O céu já havia escurecido quando Alex estacionara sua velha picape azul em frente ao casarão. A Mansão Fisher era uma das construções mais antigas da cidade e uma das mais assustadoras na opinião de muitos. Ela ficava nos limites de Cherwood, bem longe das outras propriedades e bem perto de um pântano. Sua fachada havia sido quase toda escondida por um conjunto de árvores tortas que cresceram envolta dela como se para proteger a mansão dos olhares desconfiados de alguns habitantes daquela pataca cidade. Todos os seus moradores haviam morrido de maneiras das mais variadas, desde enforcamento até esmagado pela queda de um lustre gigante. Alguns acreditavam que havia algum tipo de maldição, ou melhor, um espírito maligno que se apossara do casarão e provocava o triste fim dos que ali habitavam. — Quer mesmo passar a noite aqui?! — perguntou Alex a uma garota ruiva sentada no banco do passageiro a seu lado. A jovem sorriu e pôs uma de suas mãos no rosto dela dizendo: —Vai ser divertido! Eu, você, um saco de dormir e uma casa mal assombrada cheia de fantasmas e demônios que vão nos matar ou nos possuir. —Isso não tem graça, Chloe! — bradou Alex. Chloe afastou sua mão do rosto dela e cruzou seus braços abaixo dos seios fingindo estar chateada. — Tudo bem, senhorita “Tenho Medo de Casas Velhas”’. Talvez eu deva chamar o Kevin White para vir comigo. Alex fitou a companheira com uma mistura de raiva e decepção. Aquela garota de meia-calça preta, jaqueta de couro e gargantilha com pingente de pentagrama a fazia perder a cabeça, mas às vezes esse seu amor pelo obscuro a irritava, como agora querer que a primeira vez das duas fosse em um casarão abandonado. As duas garotas continuaram paradas por mais alguns segundos uma olhando para outra sem tomar qualquer atitude até que Alex quebrou o silêncio: — Vamos lá. Ela agarrou uma mochila preta que estava no banco de trás com uma certa rispidez e saiu do carro, Chloe fez o mesmo, e com ela trouxe um pé-de-cabra o qual entregou a Alex logo que elas se aproximaram da porta da frente da mansão. Alex pegou a ferramenta das mãos da menina e forçou a porta a qual em pouco tempo se abriu com um rangido. O hall do casarão era um lugar amplo, cheio de antigos móveis cobertos por lençóis brancos empoeirados. Havia uma grande quantidade de dejetos de roedores próximos a uma escadaria em forma de caracol o que fez o estômago de Alex revirar. Chloe que ainda estava atrás dela, deu um leve empurrão para que a garota avançasse. Ela possuía um largo sorriso em seu rosto e parecia estar maravilhada com interior do casarão. Depois que seus olhos correram por todo o hall ela caminhou em direção a uma grandiosa forma no centro do saguão e com um único movimento arrancou o lençol que o cobria. Era um antigo piano de cauda. A garota se curvou sobre o instrumento e tocou algumas teclas as quais produziram um som desafinado que ecoou pelo lugar como a voz agourenta de um enfermo. —Eu disse que esse lugar era legal! —exclamou Chloe quando o som do piano cessou -Sabe qual é a história macabra dessa casa? —Não! E não sei se quero ouvi-la — respondeu a outra menina. —Seu nome era Harold, doutor Harold Fisher —- disse Chloe, apontando para um quadro pendurado em uma das paredes do hall. Ele retratava um homem de meia idade vestindo um velho jaleco de médico. Em uma de suas mãos se encontrava um grosso livro de anatomia humana e na outra seus óculos de grau com lentes arredondadas. Em meio ao seu arrumado cabelo preto havia uma mecha esbranquiçada que indicava a vinda da velhice, entretanto o que mais impressionava Alex eram seus olhos. Não eram azuis nem esverdeados, mas negros e sombrios - Fisher havia construído essa casa para morar com sua mulher e filho recém-nascido e ele atendia seus pacientes aqui mesmo. Alguns diziam que ele era louco e quando um dos enfermos morria na mansão guardava seus restos mortais no porão. Sabe, era como um hobbie. —Isso é loucura! - exclamou sua namorada sem ao menos tirar os olhos do quadro. —É apenas o que eu escutei - respondeu Chloe dando de ombros. —E como a