Porto Alegre, 01 de março de 2014.
Nicholas... Querido...
Estou me sentindo meio perdida, meio deslocada, sem ter
como entrar em contato, não sei o que aconteceu com você... Por que me deixou,
quem ou o que levou você para longe de mim? Quero entender o que aconteceu,
mas, por mais que eu me esforce não encontro uma explicação para você ter saído
da minha vida, da forma repentina como saiu. Todos os dias quando acordo
pensando em você, e depois de uma noite inteira sonhando com você, meus dias
passam mecanicamente, nada mais tem sentido, o meu dia ficou sombrio, e uma
vontade, não, não é uma vontade, de nada mais fazer. Deitar e esperar... Quem
sabe tudo voltará ao normal, quem sabe você voltará a falar comigo todos os
dias. Eu sinto tanto a sua falta. Continuo esperando uma explicação... Mas
quanto mais eu penso, eu sei que não quero nenhuma explicação, eu só quero
você, você falando comigo todos os dias... Estou aqui me lamentando da falta
que você me faz, a dor que quase me sufoca e fico pensando numa maneira de
estancar essa dor, tira-la de dentro de mim. E me pergunto... Tirar a dor ou
você de dentro de mim? Você é a dor ou o amor que eu sinto é a dor? Estou
ficando desnorteada. Como fui me apaixonar? Sentir esse desejo inebriante que
deixa meu corpo inerte e queimando... E quando você fala, porque você fala comigo,
eu escuto... E você: Diz... Fala... Eu quero! Eu escuto a sua voz sussurrando
em meu ouvido e sua boca tocando levemente meu pescoço e a sua respiração quase
ofegante, o seu desejo... Suas mãos me despindo e acariciando a minha pele, sem
pressa, tocando meu corpo suavemente e a sua boca na minha, sua língua em meus
lábios, que se rendem ao seu desejo e se abrem para você entrar e me inundar de
prazer... Beijo molhado, arrebatador, minhas mãos em suas costas, meus braços
ao redor de seu pescoço e me deixo levar, pelo prazer da sua boca... Nunca mais
parar, sensações invadem meu corpo e sinto o desejo incontrolável de despir
você, arrancar suas roupas e sentir o seu corpo sobre o meu, fazer parar a
fome, saciar o desejo, quero você, não poderei mais ficar sem você, sem seu
corpo, sua língua na minha boca, suas mãos no meu corpo e você dentro de mim...
E sua boca voraz em meu pescoço e no meu rosto, suas mãos apertando meu corpo e
o desejo enfim saciado... Não! Eu quero mais... Quero mais você, e de novo, e
de novo... O desejo de você não vai passar. Quanto mais eu tenho mais eu
quero... Amo-te. Amor... Todos os dias são assim... Eu sonho com você me
amando... E desperto exaurida e saciada, como pode? Como posso sonhar e sentir
tanto prazer com você? Cada pedacinho do meu corpo implora, pelo seu corpo no
meu... E quando eu acordo, eu não vejo nada, eu ligo o notebook e você não está
mais lá, não tem mensagem de bom dia, que me alimentava de alegria para o dia
ser feliz. Eu não entendo. Você fugiu de mim? Não gostou de mim? Eu estava com
muito medo de enviar a fotografia e você não gostar de mim... E se não gostasse
da minha voz? Eu ouvia você falando comigo... É eu estou louca... Louca de amor
por você, por um homem lindo de cabelos castanhos... Que eu nunca vi, que eu
não escuto sua voz falando comigo... Meu olfato não conhece o seu cheiro... Mas
eu imagino... Imagino o perfume da sua pele... O amor tem tantas maneiras de se
manifestar... Danem-se todos que irão dizer que é loucura... Eu amo você...
Quando escuto as suas músicas, elas me levam para os seus braços... E você me
aperta junto ao seu corpo e me olha nos olhos e sorri... E, como vou fazer se
tiver que ficar sem você? Vou viver dos meus sonhos?
Sem nem ao menos um contato? Você não responde meus
e-mails, minhas mensagens. Só me resta agora esta carta, que eu espero que você
leia e me responda, por que me abandonou? Eu não queria nada... Amor... Eu não
queria nada. Meu querido é mentira, eu queria você, eu quero você. Mas eu nunca
tive... O que eu tive com você? Um sentimento arrebatador que tomou conta de
mim quando o conheci... Que foi se alimentando com as nossas conversas no
Facebook, tão perto e tão longe, um oceano imenso nos separa. E as noites
lindas que passamos juntos. Lembra-se? Brincávamos que havíamos passado a noite
juntos, eu com o meu computador e você com o seu, mas mesmo assim eu ouvia a
sua voz... E você me cobrando, cobrando uma revelação. E eu com medo de você
não gostar, ficava... Amor... Nicholas... Você me abandonou porque eu não
confiei em você? Eu que dizia amar-te, não confiava em você? Nicholas...
Amor... Eu fico escrevendo que eu me dei inteira para você. O que você me
pedisse eu daria... Mas eu não dei nada... Palavras, apenas palavras...
Enquanto você precisava que eu confiasse em você. Idiota que eu fui... Você me
deu tudo... Eu olhava para a tela e via você... Lindo, e eu queria te puxar
para mim... E você? Nada podia ver. Apenas uma silhueta negra...
Desconhecida... Ah! Meu amor, eu só precisava enviar uma fotografia e
mostrar-te como eu sou... Lembro que você falou que eu sabia como fazer...
Claro que eu sabia, mas ali você ironizava a minha atitude... Sabia que eu não
faria. Eu não precisava fazer quase nada... Era só enviar uma fotografia... E a
voz, os empecilhos que criei para não instalar o aplicativo... Meu amor... Eu
agora entendo. Perdoe-me. Perdoe-me, eu sei que não adianta mais... E
palavras... Você não quer mais... Palavras soltas... Mas eu não menti em nenhum
momento, me escondi de medo, acho que tive medo de você não gostar de mim. E eu
me sentia protegida com aquela silhueta... Agora percebo o engano, o triste
engano, a falta de confiança é o que existe de pior e sei que nunca vai me
perdoar... E no momento o que posso dizer? Juntar uma fotografia a esta carta e
revelar como sou? Estou me sentindo pequenina, meio disforme, um borrão, estava
tão desesperada que não percebi que a culpa é minha, sentia pena de mim, do meu
pobre coração que chora implorando por você... E a culpa é minha? Como fui tão
cega? Como não entendi o que você tentava me dizer? Era tão fácil, só prestar
atenção nas músicas. Entender o que você dizia... Meu amor! E eu tinha a
pretensão de dizer que era sua amiga... Amigos confiam um no outro. E dentro de
nossas limitações e de quilômetros de distância que nos separam você me deu
tudo... E eu? Nada! E ainda estou com pena de mim, morrendo de compaixão por
mim. Ou deveria sentir raiva, por não ter entendido como era desigual este
amor? Desigual em confiança. Perdoe-me? Sei que não pode fazer. Eu agora sei...
Mas eu te imploro, por favor, leia a minha carta. Por favor, eu preciso que
você saiba que estou arrependida e que entendo o que não fiz... Deixe-me
aplacar a minha dor. Senão não poderei continuar a viver sabendo que além de
ficar sem você, eu ainda te magoei. Perdoe-me... Por favor, leia a minha carta,
não a queime, não a rasgue, apenas leia... Perdoe-me... Com amor Juliana.
Nell Morato (Todos os direitos reservados)
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