Por mais retundante que pareça,quem nunca se sentiu perdido, esquecido ou meramente
frustrado por tentar desesperadamente mostrar ao outro a urgência de algo ou
alguma coisa e perceber de imediato que não conseguiu se fazer entender? Que por mais que
tenha se retorcido em palavras ou atitudes o outro não alcançou o tamanho da
sua precisão? Dessa busca pela compreensão imediatista que todos nós mortais ao
menos uma vez na vida experimentou nasce essa crônica.
Afonso era um típico magnata das pedras, advindo de
família donas de jazidas e mais jazidas de pedras preciosas, nascera em berço
de ouro literalmente e com esse tipo de gente é muito complicado compreender
sob o ponto de vista do mero e relis mortal que careça de alguma coisa. Por isso todos
espantaram quando o milionário adentrou o recinto do bar da esquina esbaforido
aos berros:
_UM GRAMPO! UM GRAMPO PELO AMOR DE DEUS!- Ressalva:
Naquele boteco ninguém sabia quem ele era, e ai começava a sua saga.
_Meu senhor, vá com calma ai!- disse o dono do
ambiente com um pano sujo "limpando" o balcão.
_Eu preciso muito de um grampo! Um grampo desses de
cabelo! Alguém tem um grampo? - retirando da carteira um alto valor em notas
prosseguiu:_ Pago o preço que pedirem dinheiro não é problema!
Todos riram e voltaram a bebericar seus copos de
cachaça. Afonso saiu frustrado, ombros caídos, passos perdidos. O que ninguém
jamais poderia supor era que o endinheirado necessitava de um simples grampo de
cabelo para prender os cabelos de sua única afilhada e que também ocupou o
lugar de filha, para prendê-los a grinalda. A moça teimara em casar-se num vale
perto dali no meio do nada com tudo muito simples e rústico. Tão simples e
rústico que ela mesma preparou-se, entretanto na hora de subir ao altar e
Afonso passa-la aos braços de Felipe, o noivo,
a grinalda caiu.E para uma família grega isso significava para lá de mau
agouro, daí a caça desatinada do pai/padrinho para que sua única herdeira não
passasse pelo apuro e maldito prenúncio de ter o casamento fracassado antes
mesmo de começar.
Dorito,como
era chamado, era um bom vivã. Uma cara simples e de bem com a vida. Vivia
sorrindo e abraçando todos a sua volta, sem contar nos beijos. Beijos para lá,
beijos para cá.
Era o seu jeito de demonstrar afeto, carinho pelo próximo.
Porém, houve um dia que Dorito chegou à padaria da Sebastiana para aquele café
no meio da tarde de todo dia e com a mesma empolgação pediu para o Osório:
_Ô meu querido, manda ai o "Zé pretinho"
que me faz feliz!
_Para já meu chefe!- respondeu o atendente que tão
bem conhecia o amigo e freguês.
Ali bebericando, conversando e interagindo, por
várias vezes ele parou na frente de um e de outro e pediu:
_Me dá um abraço?- Todos riram. Aquele não era o
Dorito, pedir abraço? Era ele o senhor que agarrava a todos com seus abraços de
ursos e beijos cheios de calor humano. Dorito também ria da reação das pessoas,
no entanto, o que ninguém sabia era que o dono da alegria viera de uma consulta
médica naquela tarde e recebera um diagnóstico de câncer na próstata avançado e
não viveria muito, e não viveu mesmo, um mês e meio depois o feliz Dorito
Partiu da Terra dos viventes.
A pergunta que não quer calar é: Até onde
entendemos a emergência do outro? Ou até onde estamos dispostos a isso? Aqui
com meus botões penso: "Compreender
a urgência da necessidade do outro é como ir ao banco precisando de dinheiro. Você
sabe que tem algo disponível, mas não sabe se é o bastante."
Diante disto, como quem precisa da urgência, sejamos
mais francos, sem orgulhos, sem supostas vantagens a oferecer, e como quem pode
socorrer que possamos ser o mais ouvinte dos mortais. Sabe leitor as pessoas carecem
das mais variadas necessidades e na maioria das vezes isto está intrínseco num
olhar chamado "ME INTERPRETE, POR FAVOR!" Entretanto, a correria
desse mundo moderno, onde as redes sociais tomam a maioria do nosso tempo, onde
todos são felizes, estamos esquecendo literalmente de gostar de interpretar o
olhar do próximo, do poder do seu brilho, daquela máxima:" Te conheço só pelo olhar!". Isto está deixando de ser
uma verdade, uma bela verdade. Deixo esse texto para que aqueles me amam, que
fiquem mais atentos a mim e como sendo também aqueles que amo, que eu esteja
mais aberta que nunca para alcançar todo as suas emergências como prioridades
minhas. E a você meu amado leitor, que perceba o quanto alguém necessita de algo,
alguma coisa, uma mera atitude sua nesse exato momento.
Bora lá,ajudar!
lIZA MARIA
ResponderExcluirSensacional Danka, é isso mesmo, acabmos esquecendo de parar e ver o que o outro precisa e de como mostrar o que necessitamos.
excelente texto!
Excelente reflexão querida...
ResponderExcluirQuem dera que todos olhassem a necessidade alheia, compreender urgência de cada um.
Parabéns querida!