foram ao quarto do empregado, mais uma vez um quarto cheiroso e limpo, não havia sinal de morte no local.
          - Podemos ir ao seu quarto agora? Perguntou o velho.
          Diante do interesse de todos e consciente da sua inocência, Dr. Carlos disse:
          - Vamos, não há nada lá, posso garantir.
          Todos subiram a escadaria com marcas de sangue que ia do seu primeiro degrau até o último e depois desapareciam misteriosamente. Chegando a porta do quarto, o velho gritou:
          - Quero ser o primeiro a entrar, devo conferir com meus próprios olhos.
          Assim que o velho abriu o quarto ele gritou novamente:
          - Que horror!
        Os dois corpos jaziam estripados sobre a cama do dono do quarto, apesar de novos cheiravam mal, havia sangue para todo lado. Uma cena macabra.
          Dr. Carlos entrou no quarto e disse:
         - Não, não, não fui eu quem fez isto.
        Diante da cena macabra ele foi se aproximando da janela para vomitar, quando sentiu um empurrão nas suas costas e caiu. Foi defenestrado. Segundos depois aquele corpo estava no chão morto como dizem que o seu pai estivera.
         Assim que passou a cena, o mais jovem do grupo falou:
       - Manoel, tu querias vingança apenas de teu filho, por que mataste também tua mulher?
         - Mas eu não os matei... Respondeu com ímpeto e segurança na voz, o velho que até agora parecia ter por volta dos 70 anos, mas mostrou ali disposição de um homem de 40 anos.
        O assassino do próprio filho tirou a moeda que tinha pegado no porão e a jogou pela janela e disse:
            - Tentaste me matar por dinheiro, agora o leve para o outro mundo.

            Foi à última fala que o homem falou toda a casa ruiu, levando a todos para o mundo dos mortos.  E uma duvida foi consigo para o tumulo. “Quem matou dona Adriana e o seu Adamastor?”. 

Josué da Silva Brito 
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