Oi Galera Machine! Olá minhas Ciganas! Tudo bem por aqui?
A história de hoje é curiosa porque é muito mais comum ler, ouvir ou saber sobre mulheres com seus corações partidos, mas hoje conheceremos a história de um homem e seu coração partido por um amor não correspondido. Vamos lá?
Entrei de cabeça num amor não correspondido
Tenho amigos que trocam de namoradas como quem vai ao supermercado. Eu não consigo. Nunca consegui. O namoro mais longo que tive durou pouco menos de três anos, de 2003 a 2006. A partir daí, estou sozinho, tirando um casinho ou outro, que raramente sobrevivem ao segundo mês. Para alguém que tem 33 anos, como eu, é muito tempo sem ninguém. Só topei namorar com a Verônica*, uma mulher linda, chique, bem relacionada no mundo da moda e muito inteligente, porque desde o primeiro dia que a vi passei a admirá-la e amá-la profundamente. Não namoro quem não admiro. Foi um relacionamento pontuado por quebra-paus, vaivéns e um término cheio de acusações e descobertas. Descobri boa parte desse amor que eu sentia — e que nem sempre consegui demonstrar — depois que já não estávamos mais juntos, no divã do meu psicanalista. Ela foi o meu amor maior, que, por várias razões (quiçá o fato dela ser cinco anos mais velha, a minha imaturidade, objetivos distintos... enfim), acabou morrendo.
As semanas seguintes ao fim foram de um sofrimento infinito. Pensei em me matar, dormia e acordava à base de remédios e precisei muito da ajuda dos amigos para sair daquele buraco em que eu havia me metido. Pedi demissão do meu emprego, vendi o carro, tranquei o apartamento e fui viajar para tentar esquecer, ou pelo menos tentar cicatrizar um pouco a ferida profunda e purulenta que não parava de doer. Fiquei seis meses fora. Voltei quase recuperado. Não tenho dúvidas de que a Verônica foi um grande amor. O maior de todos até o dia em que conheci a Helena.
Nós nos vimos pela primeira vez no restaurante dela; eu cliente, ela chef. Fui jantar com uma amiga para comemorarmos a compra do seu apartamento, de modo que pedimos o melhor vinho e devoramos os melhores pratos num apetite falstaffiano. Mas eu não dei muita bola para a Helena. Quem me chamou a atenção foi a garçonete: loira, olhos grandes, boca bem desenhada e um jeito de mulher relaxada e resolvida com a vida. Helena pareceu uma mulher meio estranha, calada, que raramente sorria para os comensais que passavam em frente à sua cozinha. Parecia estar sempre mais entretida com o salpicar dos temperos, o corte perfeito da carne e a temperatura certa da grelha do que com o entra e sai da clientela. Além disso, a Helena não era dona de uma beleza padrão. Uma pele muito branca, cabelos negros longos e rebeldes, dois palmos abaixo do ombro, boca projetada para frente, uma pinta vizinha do lábio inferior e o nariz levemente adunco. Definitivamente Helena não era meu tipo de mulher. A garçonete era.
Eu deveria saber que minha história com a Helena não terminaria bem. Nesse primeiro encontro, senti algo estranho. Ela passava na minha frente com tanto desinteresse, não só por mim, mas por todo universo ao seu redor, que logo no primeiro instante estabeleceu-se uma hierarquia entre nós na minha cabeça. Embora no início eu não tivesse nenhuma atração sexual por ela, era como se eu estivesse fadado a notar mais a presença dela do que ela a minha. Como se eu sempre fosse querê-la mais do que ela a mim. Mas naquele momento não dei importância para esses pensamentos, afinal, estava interessado na funcionária dela.
Durante seis meses frequentei as mesas do restaurante em visitas quase semanais — sempre para reencontrar a garçonete, que, mais por educação do que interesse em mim (algo que eu só descobriria mais tarde), me tratava com muita atenção. Até que soube que a garçonete era casada e, como se eu procurasse um prêmio de consolação, passei a olhar para Helena de um jeito diferente. Tudo o que me incomodava nela, da sua misantropia à pele excessivamente alva, também me atraía. E assim, quase sem perceber, como um botão de liga e desliga no meu cérebro, comecei a gostar dela. Como ela jamais esboçara nenhum interesse por mim, parti para a tática do e-mail e do Facebook. Ficamos amigos na internet, até que um dia ela me convidou para a festa de um ano do seu restaurante. Poucas pessoas, vinho e cerveja à vontade. Pela primeira vez, a vi fora de seu traje de trabalho. Avental e lenço na cabeça deram lugar a um vestido preto e uma maquiagem forte no rosto. Também foi a primeira vez que a vi sorrindo. E que sorriso! Eu já estava apaixonado e não sabia. E sequer tínhamos trocado nosso primeiro beijo.
Foi uma semana depois, quando ela me chamou para tomar uma taça de vinho na sua casa, que ficamos pela primeira vez. E foi a melhor noite da minha vida. Fomos para cama bêbados e cheios de vontade. Transamos, dormimos e acordamos com Billie Holiday tocando no seu computador. Era uma linda manhã de domingo de inverno. Ela ficou deitada enquanto eu fui ao mercado comprar leite, suco, revistas e mais camisinhas. Passamos o domingo inteiro transando. Transando e tomando café preto. Havia menos de 24 horas que tínhamos ficado pela primeira vez e eu não queria mais sair de perto da Helena. O mundo podia acabar para mim. E, desde que eu estivesse ao lado dela, morreria feliz. Era noite quando voltei para casa, e já contando as horas para vê-la novamente.