família Fisher acabou? —Bom, Harold descobriu que sua mulher tinha um caso com o homem que trabalhava como jardineiro na casa. Ele a cortou em pedaços e enterrou no jardim, já o filho, o matou envenenado. Ele acreditava que a criança não era sua. Depois de alguns dias ele se suicidou. —Eu não sabia que você era tão boa para inventar histórias. —Não acredita em mim? - indagou Chloe. — Acha que seria capaz de inventar essa história toda? Bom, está errada. Isso tudo aconteceu e pra falar a verdade, acho que estou até sentindo a presença dele. A jovem ruiva esticou seus braços na frente de seu corpo e começou a andar pelo hall apalpando o ar como se quisesse encontrar algo invisível. —Harold Fisher, você está aí? —Não há ninguém nessa droga de lugar, Chloe! - bradou a outra. —Cala a boca, Alex. Estou tentando fazer contato. Harold, você está aí?! A brincadeira de Chloe acabou irritando Alex a qual em um ataque de fúria destruiu um vaso de cerâmica azul que estava sobre um aparador usando o pé-de-cabra. Sua namorada se calou no mesmo instante e ficou imóvel observando ela destruir o resto do hall. —Qual é, Harold, meu amigão? Onde você está? Apareça para que minha garota fique feliz, eu só quero passar uma noite com ela, droga! É pedir demais pra um fantasma? —Alex, já chega! Nós podemos ir embora daqui! - disse Chloe ao se aproximar da garota. Ela passou seus braços envolta de seu quadril e começou a puxá-la em direção a saída, contudo, a velha porta se fechou com um estrondo como se um forte vendo a tivesse empurrado. Mas não havia vento, nem mesmo janelas abertas no hall. As duas garotas espantadas permaneceram paradas onde estavam a cerca de dois metros da saída. Chloe apertou ainda mais seus braços em torno de Alex, afundou seu queixo no ombro dela e em um sussurro falou: —Acho que ele nos ouviu! Aquilo foi o suficiente para que toda a coragem de Alex sumisse. Estava prestes a dizer para fossem embora dali imediatamente quando o quadro de Harold Fisher pregado na parede começou a pegar fogo espontaneamente. Chloe gritou e se soltou de Alex. Um segundo depois uma força invisível a agarrou pelos cabelos e a arrastou pelo chão para o interior da casa. —CHLOE!!! — gritou Alex. A garota correu atrás dela, porém não conseguiu alcançá-la antes que uma porta no chão feito de tábuas de madeira se abrisse e a Chloe fosse jogada dentro do porão da Mansão Fisher. Um tenebroso grito de dor ecoou por baixo do antigo piso do casarão. Desesperada Alex se jogou sobre a porta e tentou puxá-la novamente para cima, no entanto, ela mal se mexeu. Pelas frestas de madeira do chão ela podia ver um homem alto vestindo um velho jaleco branco avançar sobre Chloe com um machado. Sem saber o que fazer Alex começou a golpear as tábuas com o pé-de-cabra. Lascas de madeira podre voaram por toda a parte e pequenas aberturas surgiram na porta do porão, mas nada suficientemente grande para que ela passasse. Quando suas esperanças de destruir a porta com a ferramenta se esgotaram, Alex pulou sobre as tábuas já partidas e o chão finalmente cedeu sobre seus pés. Ela rolou sobre as escadas do porão e quando finalmente alcançou o último degrau um pedaço de madeira perfurou sua perna direita. Ela caiu no chão com um bagre e sentiu o líquido escorregadio e rubro embaixo de si. Por um momento pensou que era seu próprio sangue vazando de seu ferimento, mas quando levantou sua cabeça viu o corpo de Chloe jogado em um canto daquele porão escuro. Lágrimas cortaram o rosto de Alex e com o pouco de força que lhe sobrava rastejou até jovem morta. Havia várias cortes de machado em seu abdômen e sua jaqueta preta agora não passava de um conjunto desordenado de tiras de couro. —Chloe… — murmurou ela enquanto agarrava uma de suas mãos sem ao menos perceber que o espectro do doutor Harold Fisher se encontrava atrás dela…
A MANSÃO FISHER
Por Stefani Kaline
O céu já havia escurecido quando Alex estacionara sua velha picape azul
em frente ao casarão. A Mansão Fisher era uma das construções mais
antigas da cidade e uma das mais assustadoras na opinião de muitos.
