Como um
espartilho colado à cintura, o sentia, a apertar o peito, esse amor, que sem
ela saber bem como, ali estava. Contra o peito, espartilho, cortava o ar à
respiração. Tinha ouvido dizer que havia quem não o usasse, mas estava
habituada, o espartilho moldava-lhe a cintura fina, o colo generoso, sentia-se
bonita.
Não
poderia sair à rua sem o seu espartilho, seria mais um boneca desengonçada,
triste. Sabia que o silêncio a rodearia, como a olhariam, e que esse não esse o
olhar que queria.
Quando
tirava a roupa, quando a pele se tocava, os lábios se beijavam e os corpos se
misturavam, em movimentos compassados, ensaiados; ainda mantinha o espartilho.
Sentia aquele calor estranho, como se fosse apenas morno, mas ao mesmo tempo a
queimasse, deixando uma ferida fria que sarava no dia seguinte. Sarava quando
saía e não era boneca desengonçada, sem espartilho que a mantivesse elegante.
Mas
quando se via nua apenas ela, quando se atrevia a tirar a roupa frente ao
espelho, desapertava o espartilho, conseguia respirar, e parecia bom, parecia
que podia ser livre. E então o medo era mais forte, não podia ser bom, nunca
seria nunca bom, não seria nunca uma boneca desengonçada, triste, só.
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Dark Lolita (Kodona Style)_by Cha Tox |
Ao que se sujeitava por conta de não parecer uma boneca desengonçada. Aguentava algo que lhe tirava o ar...
ResponderExcluirAH! O preço que se paga para mostrar aquilo que não se é...
Subterfúgios, artifícios que também se tornam vazios...
Uma bela construção de texto. Gostei. Abraços meu
Isa, há uma sensibilidade e uma sensualidade intensas e profundas no seu texto.
ResponderExcluirFaltam palavras para te dizer o quanto adorei este texto!
Beijinhos!
Dulce
Malu, a paga parece-me ser sempre pesada. Mas também acredito que seja muito difícil encarar a alternativa!
ResponderExcluirObrigada pela leitura e comentário! :)
Dulce, o amor, em todas as suas formas, é intenso...!
ResponderExcluirObrigada pelo teu comentário! :) Beijinhos