Coluna GATICES E OUTROS BICHOS - Azar dobrado
Por Shirley Couto.
Quando o azar aparece, ele nunca vem sozinho, traz sua família inteira!
Em plena manhã de segunda feira, cinco da matina mais precisamente, minha 'dona' sai para trabalhar e eu fico olhando por detrás da cortina do vitrô da sala. Todos os dias sigo o mesmo ritual. Contudo, nesse dia, fui surpreendida pelo barulho de um carro estranho e velho (se é que posso chamar aquilo de carro), parado em frente a nossa humilde residência.
O maldito carro fazia mais barulho que sirene de viatura policial em perseguição nos filmes americanos. Parecia que aquele inferno jamais fosse acabar. Na verdade, não acabou, piorou.
Em meio a agitação de seu atrapalhado condutor; aos olhares curiosos das pessoas que, como minha 'dona', passam rumo ao ponto de ônibus para mais um dia de labuta; e dos latidos incansáveis dos meus horrendos amigos caninos, vindos da casa de minha vizinha ao lado, aparece repentinamente um bandido.
Sim, caro leitor, um ladrão! Como diz o ditado: "nada é tão ruim que não possa piorar!"
O atrapalhado motorista daquela lata velha, encalhada em frente ao nosso portão, estava tentandofazer com que seu meio de locomoção (não me atrevo a chamar aquilo de carro, como ja disse) ligasse, mas nada conseguia. Tentava uma vez, duas, três, mil vezes e nada. Tirava a chave da ignição, colocava de novo, repetia a rotina, parava, respirava, soltava um palavrão entre cada tentativa e voltava ao ritual. Nada!
De repente, do nada, como que para fechar o dia com chaves de ouro, chegam dois motoqueiros (novidade!) muito bem vestidos (até pensei que fossem ajudar ao pobre coitado, dono do carro) que anunciam:
- Isso é um assalto! Queremos carteira, celular, relógio e seu carro.
O dono do carro (carro? eu disse isso?) com uma calma nada esperada, olha para os ladrões, suspira e pronuncia as seguintes palavras:
- Podem levar! Mas uma coisa eu lhes digo: se esse carro funcionar com vocês eu passarei a acreditar em duas coisas, milagre e azar. Azar dobrado.
Eu, Morgana, do outro lado do vitrô da sala, sem que ninguém percebesse , fiquei apenas a pensar:
- Como pode uma pessoa ter tanto azar? Aff, ainda bem que sou uma bichana amada por meus 'donos' e que jamais saio na rua, pois sei o que me espera se eu sair!!!!
Formada em Letras pela Unicamp, com pós-graduação em Língua Portuguesa, Shirley Couto é professora de Português do colégio Sérgio Buarque de Holanda, na Zona Sul de São Paulo. Realiza trabalho de leitura e redação com alunos das séries finais do Ensino Fundamental e escreve a coluna Gatices e outros bichos para o blog da Editora Nova Alexandria toda sexta-feira.
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