Pois é caro Diário,lá vem eu!
Há uma música, que mexe muito comigo por muitos
fatores diferenciados do que citarei hoje.
O de hoje,
aconteceu ontem.
Isso mesmo
ontem ,quando meus alicerces foram balançados de modo díspar.Sabe Diário, essa
história começou há muito tempo atrás, a primeira vez eu era uma mocinha nos
seus onze anos de idade e ele dezesseis ou seja, não ia rolar nunca. Ele era um
moreninho lindo, olhos esverdeados, um rosto bem definido para sua idade e o
carinha mais lindo e popular do colégio, tudo isso contra uma gordinha de
óculos?
Que chances eu tinha?
Embora o W, chamarei assim, namorasse a Musa da
escola, que era uma menina muito legal .eu sentia algo no olhar dele quando me
via.Na minha inocência feminina alguma coisas me dizia que mexia com o gatinho
do colégio.
Mas deixei as coisas como eram. Sabe Diário, às
vezes esse pode ser um dos segredos da vida,irritante segredo confesso.
porém,sim,pode ser um dos tais:Saber deixar as coisas simplesmente como elas são.
Tempo depois,eu tinha treze anos e ele dezoito,o
namoro com a Musa terminara e aquele
sentimento pelo W ainda jazia ali, intocável dentro de mim. Não bulia com ele
Diário, era como fosse sagrado,imaculado,contudo gostava de tê-lo dentro de mim
inda que não compreendesse o motivo. Dei-me o direito de viver outros amores da
idade, mas houve um dia que haveria uma festinha na minha sala e uma colega
veio me contar de que o W fora convidado. E pasmem, fiquei tão apavorada que
acabei não indo.
Dias depois, algumas coisas foram surgindo em minha vida e
por ganhar um prêmio do Estado do Rio de Janeiro já na linha literária, meu
primeiro, aliás, tornei-me a celebridade da escola. Me senti! E por um orgulho
feminino besta, entrei numa de esnoba-lo, aquela coisa sabe:
_Agora quem não te quer sou eu!
E vi tão claro como os raios do Sol que vão se apagando
com nuvens espessas prontas para sucumbir a uma tempestade o rosto dele se
entristecer. Percebi que minha atitude o machucou, o feriu de algum modo.
Agora eu tinha catorze anos e W dezenove, olha como
as coisas nos marcam, lembro daqueles dias numa precisão incrível e não sei
direito o que comi ou falei ontem. Enfim, numa festa municipal daquelas com
direito a bandinha e coreto na praça principal, estava passeando com minhas
amigas e de repente o vi com seus amigos. Rodinha de lá, rodinha de cá e nós dois ali se olhando, se curtindo
daquele jeito que só a boa e velha paquera sabe promover aos corações que se
almejam. Aquele frio na barriga, aquele calor que sobe e friozinho que descem
pela garganta,aquele jeito sem jeito onde a gente não sabe onde por as mãos,
sem saber se está bonita ou não, sem saber o que falar...Quem dos mortais não
passou por isso?
Pois é Diário,e veio o embate, aquele momento que
tudo que tinha que fazer quando nos encontrassemos era devolver o olhar ao W,no
entanto,passei pelo primeiro amigo...O segundo...O terceiro...E ele ...Eu
meramente,num ato de loucura lançei meu olhar para o outro lado,acho que
predominou em mim o orgulho do que o sentimento e me recordo porque nunca me
esqueci a frase que a amigo número dois dele falou quando passei:
_Ela nem olhou para você.
E por anos foi isto. Vivemos na mesma cidade. Ele
casou, teve filhos. Não me casei,ainda, mas tive outros amores,que não foram eternos
entretanto, foram lindos enquanto duraram e minhas sobrinhas que são minhas duas
filhas que amo, educo.
Tudo isto até ontem.Acho.
Precisava demais ir ao médico resolver um assunto e
no consultório conversando, pondo as fofocas em dia, quem entra naquele mesmo
recinto? O W.
A questão é que nos vimos inúmeras vezes depois do colégio,
muitas.Mas acreditem no que vos conto, jamais trocamos uma palavra sobre
nós,sobre aquilo, era como um assunto proibido,nem ele ou eu falávamos como
faço com outros namoricos da adolescência, onde rimos, essas coisas.Entre
nós,jamais houve esse assunto.
Enfim...O W entrou, sentou, ouviu a conversa, até
que restou somente nós dois na sala pois até auxiliar do médico sabe-se lá o
porquê teve um piriri e não saia do banheiro.
E de repente veio a tal música...
Mesmo
que você não caia na minha cantada
Mesmo
que você conheça outro cara
Na
fila de um banco
Um
tal de Fernando
Um
lance, assim
Sem
graça
Mesmo
que vocês fiquem sem se gostar
Mesmo
que vocês casem sem se amar
E
depois de seis meses
Um
olhe pro outro
E
aí, pois é
Sei
lá
Mesmo
que você suporte este casamento
Por
causa dos filhos, por muito tempo
Dez,
vinte, trinta anos
Até
se assustar com os seus cabelos brancos
Um
dia vai sentar numa cadeira de balanço
Vai
lembrar do tempo em que tinha vinte anos
Vai
lembrar de mim e se perguntar
Por
onde esse cara deve estar?
Nem
que já esteja velhinha gagá
Com
noventa, viúva, sozinha
Não
vou me importar
Namorar
no sofá
Nem
que seja além dessa vida
Eu
vou estar
Te
esperando...
E eu que me sentia revolvida por essa música por
outros motivos como citei no início,fui escutando a letra e parecia que ela
contava nossa história.
Ouve silêncio.
Até o rompi e perguntei:
_Como você está?
E para minha surpresa, minha mais absoluta surpresa
o W que hoje é deparado, quase quarentão me respondeu como a canção:
_Te esperando.
Não soube o que dizer.Fico até agora me perguntando
se existe o que ser dito num assombro desses. Ai o médico me chamou e eu
adentrei e quando sai o W não estava mais lá.Achei curioso e indaguei a
atendente se ele havia desistido da
consulta, dei o nome dele e para mim,outra grande revelação, ele não tinha
consulta marcada,pode ser especulação da minha parte,mas acho que o W entrou
ali porque me viu sair do estacionamento que é na frente do comércio dele.Será?
Mas hoje, advinha que música não paro de escutar?
O tempo dirá Diário, o tempo dirá. E se ele nada disser,é porque as coisas deverão ficar exatamente como são.
BEIJOCAS GALERA!
Lindo e Triste! Mas vida que segue.Quem sabe?.....Um dia....
ResponderExcluirBeijos,
Ricardo S de Araujo.
Maria Amélia
ResponderExcluirDanka adoro seu diário, estava com saudades, amei o fato, não acho triste,está mais para um belo recomeço!
Beijos!