Apesar de ter um dos meus livros com o mesmo título,essa cronica é inédita!
Aprecie Sem Moderação!
Mina
vivia pelas ruas causando alarme nos
vizinhos e o que causava espanto era que além de muito ágil parecia não
ter muitos sentimentos. Alguma coisa na vida daquela menina a
transformara ou simplesmente
não permitira que desabrochasse para o
mar dos emoções.Por duas vezes haviam a levado para uma Instituição de
menores,mas fugia, e no outro dia lá estava Mina,a menina que não tinha
saudade.
Morava
debaixo da ponte com avó, o que ninguém sabia era que os pequenos furtos de
alimentos ou roupas que a garota cometia, tinha naquela avó a ultima morada da
guria.No entanto,a vida tem sim essas mazelas, apontamos o dedo indicador como
juízes,afinal, ofertar os demais sempre carece maior esforço, na verdade um
pouco,somente um pouco de intenção. A vida da mocinha resumia-se ao comer o
almoço e já traçar como arrumar o jantar, não havia espaço para emoções,cria que eram
poções que a gente pode esperar.
Na
vizinhança observando jazia Clemente, bancário aposentado, cabelos grisalhos,
óculos fundo de garrafa, sempre barba por fazer, um poeta não assumido, um
amante de causas impossíveis, toda vez que o destino cruzou o caminho senil
coma menina, era isto que Mina representava para ele, uma causa não perdida,
mas esquecida, daquelas milhões que a humanidade não quer se ocupar.
_Essa
menina não presta!
_Pivete!
_Safada!
_Ladra!
Todos
diziam, todos não, havia um que nada discorria,
a via com olhos especiais.Sim,porque é necessário ver de outra vertente o nó cego
que a vida dá.E enfim houve um dia que
Mina foi a casa dele para furtar e Clemente que já a esperava deixou uma mesa
farta e a convidou para sentar.
_O
senhor vai me prender?
_Não.
_Vai
me matar?
_Não.
_Vai
me estuprar?
_Também
não.
_Vai
fazer o que?
_Eu
vou te escutar.
A
garota abaixou a cabeça, ninguém jamais a contara que o que falava era digno de se ouvir.Pensou
consigo:"_Esse velho doido,vou sumir daqui."
_Olhe
moço,não perca seu tempo comigo.Sou alvoroço,nasci com o pé torto,estragado, eu
não chego lá.
_Depende.
- rebateu Clemente.
_De
que?
_De
onde for o seu lá.O meu era aqui,-mostrando a sua casa, a foto das filhas e da
esposa já falecida.-E eu cheguei,então ,você também pode chegar.
_Posso
não, todo mundo fala que sou coisa ruim.
_A
questão não é o que te falam, e sim, se você escuta. O mundo pode falar severas coisas de mim,mas eu estou
aqui,e o que eu sou,só eu sei,ninguém mais,e nisto que se deve acreditar.
_O
senhor sabe o que é saudade?- ela indagou como súplica.
_Sim,
vivo nela e dela sou. Você não?
_Nem
sei o que ela é doutor.
_Venha
comigo. - Disse o moço a puxando dorso da mão.-Pode ver aquele lindo beija-flor
ali em cima daquele muro? Alinhe seu corpo aqui na minha sombra, está vendo?
_Sim,
estou vendo!- explodindo de alegria. -Ele é azul-escuro brilhante e ...- o pássaro voou.
_Já foi o segundo!
Passou o instante! - arrematou o homem.
A
menina pôs os olhos em Clemente sem esconder a frustração e desencanto da
precoce partida da ave.
_Se
foi... - concluiu.
_Saudade
é isto, filha.
_O
que?
_Este
segundo que acabou de passar. A Saudade nunca passa, é sempre esse segundo
presente perdido de que algo ou alguém que amamos que acabou de esvair cá entre
os dedos. -mostrando-lhe a mão.-Mas toda vez que ela roí,volta-se no tempo.-
volvendo o corpo dela para o muro.-Fecha-se os olhos,expurga as dores,sai
rancores,perdões e o que era prisão vira liberdade, e o que era tristeza vira
alegria, e o que era maldade-agora tocando nela.- Torna-se bom por natureza.
_Por
quê?
_Porque
a saudade é mais refinada das purezas.
_Eu
quero ter saudade.
_Para
lembrar-se do beija-flor ou sentir dentro de si o toque da intensidade?
A
menina só falou:
_Para
deixar de ser maldade.
Clemente
se comoveu com as palavras e a expressão decidida no semblante da menina.
_Você
tem pai ou mãe?
_Só
avó.
_Nem
irmão?
_Cairão
no mundo,sei deles não.
_E
você gostaria de ter o que para sentir saudade?
_Alguém
feito o senhor já bastava.
_E
o que tenho de especial?- quis saber o velho Clemente.
_Me
fez sentir que sou gente, que posso ser normal.
Ele
a abraçou contra o peito,afanou seus cabelos ensebados.Assumiu que lhe daria
trato,cuidou de sua avó e Mina adotou.As pessoas o paravam na rua, a pergunta
era sempre a mesma.
_Clemente,
não tem medo homem do que essa menina pode te fazer?
Ele
ria, coçava a cabeça. Porque é preciso
ter paciência com a ignorância, e mais uma vez se permitia esclarecer:
_Vida
faz mal a morte?
_De
certo.
_Então
é de mal que irei morrer, e saiba você, que é Mina quem vai me oferecer.
_Essa
menina não tem jeito, e você já homem de idade!-berrava o moço.
_Numa
coisa tem razão, eu tenho idade.Mas quanto o jeito,esse deu o seu,esvaneceu e
assumiu a Menina Que Não Tinha Saudade.
Apreciei sem moderação alguma!! :)
ResponderExcluirBeijinhos, Danka!