Durvalina era uma pessoa daquelas que todo mundo conhece,
tem por perto ou longe de si,mas já viu em algum momento da vida.A questão era
que desde seu nascimento Durvalina recebeu como herança o título de "Azarada da família". Todos
pensaram que seria um menino depois de nove mulheres na linhagem e receberia a
alcunha de João Felipe de Costa Abrantes, porém, veio a garotinha franzina e a
esperança de todos por água abaixo. A mãe desolada falou ao pai que colocasse
um nome lá qualquer, no caminho para cartório, o homem fumou todos os cigarros
que jaziam no bolso esquerdo de sua calça de linho. Na procura por mais um,não
encontrando, adentrou na primeira birosca,apontou para a primeira cartela de
cigarros irritado e quando levou a boca, a chupeta do diabo era tão ruim que
tratou de ler o nome da marca,e adivinham qual era? Durvalina.
Os anos foram passando pela vida da mulher, tendo que ver a
irmã mais velha acertar na loteria depois que encontrou um trevo de quatro
folhas. Indagada e instigada pelo povo dizia o mesmo de sempre:_ Cada um tem a
sorte que merece! _ seguindo a vida como uma mera diarista.Criando os filhos,
até que a vizinha ofereceu um coelho,no entanto na hora de passar o bichano
pela cerca da casa, um infeliz incidente fez com que o rabinho do felpudo
branquinho fosse ceifado e onde foi que ele caiu? No quintal da vizinha, que no
dia seguinte recebeu a notícia de uma herança de um parente tão distante que
nem a dona sabia que tinha.Outra vez questionaram Durvalina pela sua falta de
sorte e outra vez ouviram:_Cada um tem a sorte que merece!
Passados anos de vendo trevos, rabos de coelhos, fechaduras,
figas e tantas outras coisas que o povo diz dar sorte, foi numa madrugada que a
senhora dessa história encontrou a sua. Devia ser lá pelas três da manhã,
aquela hora que todo mundo que faz uso do remédio de pressão conhece. Temos que
ir ao banheiro!_Pensou consigo e o chinelo de pano.Lá estava Durvalina
esperando o tempo passar quando sem querer bateu os olhos numa figura quase
transparente no fim do batente de sua porta azul céu. Na primeira vez que
olhou, achou estranho. Lá nos seus adágios ponderou:
_Gente, isso existe?_ Sim existia. A questão era que era
rara e por isso a diarista não tinha se deparado anteriormente. Aliás, como
muitas coisas na vida que julgamos não existir pelo simples fato de jamais ter
visto. Ela era mediana, branquinha, olhos pretos grandes para seu porte e bem
negros.
Durvalina danou a gargalhar logo que teve certeza do que
era.Riu tanto da barriga doer. O que estava ali a sua frente tratava-se de uma
barata albina. Cuidadosamente, apanhou um frasco vazio de vidro e encurralou a cucaracha no recepiente. Na manhã que
inicou-se não houve no bairro quem não quisesse ver a tal barata albina que
apelidou carinhosamente de Sortuda.E juntos com a multidão vieram os
comentários:
_Mas como? Eu que ganhei na loteria, viajei o mundo
inteiro,nunca vi um inseto assim? -Quis compreender a irmã rica.
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