Viajei a trabalho na semana seguinte, mas quem disse que eu conseguia parar de pensar nela? Não queria fazer nada, sequer sair do hotel. Meu único desejo era voltar logo para São Paulo e tê-la de novo em meus braços. Eu mandava mensagens pelo celular, ligava, mas ela não respondia. Ou melhor, ela respondia ou atendia quando achava conveniente. Aquilo começou a me deixar angustiado. Acordava de madrugada para checar os e-mails ou ver se não tinha uma mensagem dela no Facebook. Ligava e desligava o telefone na esperança de surgir alguma mensagem que, por culpa da operadora de celular, tinha chegado atrasada. Mas nada. Passou uma semana até o nosso segundo encontro, dessa vez na minha casa. Comprei boas taças de vinho, duas garrafas de tinto e preparei uma comida simples. Mais do que o beijo e o sexo incríveis, eu gostava de ficar olhando, conversando com ela, sempre tão cheia de histórias interessantes. Seu cheiro, suas roupas, seus dedos longos e um único anel, as unhas desprovidas de qualquer coloração artificial, o cabelo solto. Eu gostava de tudo nela. Tudo.
Mas foi logo nesse segundo dia, depois do jantar, que ela veio com um balde de água fria. Estávamos deitados no sofá, seminus, e entre um beijo e outro ela me disse: “Olha, eu não quero namorar, não quero nada sério, O.K.?”. Se fosse em qualquer outra circunstância, eu nem ligaria para isso. Pelo contrário, ficaria aliviado em saber que a pessoa não iria ficar no meu pé, ligando todos os dias, perguntando onde eu ia ou o que estava fazendo. Mas a Helena, eu queria inteira para mim. Queria ter um filho com ela, envelhecer ao seu lado, conhecer sua família. É claro que, quando ela me falou que não queria nada sério, eu não esbocei nenhuma reação. Disse apenas: “O.K., eu também!”. Mas eu estava blefando, fingindo não estar nem aí. Engoli a seco e levei adiante.
Obviamente não consegui manter essa indiferença por muito tempo. Certo dia, algumas semanas depois, durante uma transa, eu falei que estava completamente apaixonado por ela. E repeti várias e várias vezes, desejando que saísse de sua boca uma afirmação semelhante: “Sim, eu também! Eu confesso, te amo! Te amo! Te amo!”. Naturalmente, só ouvi o silêncio. Toda vez que eu evidenciava a minha paixão, ela colocava o dedo indicador nos meus lábios como se pedisse para eu me calar. Em uma ocasião, me apontou para um pedaço da parede perto da sua janela em que estava escrito à caneta esferográfica azul a frase “Es tan corto el amor, y tan largo el olvido” (é tão curto o amor, tão longo o esquecimento), do Pablo Neruda. Eu estava avisado. A partir dali, qualquer envolvimento era por minha conta e risco.
Por outro lado, apesar de nem sempre atender ao telefone e insistir na ideia de que não queria nada sério, sua atitude era de uma pessoa que estava se envolvendo. Quando eu comentava a situação com as minhas amigas, elas me diziam que era uma questão de tempo. Afinal, mulher alguma deixa o homem passar o final de semana inteiro na sua casa, lhe prepara café da manhã, vai passar um final de semana junto na praia ou divide o jornal na cama se não estiver minimamente envolvida. Era engraçado porque um dia ela fazia planos comigo, comentava a possibilidade de viajarmos juntos nas férias, me convidava para jantar com a sua família, e no outro desaparecia, ficava inacessível por dias, fazia pouco caso da minha saudade. Lembro-me de várias vezes dizer para ela que estava com saudade depois de uma semana sem vê-la, e ela retrucava: “Sete dias é muito pouco tempo pra sentir saudade de alguém”. O que deveria funcionar como um repelente para mim era, na verdade, um desafio, me deixava curioso para saber o que de tão intrigante tinha aquela mulher. Gosto de desafios.
Mas a verdade é que ela não estava envolvida. Você já viu aquele filme 500 dias com ela, com a Zooey Deschanel e o Gordon-Levitt? Pois é. Eu fui o Gordon-Levitt; ela, a Zooey. Inclusive, o jeito de Helena se vestir, vestidinhos vintage em cores pastel, meia arrastão, sapatos de boneca e pouca maquiagem, em muito lembra o figurino de Zooey no filme e também na vida real. Helena era a minha Summer, que é como se chama a personagem da atriz no filme. Uma suave ida ao céu e a vertiginosa descida ao inferno é o que foi minha relação com Helena em pouco mais de 100 dias de convivência. Foram três meses de uma montanha-russa de sentimentos. Até que, numa noite de segunda-feira, tivemos a conversa final. Cada um para o seu lado. A extrema-unção veio quando, entre gritos e acusações, ela bradou: “Eu nunca vou namorar ou me apaixonar por você. Nunca! Nunca!”. Chorei dias a fio, emagreci seis quilos, fumei maços de cigarro, fiquei desmotivado com a vida e o trabalho. Felizmente não precisei pedir demissão e viajar para curar a ferida.
Agora, com a chegada do inverno, resgatei um dos meus casacos e encontrei um bilhete escrito em uma folha de caderno quadriculada. A letra era da Helena. Meu estômago queimou. Parecia que o tempo não tinha passado. Fiquei nervoso, trêmulo, meio perdido. Era o poema “O desconcerto do mundo”, de Camões, um de seus autores prediletos (ao lado de Neruda e MFK Fischer). Diz ele:
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
No mundo graves tormentos;
E, para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.
No dia do seu aniversário, mandei uma mensagem pelo celular (ainda sei de cor o número). Ela me chamou para um café. Pensei, pensei, e não aceitei (sequer respondi), ainda com suas palavras estalando na minha cabeça: “Nunca! Nunca!”.
Fonte: Marie Claire
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