Quem sou eu?

Danka Maia é Escritora, Professora, mora no Rio de Janeiro e tem mais de vinte e cinco obras. Adora ler, e entende a escrita como a forma que o Destino lhe deu para se expressar. Ama sua família, amigos e animais. “Quando quero fugir escrevo, quando quero ser encontrada oro”.

Comportamento: Histórias de Vida



Oi Galera Machine! Olá minhas Ciganas! Tudo bem por aqui?
   Como quem vive para escrita como eu e tantos mais, seja lendo ou escrevendo sabe que as histórias que mais mexe com  a nossa intensidade são as histórias reais. Reuni algumas que li pela internet a fora e trarei ao longo da semana para vocês.

Vivi a dor de um casamento sem sexo

Conheci Vinícius em Natal, Rio Grande do Norte, onde eu morava, em um encontro de estudantes. Ele era articulado, inteligente, sete anos mais velho e bonito: 1,75 m, moreno, olhos puxados. Eu também não era de jogar fora: magra, cabelos ondulados abaixo do ombro, nem alta, nem baixa. Na primeira noite, ficamos e continuamos juntos até o fim da temporada dele — nessa época, Vinícius vivia em Recife. Nossa história tinha tudo para acabar no aeroporto. Mas depois de um mês marcamos um reencontro na cidade dele e foi uma delícia. A partir daí, viramos namorados. Nos víamos de vez em quando. Por cinco anos, ficamos nesse esquema. Em 2003, cansados das viagens, fomos morar juntos em Brasília. Seria um treino para o casamento oficial. Só que deu tudo errado! Em pouco tempo debaixo do mesmo teto, Vinícius pifou, não conseguia mais transar. De uma hora para outra, ficou impotente, e eu quase enlouqueci.
Nunca tive problemas com questões sobre o prazer. Gosto de fazer sexo, falo com tranquilidade sobre o assunto e leio a respeito. Me considero uma mulher bem resolvida e saudável. Vinícius gostava do meu jeito, meio liberal, meio romântica. A gente se dava bem na cama, até irmos para Brasília. Fomos para lá porque ele arrumou um trabalho numa campanha política, e eu me descolei como secretária em um gabinete. Nosso apartamento era hipercharmoso, perto do Lago Sul. Por três meses, tivemos uma vida de sonhos. Chegamos até a fazer planos de ter filhos. Mas, um dia, ele falhou pela primeira vez. Vinícius teve uma semiereção, por assim dizer, e a penetração durou segundos. Não deu tempo de sentir nada. Quando achei que estávamos apenas começando, ele saiu de cima de mim, me abraçou e disse que estava feliz por morarmos juntos. Levantou da cama como se tivesse sido tudo normal, como se a transa tivesse sido ótima. Perguntei se havia algo de errado, ele respondeu ‘de jeito nenhum. Te amo’. Como não queria constrangê-lo, não falei mais nada sobre o que tinha acontecido, nem naquele dia, nem nas semanas que se seguiram. Ele também não comentou nada sobre aquela noite. A questão foi que ele nunca mais foi capaz de ter ereção. Fui suportando com paciência porque eu o amava.
Ficar em abstinência é bem complicado. Mas o pior foi administrar a minha cabeça: aceitar o que estava acontecendo, entender a situação. Vinícius agia como se tudo estivesse normal. Até hoje não sei se ele acreditava que é possível viver sem sexo ou se fingia acreditar. Minha primeira reação à abstinência foi o ciúme. Achava que a rejeição tinha a ver com outra mulher, que ele estava apaixonado ou tendo um caso e não sabia como me contar. Fiquei paranoica com isso, mas Vinícius dizia que não havia ninguém no mundo capaz de atrapalhar o amor que sentia por mim.
