Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

A Presença por Danka Maia






Eu e Túlio estávamos  ansiosos por voltar as nossas origens. Eu havia trabalhado por quase cinco anos numa vinícola e ele numa agência de turismo. Havíamos feito um bom pé de meia para recomeçarem uma vida pacata e simples na velha Saquarema.Boatos na cidade de um amor proibido entre nós fora o agente que nos fizeram partir para a Capital Carioca.
_Não vejo a hora de chegar!- disse esfregando as mãos uma nas outras e depois no ombro do amado.
_Quem diria que enfim estamos indo de volta para casa. - Túlio me confessou sorrindo.
_Sim, tudo que mais quero é voltar para casa. Se me perguntassem no último instante do meu sopro de vida, diria: "Quero ir de volta para casa."
 A felicidade estava estampada em nossas faces. Tudo que almejava era enfim recomeçar de cabeça erguida. No entanto, foi  numa curva  muito íngreme e fechada, conhecida como a curva da morte na Serra do Mato Grosso, que ao terminar de nos dar um breve beijo, Túlio perdeu a direção do carro.
Eu acordei com o gosto de sangue na boca. Era tudo turvo e confuso. Difícil saber  onde estava e o que tinha acontecido.Recordo de tentar virar a cabeça para cima e logo notei que minhas pernas pareciam presa no que um dia fora o painel do carro, o reconheci porque o chaveiro que dei de presente a Túlio em seu último aniversário estava  de cabeça para baixo  balançando em meu rosto.Queria saber onde ele jazia,escutei um gemido.Sabia que era ele pelo tom da voz mas aquele gemido jamais escutara.Era a dor em pessoa.Vi que Túlio tinha um corte profundo no lado esquerdo da testa, pelo que constatei o a ponta do para-brisa  tinha perfurado toda sua fronte."_Meu Deus!"-pensei,tenho que sair daqui de algum modo.
 Fiz força, as pernas não obedeciam. E então percebi que tudo era ainda pior que ponderara. Nosso veículo encontrava-se pendurado como numa corda bamba, um impulso não calculado  simplesmente nos jogaria ribanceira abaixo de encontro com as pedras.Tentei ser o mais zelosa possível.Tentava apaziguar Túlio de todas as formas.A dor dele era tamanha que  meramente não me ouvia diante da gigantesca aflição que nos adveio. Sentia muitas dores, todavia consegui com muito esforço sair do auto  e me deparar com o outro desafio aterrorizante.Na minha frente um abissal paredão de pedregulhos e penumbra,ali me ansiando, todos contra mim.Por mais desgastante que fosse  todo meu empenho,e ofegante estivesse nem podia sentir  a respiração diante do meu enorme desespero.Era agonia demais.
Houve um momento de  silêncio.
Nada estava ali além de mim, contudo quando o vi pela primeira vez. Ele era alto, esguio e tenebroso volveu minhas memórias há uma árvore petrificada que vi na infância perto dos sítios de meus avós no Tinguí. Embora sua silhueta fosse nebulosa, tornou-se minha única alternativa, gritei:
_Me ajude, por favor! Eu e meu marido nos acidentamos o carro vai cair e não posso tirá-lo de lá! Por favor! Socorro!
Seus passos eram pesados, parou a minha dianteira fitou-me lentamente como se apreciasse toda aquela situação e parecia arrastar algo que não pude ver o que era. E o seu olhar era mórbido e frio, mas nada fez. Continuou seguindo em meio à obscuridade, como se meu estado não fosse nada além do nada do muito que ali jazia. Tomei as forças e continuei rastejar. Apesar de não compreender a razão de aquele homem ignorar a minha dor, consegui chegar a rodovia. Tentava ficar de pé e depois de um longo e doloroso empenho quase desumano alcancei a mureta de proteção, quando um farol  bateu em meus olhos quase cegando-me. O automóvel parou. Um moço de face amiga correu ao meu socorro, gritava como louca:
_Pelo amor de Deus!
De cara e  tomada pelo líquido que supre a vida, rapidamente voltou ao carro apanhou uma lanterna e pediu que me acalmasse. Com muito cuidado retornamos ao ponto onde o auto estava. Meu coração estava em pedaços, o senhor olhou-me com candura dizendo:
_Fique aqui. - e se aproximou um pouco mais. Mas logo que seus olhos entraram no cenário do veículo o seu olhar foi tomado pelo espanto e dentro de mim a desesperança brotou aos montes.
_Túlio morreu!
Deixe-me turbar pela dor. Bradava desesperada:
_Não! Não!
E de repente a lanterna do homem bateu em meus  olhos esbugalhados.Sabia que tinha que me aproximar, uma força me obrigava.Foi quando pude ver o que ele vira.O meu corpo jazia ali, ao lado de Túlio.Ele também sem vida.Elevei as mãos ao meu rosto, não podia crer.Mas sim, meu corpo estava ali e de Túlio também.
Morrera ele e eu.
O homem restou  correr, e eu entender.Foi neste instante que uma luz  achegou-se e um ser iluminado tomou-me pela mão e todas aquelas dores simplesmente desapareceram sem abrir os lábios sei que o indaguei:
_E Túlio?
Ele sorriu e da mesma maneira me recordou o homem alto e turvo que vira, foi naquele preciso segundo que meu amado expirara. E sua alma recebeu como consolo aquela presença que o arrastou. Perguntei por que a mim não tinha sido dado o mesmo que a ele,que estendeu a mão e gracejando com extrema tranquilidade:
_Você terá todas as respostas que procura. Vamos?
_Para onde?- repliquei.
_DE VOLTA PARA CASA.
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Um comentário:

  1. Surpreendeu-me, Danka!
    O regresso a casa... à verdadeira casa, assim se fez...
    Fiquei com um sabor amargo na boca durante o tempo da leitura, mas acabou por se adoçar ao ver a luz deste final.
    Parabéns!
    Beijinhos!

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