
Neste artigo apresento os fatos, que já são do conhecimento de alguns, sobre a situação das igrejas evangélicas na Nigéria, onde os pastores estão acusando crianças de serem bruxas e cobrando altas taxas para exorcizá-las. Procurei fazer uma exposição clara para que o cidadão normal, não acostumado com a linguagem do “gueto” evangélico, também pudesse compreender a situação.
O leitor também encontrará informações sobre o grupo brasileiro do “Caminho da Graça” enviado à Nigéria, pelo pastor Caio Fábio, com a ajuda de irmãos do Caminho em todo o Brasil. As informações que deram origem as investigações são formadas por dois vídeos (vídeo 1, vídeo 2), e as demais estão reunidas no site do pastor Caio Fábio na seção intitulada “Dossiê Nigéria“.

Nwanaokwo Edet, 9 anos, foi forçada a beber
ácido pelo pai após pastor evangélico acusá-la de bruxaria. A menina
ficou cerca de 1 mês internada em Akwa Ibom, Nigéria, antes de morrer.

Moradores revoltados com Udo, 12, com um
facão, acusando-o de ser uma bruxa. Seu braço quase foi cortado. Fonte:
http://guardian.co.uk

Mary, 13 anos. Jogaram ácido em seu rosto após ser acusada de ser uma bruxa. Fonte: http://guardian.co.uk
Quem são os pastores que praticam esse tipo de coisa
São pastores que se “converteram” das “cruzadas evangelísticas” feitas por missionários da América do Norte ou da Europa, que seguem a linha pentecostal e neopentecostal de doutrina. Para que o leitor leigo no assunto saiba o que significam essas designações, darei alguns exemplos de igrejas pentecostais e neopentecostais brasileiras: pentecostais, por exemplo, Igreja Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Brasil para Cristo, Igreja Deus é Amor, entre muitas; como exemplo de neopentecostais, temos: Igreja da Graça, Igreja Mundial do Reino de Deus, Igreja Renascer em Cristo, Igreja Sara Nossa Terra (lembrando que esses são somente exemplos e não significa que essas igrejas estão envolvidas; apesar de não fazerem nada à respeito e algumas apoiarem pessoas como Reinhard Bonnke).
Pastor evangélico humilha detentos em presídio usando hipnose e diz ser o "Espírito Santo".
Igreja Universal do Reino de Deus, por
ocasião de crise financeira, cria a "Vígilia dos 318" para atrair
empresários desesperados. Poucos empresários, que supostamente obtiveram
prosperidade de Deus na vigília, são entrevistados exibindo sorrisos e
carros luxuosos.
Imagine o que uma crença desse tipo, capaz de sincretismos tão perversos, é capaz de criar em um país como a Nigéria, recém colonizado e vítima de golpes militares e guerras civis sangrentas. Desejosos por terem uma vida luxuosa, como a que se tem nos países ricos, de onde vêm os missionários, não demorou muito para que 90% do povo se tornasse cristão.
Os antigos deuses dos nigerianos foram vencidos pelos colonizadores, assim como nas guerras da antiguidade, onde os deuses dos países vencidos (incapazes de conduzir o povo a vitória) eram substituídos, aos poucos, pelos deuses do povo vencedor.
Reinhard Bonnke costuma reunir cerca de 1,6 milhões de pessoas em suas "cruzadas evangelísticas" na África.
O jornal alemão Die Zeit o caracteriza como “um dos mais bem sucedidos missionários do nosso tempo” (Fonte). Como se não bastasse, esses missionários na África ainda recebem caches milionários para virem pregar em congressos em outros países, como aconteceu aqui no Brasil.
Pastor Reinhard Bonnke, corrompe a fé em
Jesus na África e é recebido pela Igreja Batista da Lagoinha como um
grande "homem de Deus".
“Velhas tradições africanas que através do Cristianismo não foram absorvidas ou marginalizadas, serão completamente tomadas por estas igrejas. Bruxaria e magia são uma realidade, temos a força para lutar contra isso”, afirma Kamphausen ( diretor da Academia de Missão da Universidade de Hamburgo).
Como funciona o esquema
Os missionários brancos, vindos da América e da Europa, não se envolvem diretamente com a vitimização das crianças, como já era possível imaginar. Isso representaria muitos problemas para eles, tanto na Nigéria como em seus países de origem; um problema desnecessário, uma vez que o negócio deles é promover grandes cruzadas e construir grandes ministérios.
Feto de uma mulher é entregue durante um serviço meia-noite em Akwa Ibom. Fonte: http://guardian.com.uk
Assim como fazem aqui no Brasil, ensinam o povo que a pobreza é uma obra do diabo, e que a inveja e o olho gordo de pessoa de fora da comunidade, é o responsável pela má sorte nos negócios, na família e na vida sentimental. A resposta para essa situação de miséria é então fornecida por esses pastores. Eles ensinam que o fiel comprometido com a “obra” não está a mercê dos espíritos causadores de má sorte e também que Deus dará uma posição privilegiada na sociedade aos mais fiéis.