Ela ficava nos limites de Cherwood, bem longe das outras propriedades e
bem perto de um pântano. Sua fachada havia sido quase toda escondida por
um conjunto de árvores tortas que cresceram envolta dela como se para
proteger a mansão dos olhares desconfiados de alguns habitantes daquela
pataca cidade.
Todos os seus moradores haviam morrido de maneiras das mais variadas,
desde enforcamento até esmagado pela queda de um lustre gigante. Alguns
acreditavam que havia algum tipo de maldição, ou melhor, um espírito
maligno que se apossara do casarão e provocava o triste fim dos que ali
habitavam.
— Quer mesmo passar a noite aqui?! — perguntou Alex a uma garota ruiva
sentada no banco do passageiro a seu lado.
A jovem sorriu e pôs uma de suas mãos no rosto dela dizendo:
—Vai ser divertido! Eu, você, um saco de dormir e uma casa mal
assombrada cheia de fantasmas e demônios que vão nos matar ou nos
possuir.
—Isso não tem graça, Chloe! — bradou Alex.
Chloe afastou sua mão do rosto dela e cruzou seus braços abaixo dos
seios fingindo estar chateada.
— Tudo bem, senhorita “Tenho Medo de Casas Velhas”’. Talvez eu deva
chamar o Kevin White para vir comigo.
Alex fitou a companheira com uma mistura de raiva e decepção. Aquela
garota de meia-calça preta, jaqueta de couro e gargantilha com pingente
de pentagrama a fazia perder a cabeça, mas às vezes esse seu amor pelo
obscuro a irritava, como agora querer que a primeira vez das duas fosse
em um casarão abandonado.
As duas garotas continuaram paradas por mais alguns segundos uma olhando
para outra sem tomar qualquer atitude até que Alex quebrou o silêncio:
— Vamos lá.
Ela agarrou uma mochila preta que estava no banco de trás com uma certa
rispidez e saiu do carro, Chloe fez o mesmo, e com ela trouxe um
pé-de-cabra o qual entregou a Alex logo que elas se aproximaram da porta
da frente da mansão. Alex pegou a ferramenta das mãos da menina e
forçou a porta a qual em pouco tempo se abriu com um rangido. O hall do
casarão era um lugar amplo, cheio de antigos móveis cobertos por lençóis
brancos empoeirados. Havia uma grande quantidade de dejetos de roedores
próximos a uma escadaria em forma de caracol o que fez o estomago de
Alex revirar. Chloe que ainda estava atrás dela, deu um leve empurrão
para que a garota avançasse. Ela possuía um largo sorriso em seu rosto e
parecia estar maravilhada com interior do casarão. Depois que seus
olhos correram por todo o hall ela caminhou em direção a uma grandiosa
forma no centro do saguão e com um único movimento arrancou o lençol que
o cobria. Era um antigo piano de cauda. A garota se curvou sobre o
instrumento e tocou algumas teclas as quais produziram um som desafinado
que ecoou pelo lugar como a voz agourenta de um enfermo.
—Eu disse que esse lugar era legal! —exclamou Chloe quando o som do
piano cessou -Sabe qual é a história macabra dessa casa?
—Não! E não sei se quero ouvi-la — respondeu a outra menina.
—Seu nome era Harold, doutor Harold Fisher —- disse Chloe, apontando
para um quadro pendurado em uma das paredes do hall. Ele retratava um
homem de meia idade vestindo um velho jaleco de médico. Em uma de suas
mãos se encontrava um grosso livro de anatomia humana e na outra seus
óculos de grau com lentes arredondadas. Em meio ao seu arrumado cabelo
preto havia uma mecha esbranquiçada que indicava a vinda da velhice,
entretanto o que mais impressionava Alex eram seus olhos. Não eram azuis
nem esverdeados, mas negros e sombrios - Fisher havia construído essa
casa para morar com sua mulher e filho recém-nascido e ele atendia seus
pacientes aqui mesmo. Alguns diziam que ele era louco e quando um dos
enfermos morria na mansão guardava seus restos mortais no porão. Sabe,
era como um hobbie.
—Isso é loucura! - exclamou sua namorada sem ao menos tirar os olhos do
quadro.
—É apenas o que eu escutei - respondeu Chloe dando de ombros.
—E como a família Fisher acabou?