Acreditei. Mesmo porque éramos felizes fora da cama. Vivíamos trocando beijinhos, abraços, e até dormíamos de conchinha. Mas, na hora do sexo, não rolava. Quem via de longe não imaginava o que sofríamos. Para uso externo, éramos um casal completo. E, na verdade, eu me sentia amada — até porque ele era extremamente ciumento e possessivo, o que eu encarava como um sinal de amor. Tenho um blog no qual costumava escrever textos sobre amor e sexo (precisava escoar minha energia) e ele sempre me pedia explicações sobre os personagens, as frases, queria saber com quem eu tinha conversado, saído. Aparentemente, Vinícius também não tinha nenhum interesse que não fosse simplesmente gostar de mim — não dependia de mim para nada e até ganhava bem mais do que eu.
Nunca pensei em trair meu marido, nem quando estava havia três anos sem transar. Me mantive fiel porque achava um absurdo trair um marido impotente. Não que não pensasse em sexo, ou em outros homens, mas ninguém específico. Estava tão carente que, se via uma cena mais quente na TV, minhas pernas amoleciam. Tive uma centena de sonhos eróticos, homens musculosos e até mulheres me pegando, me seduzindo. O que mais me encafifava era não saber o que estava acontecendo. Como um cara viril, normal, de repente, se torna impotente?
A gente se beijava, se abraçava, se acariciava, mas, quando ele penetrava, era aquele desastre. Ele me masturbava, fazia sexo oral, mas jamais admitia que tinha falhado na hora principal. Por causa dessa recusa dele em reconhecer que não conseguia mais ter uma ereção comigo, não conversávamos sobre o assunto. Depois que a fase do ciúme passou, comecei a pensar em um monte de outros motivos para a impotência dele: tinha virado gay, estava com o vírus da AIDS e não queria me contar, tinha um câncer... Havia de existir uma razão para ele não conseguir transar comigo. Estava angustiada com a situação e ansiosa por uma explicação.
Depois de quatro anos sem transar, convenci Vinícius, que resistia a aceitar que tinha um problema, a procurar ajuda. Primeiro fomos ao urologista e, clinicamente, ele não tinha nada de errado — só precisava tomar um revigorante para ficar mais animado. Também me submeti a uma série de exames e estava ótima. Nosso problema só podia ser emocional. Fomos, então, parar em um psicólogo especializado em terapia de casal. Ele queria saber se Vinícius era mesmo impotente e, para se certificar, mandou meu marido fixar uma espécie de papel na ponta do pênis por uma semana. Se acordasse sem os papéis, tinha tido ereção noturna. Na manhã seguinte, surpresa! Os papéis tinham caído. Fiquei feliz, abracei Vinícius, beijei, fiquei louca. Minha excitação durou pouco. Ele retribuiu aos carinhos, só que não conseguiu transar.
Seguimos todas as recomendações do psicólogo: compramos brinquedos e filmes eróticos, gel, pomadas. Levava Vinícius para tomar banho comigo, fazia massagens, tentava masturbá-lo... Nada. Continuamos fazendo terapia, mas não havia progresso. Viver sem sexo ao lado do homem que se ama é uma viagem alucinada. Depois de três anos sem penetração, aprendi a ter prazer com vibradores, borboletinhas, chuveirinhos, almofadas. Arrumei mil maneiras para resolver o meu problema.
Comecei a pensar em táticas para seduzi-lo. Achei que abordá-lo em um momento inesperado poderia fazer com que se animasse. Enquanto Vinícius tomava banho, eu me despi e fiquei nua, de pé, no caminho do banheiro para o quarto. Quando me viu, ele abriu um sorriso e andou até mim. Mas quando chegou perto, virou de costas e seguiu caminhando para o quarto, evitando assim, qualquer tipo de contato sexual entre nós, mesmo que fosse apenas visual. Também pedi para ele passar cremes hidratantes no meu bumbum, fazer massagens. Nada funcionava. Era frustração atrás de frustração.