Pastor José Ita, Liberty Igreja Evangélica em
Eket, acredita que as crianças, incluindo bebês, seriam bruxas por
terem comido no passado comida envenenada. Fonte: http://guardian.com.uk

Meninos gêmeos Itohowo e Kufre estão cercados
por aldeões irritados que acreditam que eles estão trazendo o mal para
suas vidas Robin Hammond / The Observer. Fonte: http://guardian.co.uk
Dessa forma, o que resta a eles é usar o medo da bruxaria que os nigerianos possuem, pois o assunto bruxaria está presente na cultura nigeriana há milênios. Não é mais possível dizer na Nigéria que pessoas não crentes enviam maldições as pessoas (como aqui no Brasil se faz devido a Umbanda e o Candomblé), pois mais de 90% da população é evangélica. O que eles fazem é usar um mito antigo de que existem “crianças bruxas” enviadas por Satanás para atrapalharem os negócios da família, trazendo má sorte e doenças, acusando as únicas pessoas que não têm voz em um país de gente embrutecida e gananciosa, como a Nigéria de hoje em dia.
Vídeo promocional, produzido pela pastora
Neusa Itioka, convocando as nações a declararem guerra contra a
feitiçaria. A libertação dos espíritos opressores deixa de ser Graça de
Deus para se tornar obra feita pelo homem, usando o nome de "Jesus",
como se Ele fosse um "espírito mais poderoso".

Jovem acorrentado em igreja evangélica
passando por processo de "libertação". É estranho pensar que uma pessoa
que busca ser liberta vive acorrentada a uma coluna num templo
evangélico.
Reportagem da TV Americana ABC sobre as crianças acusadas por pastores.
“Há no vídeo um religioso católico, lutador solitário, que vamos procurar encontrar a fim de trabalharmos juntos contra o comércio de alminhas humanas. Para aqueles seres mais sectários e apologetas, que endurecerão o coração com a veiculação de uma matéria que poderia ser tendenciosa, já que um padreco africano encaminha os repórteres americanos aos cultos “evangélicos”, eu só tenho a dizer o seguinte: ‘Sejam esmagados pela realidade das imagens promovidas pelo teatro de horrores que a teologia da prosperidade já fez em toda a África Central… em proporção endêmica! E façam apologia contra a praga neopentecostal e não contra o Amor!’” (Fonte).
E as autoridades nigerianas?
As estatísticas sobre o crescimento dos grupos pentecostais, chamados “carismáticos”, impressionam. Segundo o World Christian Database, em Boston, a Nigéria é o terceiro país do mundo em número de seguidores de igrejas pentecostais, com aproximadamente 3,9 milhões de fiéis. O país fica apenas atrás do Brasil, com mais de 24 milhões, e os Estados Unidos, com cerca de 6 milhões.
Álbum de imagens das "crianças bruxas",
estigmatizadas pelas igrejas evangélicas nigerianas, acolhidas pelo
CRARN. (clique na imagem para abrir)
Em seu último comunicado (15/01/2010), os irmãos do “Caminho da Graça” enviados para ajudarem as crianças, relataram a situação que encontraram no lugar onde muitas crianças de refugiam
“[...] Falo a respeito da mais estranha categoria de estigmatização infantil. Tenho por certo que uma bomba de insanidade varreu a humanidade que um dia possa ter existido aqui. Agora… para qualquer lado que se olhe, está tudo lá… É difícil apagar. Ficou estampado, marcado, manchado. É um painel de horrores e o famoso clichê se aplica aqui: É cenário de guerra civil. Tem sangue, mosquito, estupro, abutres, mutilação, monturo, extorsão, maldição, feitiçaria, tumores, exploração, correntes, medo, terror cristão, desencanto e morte.” (Fonte).Na Nigéria não existem leis de proteção as crianças como em nosso país e não há ninguém que se importe com elas. Os missionários cristãos com suas “teologias de prosperidades” e o estilo de vida dos países capitalistas, pregados como os “ideais de Deus para os homens”, fez com que o povo nigeriano, acostumado a tantas guerras e dificuldades, se tornasse extremamente gananciosos e amantes do dinheiro. Quando os pastores acusam suas crianças de bruxaria, alguns pais veem aí uma oportunidade de se livrarem de suas crianças, as quais não têm para eles nenhum valor econômico (veja reportagem da tv norte-americana ABC acima).
Multidão formada por evangélicos invade reunião de ONGs pelos direitos humanos das crianças estigmatizadas na Nigéria.
“Os obreiros-empregados da “Helen-Macedo” usam os mesmos artifícios empregados aqui, na luta contra os “ímpios” que, cegados pela incredulidade, NEGAM que as crianças sejam BRUXAS. No vídeo de quase 3 minutos, a “gangue” da evangelista invade o salão. Eles estão todos de laranja. Entram de surpresa decretando domínio territorial em nome de Jesus e cantando louvores de guerra. E terminam por expulsar na violência um organizador (grandão, por sinal).” (Fonte).
Nollywood, a Hollywood da Nigéria