—Bom, Harold descobriu que sua mulher tinha um caso com o homem que
trabalhava como jardineiro na casa. Ele a cortou em pedaços e enterrou
no jardim, já o filho, o matou envenenado. Ele acreditava que a criança
não era sua. Depois de alguns dias ele se suicidou.
—Eu não sabia que você era tão boa para inventar histórias.
—Não acredita em mim? - indagou Chloe. — Acha que seria capaz de
inventar essa história toda? Bom, está errada. Isso tudo aconteceu e pra
falar a verdade, acho que estou até sentindo a presença dele.
A jovem ruiva esticou seus braços na frente de seu corpo e começou a
andar pelo hall apalpando o ar como se quisesse encontrar algo
invisível.
—Harold Fisher, você está aí?
—Não há ninguém nessa droga de lugar, Chloe! - bradou a outra.
—Cala a boca, Alex. Estou tentando fazer contato. Harold, você está aí?!
A brincadeira de Chloe acabou irritando Alex a qual em um ataque de
fúria destruiu um vaso de cerâmica azul que estava sobre um aparador
usando o pé-de-cabra. Sua namorada se calou no mesmo instante e ficou
imóvel observando ela destruir o resto do hall.
—Qual é, Harold, meu amigão? Onde você está? Apareça para que minha
garota fique feliz, eu só quero passar uma noite com ela, droga! É pedir
demais pra um fantasma?
—Alex, já chega! Nós podemos ir embora daqui! - disse Chloe ao se
aproximar da garota.
Ela passou seus braços envolta de seu quadril e começou a puxá-la em
direção a saída, contudo, a velha porta se fechou com um estrondo como
se um forte vendo a tivesse empurrado. Mas não havia vento, nem mesmo
janelas abertas no hall. As duas garotas espantadas permaneceram paradas
onde estavam a cerca de dois metros da saída. Chloe apertou ainda mais
seus braços em torno de Alex, afundou seu queixo no ombro dela e em um
sussurro falou:
—Acho que ele nos ouviu!
Aquilo foi o suficiente para que toda a coragem de Alex sumisse. Estava
prestes a dizer para fossem embora dali imediatamente quando o quadro de
Harold Fisher pregado na parede começou a pegar fogo espontaneamente.
Chloe gritou e se soltou de Alex. Um segundo depois uma força invisível a
agarrou pelos cabelos e a arrastou pelo chão para o interior da casa.
—CHLOE!!! — gritou Alex. A garota correu atrás dela, porém não
conseguiu alcançá-la antes que uma porta no chão feito de tábuas de
madeira se abrisse e a Chloe fosse jogada dentro do porão da Mansão
Fisher. Um tenebroso grito de dor ecoou por baixo do antigo piso do
casarão.
Desesperada Alex se jogou sobre a porta e tentou puxá-la novamente para
cima, no entanto, ela mal se mexeu. Pelas frestas de madeira do chão ela
podia ver um homem alto vestindo um velho jaleco branco avançar sobre
Chloe com um machado. Sem saber o que fazer Alex começou a golpear as
tábuas com o pé-de-cabra. Lascas de madeira podre voaram por toda a
parte e pequenas aberturas surgiram na porta do porão, mas nada
suficientemente grande para que ela passasse. Quando suas esperanças de
destruir a porta com a ferramenta se esgotaram, Alex pulou sobre as
tábuas já partidas e o chão finalmente cedeu sobre seus pés. Ela rolou
sobre as escadas do porão e quando finalmente alcançou o último degrau
um pedaço de madeira perfurou sua perna direita. Ela caiu no chão com um
bague e sentiu o líquido escorregadio e rubro embaixo de si. Por um
momento pensou que era seu próprio sangue vazando de seu ferimento, mas
quando levantou sua cabeça viu o corpo de Chloe jogado em um canto
daquele porão escuro. Lágrimas cortaram o rosto de Alex e com o pouco de
força que lhe sobrava rastejou até jovem morta. Havia várias cortes de
machado em seu abdômen e sua jaqueta preta agora não passava de um
conjunto desordenado de tiras de couro.
—Chloe… — murmurou ela enquanto agarrava uma de suas mãos sem ao menos
perceber que o espectro do doutor Harold Fisher se encontrava atrás
dela…
A MANSÃO FISHER
Por Stefani Kaline
O céu já havia escurecido quando Alex estacionara sua velha picape azul
em frente ao casarão. A Mansão Fisher era uma das construções mais
antigas da cidade e uma das mais assustadoras na opinião de muitos.