Meu estado de carência chegou a tal ponto que até senti inveja de uma grávida que pedia esmolas na rua. Se esperava um bebê, tinha feito sexo. Por um instante, quis trocar a minha vida pela dela. Topava ficar nos faróis pedindo moedas, desde que tivesse sexo... A vida tinha ficado chata, triste. Embora Vinícius agisse como se nada de grave estivesse acontecendo, passou a comer compulsivamente. Chegou a pesar quase 100 quilos.
Como a terapia não estava dando resultado, decidimos ir a uma clínica especializada em impotência para fazer um tratamento que prometia soluções milagrosas. Ele só precisaria tomar umas injeções e tudo voltaria ao normal. O procedimento, mais uma vez, não deu em nada. Um dia, arrumando umas gavetas, descobri caixas lacradas do remédio que o urologista tinha dado para Vinícius ficar mais energizado. Ele não estava tomando nada. Fiquei furiosa, mas não falei nada. Comprei uma caixa de Viagra e coloquei o remédio no suco de laranja, sem que ele soubesse. Ele tomava aquele copo enorme e eu torcia por dentro. “Vai dar certo, tem que dar certo.” Nada.
Vinícius dizia que me amava, sentia tesão por mim, mas que a vida não podia ser apenas sexo. O amor dele por mim era enorme! Cheguei a dizer que, se ele achasse que nunca mais iria funcionar, eu devia ser avisada. Assim, tentaria me adaptar. Eu também o amava! Falava isso mais como uma forma de cuidar dele, numa tentativa de deixá-lo seguro. A ideia de ficar o restante da minha vida sem sexo era assustadora.
Por causa desse sofrimento, minha saúde psicológica foi afetada. Eu, que sempre tive variações de humor durante o dia, fui diagnosticada com uma bipolaridade leve. O psicólogo que me atendia acabou me encaminhando a um psiquiatra. Para controlar o transtorno, o médico me receitou um remédio que ajustava essas oscilações de humor, mas inibia a minha libido como efeito colateral. Pronto! Não sentia mais desejo por nada. Deixei de sair, de ir ao cinema, de jantar com amigos, de conversar com Vinícius. Nós éramos dois senhores centenários na frente da TV. Nessa época, ele chegou até a reclamar que eu não o procurava mais para sexo, o que me deixou surpresa. Mas, por causa da medicação, eu não queria transar de modo algum. Depois de um ano tomando o remédio, entrei em depressão. Dormia muito, não queria sair de casa, ir trabalhar. Também deixei de cuidar de mim. Já não me depilava mais, deixava a sobrancelha crescer, vestia o que aparececesse na frente. Não conseguia sequer me olhar no espelho. Para uma mulher vaidosa, essas atitudes eram o fundo do poço. Exatamente onde eu estava. Arrasada, destruída, me sentindo um lixo, comecei a achar que ele me recusava porque eu era feia. Me sentia a última das mulheres, incapaz de despertar o desejo em um homem, o homem que eu amava. O médico trocou a medicação. Quando troquei o antigo remédio por um antidepressivo, o desejo voltou ao normal, mas a minha vida sexual não.
Precisava desesperadamente transar! Vinícius não passava das carícias e até me ajudava com os brinquedinhos. Mas eu me sentia horrível com toda essa gentileza! Uma noite, me descontrolei e falei um monte. Disse que ele ia me perder, que estava me jogando fora, que viver sem sexo era uma coisa, mas sem perspectivas era outra... E que eu sabia que ele não estava fazendo nada que os médicos mandavam! Eu estava a ponto de bala. Vinícius ouviu tudo calado, imóvel. Mais uma vez, agiu como se nada tivesse acontecido, como se eu estivesse vendo problemas onde não havia — e não respondeu a nenhuma das minhas críticas.
Estávamos quatro anos sem transar quando meu ginecologista me recomendou o melhor urologista de Brasília. Quando mencionei esse novo médico, Vinícius ficou furioso, falou que eu o pressionava, que eu só pensava em sexo. Dessa vez, não hesitei. Ou ele se tratava, ou a nossa história terminava ali. Vinícius aceitou encarar outro tratamento.