Logo da Nollywood, a indústria cinematográfica da Nigéria e terceira maior do mundo.
“O cinema da Nigéria tem crescido nos últimos anos e, embora seja um mercado extremamente informal, teve uma grande explosão de produção (…) que tem chamado a atenção mundial por suas características únicas. Toda as produções são realizadas em vídeo. Sua produção é tamanha que já lhe rendeu o apelido de “Nollywood”, pode ser considerada a terceira maior indústria de produção de cinema do mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood. Em volume de produção, “Nollywood” talvez seja até a maior, já que desde o final da década de 1990 são feitos mais de mil filmes por ano.
O mercado da Nigéria é exclusivamente de homevideo (com 90% da produção sem distribuição oficial, legalizada), pois praticamente não existem mais salas de cinema no país. Com este panorama, não é possível apontar com alguma precisão o tamanho desta indústria. Faltam estatísticas precisas ou elas simplesmente não existem. A única fonte oficial minimamente confiável é o National Censorship Board, responsável pela classificação indicativa, embora o órgão não dê conta do grande volume de produção, e de toda sua informalidade, com muitos filmes sendo “lançados” sem a indicação etária. Sem salas de cinema, a Nigéria conta com cerca de 15 mil locadoras, e em quase todo tipo de comércio pode-se encontrar filmes para vender ou alugar. Estima-se que cada filme venda cerca de 25 mil cópias (…).
Geralmente são os próprios produtores que se encarregam da distribuição das fitas e DVDs, garantindo um retorno financeiro fácil e rápido, com uma margem de lucro não muito ambiciosa, mas volume muito grande. Com esse esquema de produção, em apenas 15 anos a indústria cresceu do zero para um mercado de cerca de US$ 250 milhões por ano que emprega milhares de pessoas. Estima-se que cerca de 300 diretores estejam em atividade, produzindo um total de aproximadamente dois mil filmes por ano. O sucesso desta indústria reside principalmente no fato de a temática dos filmes ter um apelo direto com o público local, por tratar de preocupações, conflitos e realidades que frequentam o noticiário e o imaginário da população local. Os temas mais frequentes são a AIDS, corrupção, prostituição, religião e ocultismo.” (Fonte).

Cartazes de produções da Nollywood estão aos montes pelas ruas da Nigéria.

Cena de um filme típico produzido em
Nollywood, onde um boi real é sacrificado na frente das câmeras. Dá pra
imaginar o "bom gosto" dos filmes produzidos por lá (Fonte).
A maior produtora desse tipo de filme é a evangélica Helen Ukpabio, famosa no país por ser produtora de cinema, e recentemente tem feito adversários na sociedade civil por instigar a ideia que crianças podem ser bruxas, demoninhos serviçais de potestades brancas (Fonte).

Cartaz de uma cruzada promovida pela
evangelista Helen Ukpabio chamada "Erradicação da feitiçaria". É
chocante saber que, no caso, os feiticeiros são crianças com menos de 10
anos de idade.
Trecho do filme "O Fim dos Ímpios" produzido pela evangelista Helen Ukpabio, onde crianças são feitas bruxas.
“Profetisa neopentecostal, de visão macediana em suas campanhas de libertação, e muitos empregados-obreiros fanáticos que fazem Batalha Espiritual contra pequeninos, Helen Ukpabio é a “neusa etioka” da África. A diferença é que se a Sra. Etioka visse que sua pregação estimula o abandono infantil, a agressão contra os pequenos, o amordaçamento das crianças de peito, o embaraço emocional e o infanticídio real, há muito ela, nossa Neusa, teria parado de falar. Calar-se-ia para sempre!
Mas Helen Ukpabio fez fortuna. De onde está, não tem como voltar.
Assista ao vídeo e pense que você é um adulto nigeriano que congrega numa igrejinha perto de casa. Imagine que você tem filhos pequenos, meio levados, meninos saudáveis mas, às vezes, atrapalhados; que deixam cair um prato, quebram um copo sem querer, brigam na escola. E antes de culpar a intolerância pagã de um cristão nigeriano, pense se você já não procurou culpados espirituais por suas doenças e desempregos.” (Fonte).
Fonte:atestemunhafiel
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