Ela ficava nos limites de Cherwood, bem longe das outras propriedades e
bem perto de um pântano. Sua fachada havia sido quase toda escondida por
um conjunto de árvores tortas que cresceram envolta dela como se para
proteger a mansão dos olhares desconfiados de alguns habitantes daquela
pataca cidade.
Todos os seus moradores haviam morrido de maneiras das mais variadas,
desde enforcamento até esmagado pela queda de um lustre gigante. Alguns
acreditavam que havia algum tipo de maldição, ou melhor, um espírito
maligno que se apossara do casarão e provocava o triste fim dos que ali
habitavam.
— Quer mesmo passar a noite aqui?! — perguntou Alex a uma garota ruiva
sentada no banco do passageiro a seu lado.
A jovem sorriu e pôs uma de suas mãos no rosto dela dizendo:
—Vai ser divertido! Eu, você, um saco de dormir e uma casa mal
assombrada cheia de fantasmas e demônios que vão nos matar ou nos
possuir.
—Isso não tem graça, Chloe! — bradou Alex.
Chloe afastou sua mão do rosto dela e cruzou seus braços abaixo dos
seios fingindo estar chateada.
— Tudo bem, senhorita “Tenho Medo de Casas Velhas”’. Talvez eu deva
chamar o Kevin White para vir comigo.
Alex fitou a companheira com uma mistura de raiva e decepção. Aquela
garota de meia-calça preta, jaqueta de couro e gargantilha com pingente
de pentagrama a fazia perder a cabeça, mas às vezes esse seu amor pelo
obscuro a irritava, como agora querer que a primeira vez das duas fosse
em um casarão abandonado.
As duas garotas continuaram paradas por mais alguns segundos uma olhando
para outra sem tomar qualquer atitude até que Alex quebrou o silêncio:
— Vamos lá.
Ela agarrou uma mochila preta que estava no banco de trás com uma certa
rispidez e saiu do carro, Chloe fez o mesmo, e com ela trouxe um
pé-de-cabra o qual entregou a Alex logo que elas se aproximaram da porta
da frente da mansão. Alex pegou a ferramenta das mãos da menina e
forçou a porta a qual em pouco tempo se abriu com um rangido. O hall do
casarão era um lugar amplo, cheio de antigos móveis cobertos por lençóis
brancos empoeirados. Havia uma grande quantidade de dejetos de roedores
próximos a uma escadaria em forma de caracol o que fez o estomago de
Alex revirar. Chloe que ainda estava atrás dela, deu um leve empurrão
para que a garota avançasse. Ela possuía um largo sorriso em seu rosto e
parecia estar maravilhada com interior do casarão. Depois que seus
olhos correram por todo o hall ela caminhou em direção a uma grandiosa
forma no centro do saguão e com um único movimento arrancou o lençol que
o cobria. Era um antigo piano de cauda. A garota se curvou sobre o
instrumento e tocou algumas teclas as quais produziram um som desafinado
que ecoou pelo lugar como a voz agourenta de um enfermo.
—Eu disse que esse lugar era legal! —exclamou Chloe quando o som do
piano cessou -Sabe qual é a história macabra dessa casa?
—Não! E não sei se quero ouvi-la — respondeu a outra menina.
—Seu nome era Harold, doutor Harold Fisher —- disse Chloe, apontando
para um quadro pendurado em uma das paredes do hall. Ele retratava um
homem de meia idade vestindo um velho jaleco de médico. Em uma de suas
mãos se encontrava um grosso livro de anatomia humana e na outra seus
óculos de grau com lentes arredondadas. Em meio ao seu arrumado cabelo
preto havia uma mecha esbranquiçada que indicava a vinda da velhice,
entretanto o que mais impressionava Alex eram seus olhos. Não eram azuis
nem esverdeados, mas negros e sombrios - Fisher havia construído essa
casa para morar com sua mulher e filho recém-nascido e ele atendia seus
pacientes aqui mesmo. Alguns diziam que ele era louco e quando um dos
enfermos morria na mansão guardava seus restos mortais no porão. Sabe,
era como um hobbie.
—Isso é loucura! - exclamou sua namorada sem ao menos tirar os olhos do
quadro.