Passamos o ano de 2007 sem transar, mas, pelo menos, tive esperança de que tudo voltaria ao normal. Nessa tentativa de recomeço, passei a organizar uma viagem para a Europa. Seriam 20 dias só a gente, vivendo outros ares. Havia de funcionar! Partimos em maio do ano seguinte para Barcelona, nossa primeira parada. Depois fomos para Roma, Paris, Madri e Lisboa. A viagem foi divertida, conheci lugares novos e o clima entre a gente estava bom. Eu o procurei para transarmos uma única vez. Toquei o pênis dele, nos beijamos, mas ele disse que estava com dor de cabeça — a desculpa clássica feminina. Aquilo não era novidade para mim. Embora tenha ficado um pouco frustrada, não fiquei triste, não chorei. A verdade é que não encontrei cenário capaz de me ajudar a ter uma noite de sexo com meu marido. Voltei para Brasília decidida a terminar tudo.
Dois meses depois, eu saí de casa. Vinícius ficou inconformado e tentou me convencer de que poderíamos ser felizes. Jogou na minha cara que eu não o compreendia. Chegou a dizer que eu estava colocando a vida dele em risco. Era uma ameaça! Foi difícil deixá-lo, mas minha sanidade mental estava em jogo. Se um de nós tivesse que enlouquecer, que não fosse eu. Vinícius passou um ano tentando reatar. Perdeu 15 quilos, fez questão de me contar que estava curado e me pediu uma nova chance. Eu rezava para não cair em tentação, para nunca mais ter vontade de beijá-lo. Não queria me arriscar de novo ao lado dele.
Eu também estava magoada com ele porque alguns amigos nossos, depois da separação, vieram me dizer que Vinícius teve vários casos fora de casa. Ou seja, ele só não transava comigo. Uma amiga chegou a dizer que achava que o meu casamento era aberto, desses em que cada um transa com quem quer, tão frequentes eram as puladas de cerca dele. Me senti mais lixo ainda! Pensei em tirar satisfação, afinal passei cinco anos sem sexo e jamais pensei em traí-lo. Mas desisti. Até hoje não sei se era verdade. Saber ou não se fui traída não traria minhas noites de prazer de volta.
Uma das teorias que me deram para a tortura porque passei é que Vinícius me amava tão profundamente que esse amor intenso o bloqueava para o sexo comigo. Ele queria me ver como uma virgem. Negócio de gente maluca. No final de 2008, deixei Brasília para morar em Recife. Arrumei emprego como gerente de uma loja de roupas, prestei vestibular para fisioterapia e entrei. Estou estudando. Vinícius ficou em Brasília, hoje é funcionário público. A distância e o tempo me ajudaram na recuperação. Faz um ano que conheci meu atual namorado, cinco anos mais jovem que eu, cheio de energia, e bem bonito também. No início, tive medo de não dar conta do recado — ele queria transar várias vezes na mesma noite, mas eu estava desacostumada. Foi difícil relaxar, me abrir. Ele entendeu a história e me ajudou a retomar minha vida sexual. Há cinco meses, resolvemos ter um filho, e estou grávida. Sempre quis ser mãe, estou com 31 anos! Ficamos meio tontos com a notícia, mas adorando a ideia de sermos pais.
Depoimento dado à Marie Claire em 2010
Fonte: Marie Claire

Se você quiser compartilhar sua história de vida conosco escreva para o e-mail: dankamaia@yahoo.com.br, não precisa se identificar seu anonimato será garantido.

Conheça minhas histórias:

Compartilhar:
←  Anterior Proxima  → Página inicial

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agora no Blog!

Powered By Blogger

Total de visualizações de página

Danka na Amazon!

Siga Danka no Instagran

Danka no Wattapad

Curta Danka no Facebook!

Seguidores

Confissões Com Um "Q" De Pecado

Entrevistas

Danka no Google+!

Danka no Twitter

Danka no Skoob

Seguidores

Arquivo do blog