—É apenas o que eu escutei - respondeu Chloe dando de ombros.
—E como a família Fisher acabou?
—Bom, Harold descobriu que sua mulher tinha um caso com o homem que
trabalhava como jardineiro na casa. Ele a cortou em pedaços e enterrou
no jardim, já o filho, o matou envenenado. Ele acreditava que a criança
não era sua. Depois de alguns dias ele se suicidou.
—Eu não sabia que você era tão boa para inventar histórias.
—Não acredita em mim? - indagou Chloe. — Acha que seria capaz de
inventar essa história toda? Bom, está errada. Isso tudo aconteceu e pra
falar a verdade, acho que estou até sentindo a presença dele.
A jovem ruiva esticou seus braços na frente de seu corpo e começou a
andar pelo hall apalpando o ar como se quisesse encontrar algo
invisível.
—Harold Fisher, você está aí?
—Não há ninguém nessa droga de lugar, Chloe! - bradou a outra.
—Cala a boca, Alex. Estou tentando fazer contato. Harold, você está aí?!
A brincadeira de Chloe acabou irritando Alex a qual em um ataque de
fúria destruiu um vaso de cerâmica azul que estava sobre um aparador
usando o pé-de-cabra. Sua namorada se calou no mesmo instante e ficou
imóvel observando ela destruir o resto do hall.
—Qual é, Harold, meu amigão? Onde você está? Apareça para que minha
garota fique feliz, eu só quero passar uma noite com ela, droga! É pedir
demais pra um fantasma?
—Alex, já chega! Nós podemos ir embora daqui! - disse Chloe ao se
aproximar da garota.
Ela passou seus braços envolta de seu quadril e começou a puxá-la em
direção a saída, contudo, a velha porta se fechou com um estrondo como
se um forte vendo a tivesse empurrado. Mas não havia vento, nem mesmo
janelas abertas no hall. As duas garotas espantadas permaneceram paradas
onde estavam a cerca de dois metros da saída. Chloe apertou ainda mais
seus braços em torno de Alex, afundou seu queixo no ombro dela e em um
sussurro falou:
—Acho que ele nos ouviu!
Aquilo foi o suficiente para que toda a coragem de Alex sumisse. Estava
prestes a dizer para fossem embora dali imediatamente quando o quadro de
Harold Fisher pregado na parede começou a pegar fogo espontaneamente.
Chloe gritou e se soltou de Alex. Um segundo depois uma força invisível a
agarrou pelos cabelos e a arrastou pelo chão para o interior da casa.
—CHLOE!!! — gritou Alex. A garota correu atrás dela, porém não
conseguiu alcançá-la antes que uma porta no chão feito de tábuas de
madeira se abrisse e a Chloe fosse jogada dentro do porão da Mansão
Fisher. Um tenebroso grito de dor ecoou por baixo do antigo piso do
casarão.
Desesperada Alex se jogou sobre a porta e tentou puxá-la novamente para
cima, no entanto, ela mal se mexeu. Pelas frestas de madeira do chão ela
podia ver um homem alto vestindo um velho jaleco branco avançar sobre
Chloe com um machado. Sem saber o que fazer Alex começou a golpear as
tábuas com o pé-de-cabra. Lascas de madeira podre voaram por toda a
parte e pequenas aberturas surgiram na porta do porão, mas nada
suficientemente grande para que ela passasse. Quando suas esperanças de
destruir a porta com a ferramenta se esgotaram, Alex pulou sobre as
tábuas já partidas e o chão finalmente cedeu sobre seus pés. Ela rolou
sobre as escadas do porão e quando finalmente alcançou o último degrau
um pedaço de madeira perfurou sua perna direita. Ela caiu no chão com um
bague e sentiu o líquido escorregadio e rubro embaixo de si. Por um
momento pensou que era seu próprio sangue vazando de seu ferimento, mas
quando levantou sua cabeça viu o corpo de Chloe jogado em um canto
daquele porão escuro. Lágrimas cortaram o rosto de Alex e com o pouco de
força que lhe sobrava rastejou até jovem morta. Havia várias cortes de
machado em seu abdômen e sua jaqueta preta agora não passava de um
conjunto desordenado de tiras de couro.
—Chloe… — murmurou ela enquanto agarrava uma de suas mãos sem ao menos
perceber que o espectro do doutor Harold Fisher se encontrava atrás
dela…
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